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Juca da Samambaia: mais um poeta de Resende Costa

16 de Junho de 2016, por João Magalhães

Em conversa com Evaldo Balbino, soube da existência de um caderno de poesias que ele chegou a ler uma ou outra. Seria de autoria da mãe da minha cunhada Irene, casada com meu irmão Antônio Magalhães. Interessei-me pela notícia. Mais um poeta da nossa Resende Costa?!

Consegui o caderno. Na realidade, porém, são 20 poemas escritos pelo pai da Irene, o Juca da Samambaia, de minhas lembranças, pois cheguei a me encontrar com ele algumas vezes, quando em férias em Resende Costa.

Após uma epígrafe, “Ó morte tú (sic) és ingrata. Saudades de Luiza”, Juca faz a introdução. Ipsis litteris: “Estes versos são escritos por José Egidio da Costa Maia, em 10 de Dezembro de 1940. Data do meu nascimento: 1º de Setembro de 1897 na Fazenda do Retiro, Curralinho, município de Rezende Costa, Minas Gerais. Minha falecida esposa Luiza Maia de Lima, nascida em 7 de Abril de 1907 na Fazenda Vista Alegre no mesmo município além 3 quilômetros da Fazenda do Retiro. Casamento no dia 22 de Julho de 1922 e ela faleceu no dia 10 de Dezembro de 1940, quando comecei a escrever estes versos que seguem”.

Alguém anotou: “Falecéo (sic) Dia 5 Maio 1971 José Egidio Costa Maia”.

Em termos eruditos, o caderno do Juca é uma extensa nênia, que é um canto fúnebre, plangente, choroso, melancólico, ou epicédio, que é uma composição poética em memória de alguém, no caso, sua esposa falecida, Luiza. Quadras, com o 2º verso rimando com o 4º.

Juca compõe os versos sempre numa tonalidade menor. Uma elegia tristonha, lamentosa, depressiva. Os títulos confirmam: “Ó morte tu és ingrata”; “Em horas tristes” “São dias tristes”; “São dias de sofrimento”; “Eu vivo chorando”; “Triste lembrança” “Quinze anos de sofrimento” etc.

A morte de Luiza é um marco indelével que põe Juca de luto até o fim da vida. Escreve 12 anos depois: “O dia dez de dezembro/É um dia assinalado/Morreu minha esposa/E eu fiquei desamparado”. “Neste dia faz doze anos/Que dos trabalhos ela descansou/Morreu com trinta e três anos/Meu coração se apaixonou”. Vejam abaixo outros versos com os respectivos títulos do poema.

Luiza é um fascínio: “Depois que sobre mim pesar a terra/Meu corpo cair espodrificado (sic) /Procurem em meu coração que ainda encontram/O nome dela por extenso bem gravado” (Ó morte tu és ingrata).

Uma Saudade dela, constante e atroz, presente em quase todos os poemas: “Veio a maldita saudade/Prender minha natureza/Toda alegria do mundo/Para mim ainda é tristeza (Minha esposa querida).

Uma obsessividade, digamos assim, terapêutica. Juca, pela escrita, desabafa, faz uma catarse de seus sentimentos, de suas emoções, de seu sofrimento, de suas angústias pela ausência de Luiza. É uma necessidade premente de dialogar com ela, de se declarar para ela, de cultuá-la, sobretudo nos aniversários de seu falecimento.

E também o anseio de encontrá-la: “Meu anjo querido/Lá do céu vem me buscar/Estou viúvo faz 6 anos/Não quero aqui mais ficar”(Ó meu anjo querido).

“Hoje faz sete anos/Que minha esposa morreu/Parece mais de cem anos/Que viúvo estou eu” (Vivo ainda, ó Luiza”).

“Já faz oito anos que de mim desapareceu/Há de vir um dia que a hei de encontrar/Para matar minhas saudades/Que a paixão quer me levar” (Saudades de Luiza).

“Aquela esposa querida/Que á (sic) nove anos me deixou./Foi uma infelicidade/Que minha sorte guiou” (Minha esposa querida).

No 10º ano: “Pensando em minha vida/No lapes(sic) eu peguei/Fui escrever o teu nome/Mais lagrimas(sic) eu derramei” (Não esqueço de ti)

Nos 12 anos, pela fé se conforma: “Que havemos de fazer/Seja tudo que Deus quizer(sic)/Cada um cumpre sua sorte/Vou vivendo como ele quer”(Um dia assinalado)

“Há quatorze anos vivo sofrendo/Meu coração abafado/Minha esposa morreu/Deixou meu coração fechado” (São dias de sofrimento).

Em “Quinze anos de sofrimento” Juca confessa; ”Talvez muitos dirão, este homem foi um louco/ Escreveu tantos versos em quinze anos/ Eu é quem sei de minhas tristezas/O quanto no mundo vivo pensando (penando?).”

“Luiza, hoje faz dezesseis anos/Que a morte te roubou”....” “(d)Os teus cabelos tirei a trança/Não quis contigo deixar/É uma lembrança que tenho/para não mais acabar/. Dos teus pés tirei o molde/Para comigo ficar/O dia da minha morte/É mais fácil eu te encontrar”. (Triste lembrança)

“Meu bem a(sic) 17 anos/Que neste mundo me deixou/Nunca mais tive alegria/Neste mundo enganador/ (Longa esperança)

Em “És (é?) um dia feliz”: “A(sic) 18 anos que vivo só”. “Eu morrendo hei de encontrar/Para eternamente juntos ficar/Esperamos até o fim do mundo/Para junto nós ressucitar(sic)”

 

E no último poema, “A mulher dos meus sonhos”, Juca se despede: ”Há vinte anos que escrevo/Estes versos que aí vêm/Agora não escrevo mais/Esperando a ingrata morte também”.

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