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Cortes e aterros: impactos ambientais

14 de Outubro de 2016, por Instituto Rio Santo Antônio

A superfície do planeta não é totalmente plana. Especificamente em nosso município, aproximadamente 60% das terras são onduladas e 20% são montanhosas. Do mirante das Lajes de Cima, ponto mais alto da cidade, com seus quase 1.140 metros de altitude, pode-se perceber a irregularidade do relevo regional. Estamos numa macrorregião, ou melhor, num domínio morfoclimático denominado de “Mares de Morros”, onde a topografia sinuosa lembra o movimento das ondas do mar. Em termos estéticos, a beleza da paisagem é impar, mas para algumas atividades humanas esse tipo de relevo é um dificultador, tais como: construção de rodovias e ferrovias, urbanização, mecanização na agricultura.

Para se fazer o aplainamento de um terreno são executados cortes e aterros. A terraplenagem é uma operação comum e necessária, especialmente para construção de edificações e de estradas. Infelizmente, também comuns são os impactos ambientais causados por ela, tais como: alteração da estética da paisagem, surgimento de processos erosivos e carreamento de materiais soltos do solo para os cursos d’água. Chamamos de cortes as escavações de solo e desmonte de rochas e de aterro, as deposições e as compactações dos materiais escavados. As áreas de empréstimo são os locais de retirada de materiais e os bota-fora os de acomodação dos solos ou rochas.

Para aprofundarmos um pouco nos problemas ambientais, temos que entender como funciona o solo, local onde acontecem os cortes e os aterros. Pelo senso comum, solo é o local onde pisamos, plantamos e vivemos. Em termos técnicos, é um meio poroso, biologicamente ativo e está sempre se desenvolvendo na superfície terrestre, exceto nos desertos e nas áreas geladas. É um componente fundamental nos ecossistemas terrestres.

A maioria dos solos apresenta uma sucessão de camadas ou horizontes, geralmente paralelos à superfície terrestre, com diferentes características entre si. A partir da superfície, os horizontes principais são: A, B, C e R. O horizonte A é o mais superficial, rico em matéria orgânica e geralmente tem coloração escura. Nesse horizonte está a vida, sendo a base para as plantas. O horizonte B contém pouco material orgânico e mais argilas (as partículas mais finas), geralmente de cor mais avermelhada. O horizonte C é a rocha (Horizonte R) em decomposição, de coloração mais clara, tendendo para rosa. Destaca-se que, às vezes, essa sequência não é tão linear, por exemplo, existem solos sem o horizonte B ou C. Os solos podem ter vários metros de profundidade a alguns centímetros. Se você ficar atento aos cortes das beiras das estradas entenderá melhor a sucessão de camadas no solo: parte superficial escura (horizonte A), parte vermelha logo abaixo (horizonte B) e às vezes chegando à parte mais clara (horizonte C).

Então, a questão é a seguinte: os processos de terraplenagem, com cortes e aterros, geralmente desconsideram esses horizontes e suas propriedades, que demoraram milhares de anos para se constituírem. Primeira observação, após o corte do solo, o horizonte A deve ser novamente recolocado na superfície, ele é que mantém a vida do solo, seja vegetal ou de pequenos animais. Acontece que, como é o primeiro horizonte a ser removido, é também o primeiro a ser enterrado em bota-fora, por exemplo. Portanto, deve-se separar o horizonte A e recolocá-lo novamente sobre a superfície da área de empréstimo e sobre o topo e as bordas do aterro ou bota-fora. Segunda, o solo não deve ficar sem cobertura vegetal, exposto diretamente ao Sol e, principalmente, à chuva. A água transporta o material removido para os cursos d’água provocando assoreamento e degradação dos mesmos. O horizonte C, que possui muito silte (material mais fino que a areia), é extremamente suscetível a esse processo. Além disso, sua ação forma sulcos (buracos) no terreno, que podem evoluir para voçorocas. Terceira, todo corte de terreno ou aterro deve ser revegetado ou coberto após a finalização das obras.

Enfim, o problema mais comum envolvendo solo e terraplenagem são os cortes e os aterros executados sem a devida recuperação do solo local. Então, vale lembrar: o solo não pode ficar sem sua roupa, a cobertura vegetal.

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