Voltar a todos os posts

Rifa

12 de Maio de 2016, por José Antônio

Sorte no jogo, azar no amor... Não sei se é bem assim. Já vi gente ganhando na loteria e vivendo um conto de fadas. Por outro lado, e se o amor for um jogo?

Difícil pensar numa lógica, pelo menos plausível, para essa questão. Como difícil também é a sorte sorrir pra mim na rifa. Não acerto uma. Eu já compro a rifa sabendo que é fundo perdido. Nem olho a data do sorteio. Não vai sair pra mim mesmo...

Quem é sortuda é a Zizica, empregada da minha velha e querida Tia Zenóbia... querida e velha. Pois a Zizica abiscoitou ontem na rifa uma televisão novinha. Pôs lá no seu quarto. Quem sabe?

O sonho da Zizica é casar-se com o Ozório, padeiro aposentado e muito sério. Tímido. Ela já ganhou uma porção de coisas em rifas, mas não usou nada ainda. Está tudo guardado em seu quarto. Um verdadeiro enxoval vindo de números premiados. No entanto, o Ozório mesmo a Zizica não tira, coitada. Mas ela mantém o forno sem esfriar e não deixa para a esperança fermento faltar.

Assim como eu. Não sei se por teimosia ou por burrice ou por uma esperança recôndita que não conheço, sempre acabo comprando uma rifa. Esqueço que não acerto nada. Se bem que, a bem da verdade, eu já ganhei alguns premiozinhos em rifa. Mas é tudo coisa que não tem nada a ver.

Uma vez, fizeram uma rifa só de produtos de limpeza e de higiene. Adivinhe pra quem saíram os trinta rolos de papel higiênico? Ir ao supermercado, pegar os muitos rolos (eram dos mais baratos, os tais “lixinhas”), passar no caixa, explicar a situação com todo mundo olhando, sair empurrando o carrinho com a lotação esgotada, inclusive para a porta dos fundos? Nem fui lá pegar.

Outra vez foi a rifa pra ajudar uma instituição. Ganhei oito mamadeiras e dez bicos.

Lembro-me da Laurinha. Ela com onze anos e eu com treze. Namoro de criança. A única coisa que eu conseguia pagar pra Laurinha era picolé. Eu ficava sem o meu, só podia comprar um. E era pra ela. Fingia que o meu dente doía por causa do gelado. Mas ela sempre me deixava dar uma mordidinha.

Um dia, estavam rifando uma pulseira. Laurinha ficaria linda com ela. Mas como comprar a rifa? Então eu me lembrei que tinha um dinheirinho sobrando de um projeto fracassado de comprar a máscara do Batman. Peguei boa parte dele e comprei a rifa.

Não saiu pra mim.

Acabei contando tudo pra Laurinha, na praça em frente à igreja. Ela olhou enternecida pra mim e, no canto de um de seus olhos, uma lágrima de gratidão se alojou, formando uma gota. Aquela gota brilhou mais do que a pulseira que eu queria dar pra ela. E ganhei um beijinho puro.

Pensava eu que rifa era sigla: Realmente Impossível Fazer Acerto... RIFA! Sei lá... Pra mim, não.

 

Sorte no amor.

Deixe um comentário

Faça o login e deixe seu comentário