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“Assim conheci o Coral Júlia Pardini”

16 de Setembro de 2016, por Rosalvo Pinto

Entre os muitos corais existentes em Belo Horizonte, existe um dos mais antigos e conhecidos, o “Júlia Pardini”. Além de suas atividades musicais, o coral edita um jornal mensal dedicado especialmente à divulgação de suas atividades e, mais interessante, à ligação com corais do Brasil e do exterior. Chama-se “ARRUIA”. À frente deste coral e deste jornal, desde 53 anos, batalha a Maestrina Elza do Val Gomes.

“Tia Elza” – assim é conhecida pelo seu carinhoso nome – é a defensora irredutível da importância do cultivo da música coral, como elemento de desenvolvimento da educação e da cultura na vida das sociedades humanas. Como editora do Arruia é difícil Tia Elza deixar de nele defender suas ideias. Ela lastima sempre a retirada, nas décadas de 1940/50, do currículo que obrigava o estudo da música nas escolas brasileiras. Ela tem saudades do grande arauto dessa ideia, o inesquecível músico, compositor e professor Heitor Villa-Lobos. Eu ainda me lembro da obrigatoriedade do ensino no antigo curso ginasial.

Na edição do Arruia de Julho passado, tive a honra de ser lembrado por Tia Elza quando, em resposta a um artigo que lhe havia enviado. Queria lembrar-me de como havia encontrado o Júlia Pardini na minha vida.

Mas antes, uma historinha. Cheguei no “aspirantado” (seminário) dos salesianos em Janeiro de 1953. Tinha apenas 11 anos. Nos muitos anos de seminário estive sempre ligado à música e o ensino dela era obrigatório. Tempos depois trabalhei com corais (São João del-Rei, Jaciguá (ES) e Santa Bárbara). Quando deixei a congregação salesiana, fui parar em Governador Valadares e logo tratei de me preparar tecnicamente para criar o coral da incipiente universidade daquela cidade.

Em 1972 fui para Ouro Preto, participar do famoso Festival da UFMG (o 6º) inscrito para o curso de regência coral, coordenado pelo inesquecível maestro Carlos Alberto Pinto da Fonseca, com o objetivo de criar um coral na Universidade de Valadares. O curso (de um mês) foi tão bom que, ao seu fim, os alunos “imploraram” à UFMG para dar um segundo curso, em fevereiro, no Conservatório.

E aqui entra na história a minha ligação com o Júlia Pardini. Ao final do curso, todos os participantes tiveram que escolher uma peça para dirigir um coral. Para isso, o maestro Carlos Alberto conseguiu vários corais de BH e a mim coube o Júlia Pardini e a peça a ser regida foi a “Ave Maria” de Tomas Luis de Victoria. Em fins de 1972, levamos o “Ars Nova” (coral da UFMG), do maestro Carlos Alberto e Valadares viu pela primeira vez um coral de alto nível. No processo de implantação da universidade, criamos um Centro de Cultura (Ceart), do qual fui o primeiro diretor.

E tivemos o privilégio de conhecer e receber o Júlia Pardini. Foi uma beleza. Lembro-me de um jovem soprano solista, linda voz. Criei o Coral da Universidade e, após o primeiro recital, fui chamado para trabalhar em Brasília. Continuei acompanhando o Júlia Pardini desde aquela época e desde então não perdi mais o Arruia, a grande ideia da Tia Elza.

Sou muito grato a Tia Elza e me sinto honrado pelos convites que recebi de viajar com o coral, duas vezes na Europa e uma no Chile. (Cito apenas esses dos quais participei, mas o coral já havia participado em outros, na Europa e na América Latina).

Não há nada mais gostoso do que viajar com um coral, aqui no Brasil e sobretudo no exterior, em contato com tantos corais maravilhosos.

Escrevendo este texto no meu escritório, levanto com saudades a cabeça e vejo dois bonitos cartazes: o do II Festival Internacional de Coros Mario Baeza, do Chile, na bela cidade de La Serena e do Corearte 2010, IV Festival Internacional de Coros, em Barcelona, seguido da acolhedora e bela Grenoble, França. Ficando por aqui, não me esqueço da agradável presença do Júlia Pardini em minha terra, Resende Costa, quando o coral se apresentou à noite no salão paroquial e, na Missa da manhã, na matriz de Nossa Senhora da Penha.

Dedicado sempre aos seus corais por muito tempo (53 anos), manteve três corais: o infantil, o juvenil e o adulto. Acredito que o Júlia Pardini está entre os mais antigos e permanentes do Brasil. Parabéns, Tia Elza!

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