Quando falam de certas relíquias que têm em casa, Amadeu Coelho (63, advogado), Ézio Henrique (60, comerciante), Rosângela Chaves (61, aposentada) e Paulo Lara (79, promotor de justiça aposentado) se enchem de orgulho. O Voyage LS cinza do Amadeu (1986, comprado na Cacel – SJdR no dia 5 de setembro do mesmo ano), passando pelo Passat Village vermelho do Ézio (1986, também adquirido nos mesmos local e ano), seguindo com a Brasília branca da Rosa (1979, comprada de um irmão há dois anos) e chegando ao Fusca 1300 L marrom do meu tio Paulo (1974, ano de fabricação e de compra, também na Cacel) representam muito na vida dos quatro.
Afirmando ter muito zelo e carinho pelo Voyage, o dono dele gosta de dizer que seu veículo serve para estrada de terra e asfalto. E o que acha melhor nele é o porta-mala bem espaçoso. E mais, por ser de duas portas, não deixa entrar poeira fácil. E mais ainda, nos períodos de troca de óleo, nunca baixa uma gota. Indagado sobre a possibilidade de vendê-lo algum dia, Amadeu responde que por enquanto não tem interesse nisso e só admite tal negócio se for para alguém da família, revelando que tem um sobrinho interessado em comprá-lo. “Lembro-me especialmente da primeira viagem que fiz nele em estrada de terra. Eu e meu pai fomos a Carandaí buscar uma bomba de cisterna”, comenta ele sobre histórias marcantes ligadas ao carro.
Em referência ao seu Passat, Ézio avalia que ele “foi um carro comprado com muito esforço”. E acrescenta que os filhos “cresceram com ele servindo à família”, inclusive na primeira viagem deles à praia e em inúmeras e inesquecíveis viagens a Valadares também. Auxiliado pela Dora (esposa), ele enumera algumas das vezes em que o carro chamou a atenção de pessoas interessadas nele (no Espírito Santo, aqui na cidade e em Viçosa, quando um papel com uma proposta de venda foi deixado no painel do cobiçado Passat). Às vezes admitindo vendê-lo para logo desistir, Ézio é só elogios ao “carrão”, que não tem vazamento de óleo, nunca o deixou na mão e tem motor original.
Um carro espaçoso, essa é a maior qualidade da Brasília da Rosa, para quem, por ter sido de seu pai, na família não se fala em vendê-la. “Para mim ela vale mais que um carro zero”, compara a atual proprietária numa avaliação cheia de estima e saudade pelo que esse carro representa. Um momento particularmente significativo se deu em 2009, por ocasião da última viagem que a Brasília fez para o Morro da Garça (MG), na casa da irmã Tânia, levando até lá os pais (hoje falecidos) e os irmãos Beto e Socorro (falecida em 2010).
Para tio Paulo, seu Fusca representa a compra do primeiro carro zero. Versatilidade e mecânica simples aliadas à capacidade que ele tem de andar em qualquer estrada são qualidades destacadas nele. Desconsiderando vendê-lo algum dia, meu tio destaca o fato de que a Stela (esposa) e seus filhos aprenderam a dirigir usando o valente Fusca, tendo até tirado carteira de motorista usando-o para tal, à época, podendo ser feito o exame em carro próprio. “Ele faz parte da minha história”, declara o responsável pelos 42 anos de tão ilustre presença habitando sua garagem.
Com 290 mil, 180 mil, 97.588 e 184.610 Km rodados, o “Veneno” (Voyage), o “Passatão” (Passat), a “Brasília do vovô Zezé” ou “Brasília do papai” e o “Marronzinho” (Fusca) têm ainda muito combustível para queimar e muita história para “viver”, de preferência, conduzidos por seus devotados donos de sempre.
O Corcel azul do Célio (do Valdemar), o Golf vermelho do Ivan Barbosa e o Fusca bege da Elzi Lara devem ter também um lugar especial na vida de seus donos. O Fusca branco da Coraci Vale idem. Segundo me disseram, ela nem gosta de dirigir outro carro. E um certo Fusquinha bege (1976) não pode ser esquecido. Usado para levar a Irmã Ernestina em suas andanças pela zona rural em busca de prendas para os leilões beneficentes da Santa Casa (sua proprietária), ele e os outros carros aqui citados são um luxo só.
PS: Agradeço ao meu irmão Amadeu a parceria que fizemos na produção do presente artigo.