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Intimidades indecentes

14 de Outubro de 2016, por José Antônio

Homens... mulheres... e seus segredos invioláveis. Alguns segredos são tão secretos que beiram o ridículo da indecência. São intimidades invioláveis, pois, se não fossem, elas é que violariam os bons costumes.

Uma dessas indecências secretas é aquela roupa estropiada e assustadora que você, em sua intimidade, usa pra dormir. São roupas de dormir... mas tiram o sono de quem vê. Tem cara que dorme com camisa de candidato político já surrada e despencando, além do calção desfiado e quase caindo. Existe mulher que dorme de touca improvisada na cabeça, camisão largão de manga comprida, calça de moletom avessa a qualquer sensualidade e, pra completar o conjunto da obra, meião de futebol pra esquentar os pés.

Porém, é só a gente dormir na casa dos outros que passamos a não ter coragem de assumir nossa indumentária de mendigo da madrugada. E lá vem pijama novinho em folha, só para dar a impressão de que somos elegantes até mesmo na hora de dormir.

Outra intimidade indecente é a tal da meia furada. Essa é cruel: além de atestar a deselegância, denuncia o miserê. Foi o que aconteceu com o meu amigo Leovaldo, grilado como ele só. Leovaldo nasceu angustiado pra viver angustiado até morrer angustiado. Tem mais grilo do que jardim de praça pública.

Pois o Leovaldo foi comprar sapato. Já de cara simpatizou com a atendente, que também simpatizou com o atendido. Cortejos de um lado e sorrisos tímidos do outro. Na hora de experimentar o sapato, o dedão do pé do Leovaldo saiu pelo buraco da meia e entrou no pisante antes que o pé. E a intimidade indecente foi violada.

Acabou o flerte. No final, a moça ainda deu de presente um par de meias para o meu amigo. Disse que era brinde da casa. Mas era ajuda humanitária mesmo. Se a Cinderela calçou o sapatinho pra virar princesa, com o Leovaldo foi o contrário: bastou calçar o sapatinho pra virar gata borralheira.

Até hoje o Leovaldo anda meio grilado de passar em frente à loja:

– Sei lá... eles ainda vão me dar uma cesta básica, eu sei que vão!

Quando eu era pequeno, lembro-me de meus irmãos e eu tendo que deixar a casa em ordem porque iria chegar visita. E aí começávamos a esconder as indecências da casa: alguma camisa em cima do sofá, papéis espalhados na mesa, o gato dormindo no meio da sala... era uma devassa em prol da decência maquiada.

E no inverno? Já pensou se você resolve revelar que tipo de roupa está usando por baixo de tudo? São as famosas roupas de baixo. De baixo nível.

E por falar em roupa de baixo, como não se lembrar da história do Carvalhinho com a Salete? Naquela noite, o Carvalhinho saiu sem esperança alguma e foi beber. Já que não iria rolar nada mesmo, lascou uma cueca avacalhada, daquelas que ele jamais mostraria nem mesmo para um urologista míope. Por sua vez, a Salete também saiu com as amigas, também sem esperança alguma. Tão sem esperança que se enfiou numa calcinha mais monótona e sem graça do que chiclete há quarenta minutos na boca.

Carvalhinho e Salete se conheceram no barzinho. Identificação forte. Tão forte que já foram pra cama naquela noite. Foi aí que as intimidades indecentes foram violadas: na cueca do Carvalhinho estava escrito “O Trombinha”! E a etiqueta da calcinha da Salete mostrava: “Confecções da sacoleira”.

Acabaram se casando. Não sei se é verdade, mas dizem que nas suas indecências íntimas, eles se chamam carinhosamente de “Trombinha & Sacoleira”. Dá até pra pensar numa dupla sertaneja.

Que indecência!

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