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Muito mais do que um carro

12 de Maio de 2016, por Regina Coelho

Quando falam de certas relíquias que têm em casa, Amadeu Coelho (63, advogado), Ézio Henrique (60, comerciante), Rosângela Chaves (61, aposentada) e Paulo Lara (79, promotor de justiça aposentado) se enchem de orgulho. O Voyage LS cinza do Amadeu (1986, comprado na Cacel – SJdR no dia 5 de setembro do mesmo ano), passando pelo Passat Village vermelho do Ézio (1986, também adquirido nos mesmos local e ano), seguindo com a Brasília branca da Rosa (1979, comprada de um irmão há dois anos) e chegando ao Fusca 1300 L marrom do meu tio Paulo (1974, ano de fabricação e de compra, também na Cacel) representam muito na vida dos quatro.

Afirmando ter muito zelo e carinho pelo Voyage, o dono dele gosta de dizer que seu veículo serve para estrada de terra e asfalto. E o que acha melhor nele é o porta-mala bem espaçoso. E mais, por ser de duas portas, não deixa entrar poeira fácil. E mais ainda, nos períodos de troca de óleo, nunca baixa uma gota. Indagado sobre a possibilidade de vendê-lo algum dia, Amadeu responde que por enquanto não tem interesse nisso e só admite tal negócio se for para alguém da família, revelando que tem um sobrinho interessado em comprá-lo. “Lembro-me especialmente da primeira viagem que fiz nele em estrada de terra. Eu e meu pai fomos a Carandaí buscar uma bomba de cisterna”, comenta ele sobre histórias marcantes ligadas ao carro.

Em referência ao seu Passat, Ézio avalia que ele “foi um carro comprado com muito esforço”. E acrescenta que os filhos “cresceram com ele servindo à família”, inclusive na primeira viagem deles à praia e em inúmeras e inesquecíveis viagens a Valadares também. Auxiliado pela Dora (esposa), ele enumera algumas das vezes em que o carro chamou a atenção de pessoas interessadas nele (no Espírito Santo, aqui na cidade e em Viçosa, quando um papel com uma proposta de venda foi deixado no painel do cobiçado Passat). Às vezes admitindo vendê-lo para logo desistir, Ézio é só elogios ao “carrão”, que não tem vazamento de óleo, nunca o deixou na mão e tem motor original.

Um carro espaçoso, essa é a maior qualidade da Brasília da Rosa, para quem, por ter sido de seu pai, na família não se fala em vendê-la. “Para mim ela vale mais que um carro zero”, compara a atual proprietária numa avaliação cheia de estima e saudade pelo que esse carro representa. Um momento particularmente significativo se deu em 2009, por ocasião da última viagem que a Brasília fez para o Morro da Garça (MG), na casa da irmã Tânia, levando até lá os pais (hoje falecidos) e os irmãos Beto e Socorro (falecida em 2010).

Para tio Paulo, seu Fusca representa a compra do primeiro carro zero. Versatilidade e mecânica simples aliadas à capacidade que ele tem de andar em qualquer estrada são qualidades destacadas nele. Desconsiderando vendê-lo algum dia, meu tio destaca o fato de que a Stela (esposa) e seus filhos aprenderam a dirigir usando o valente Fusca, tendo até tirado carteira de motorista usando-o para tal, à época, podendo ser feito o exame em carro próprio. “Ele faz parte da minha história”, declara o responsável pelos 42 anos de tão ilustre presença habitando sua garagem.

Com 290 mil, 180 mil, 97.588 e 184.610 Km rodados, o “Veneno” (Voyage), o “Passatão” (Passat), a “Brasília do vovô Zezé” ou “Brasília do papai” e o “Marronzinho” (Fusca) têm ainda muito combustível para queimar e muita história para “viver”, de preferência, conduzidos por seus devotados donos de sempre.

O Corcel azul do Célio (do Valdemar), o Golf vermelho do Ivan Barbosa e o Fusca bege da Elzi Lara devem ter também um lugar especial na vida de seus donos. O Fusca branco da Coraci Vale idem. Segundo me disseram, ela nem gosta de dirigir outro carro. E um certo Fusquinha bege (1976) não pode ser esquecido. Usado para levar a Irmã Ernestina em suas andanças pela zona rural em busca de prendas para os leilões beneficentes da Santa Casa (sua proprietária), ele e os outros carros aqui citados são um luxo só.

 

   PS: Agradeço ao meu irmão Amadeu a parceria que fizemos na produção do presente artigo.

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