Vinho sem frescura

Vinho e inverno

15 de Julho de 2021, por Amana Castelo Branco 0

Vinho e inverno - perfeita harmonização (foto Amana Castelo Branco)

A reclusão imposta pela pandemia gerou na maioria de nós novos hábitos. Começamos a nos arriscar na cozinha; com isso, passamos a reparar mais nos rótulos dos alimentos, seguir perfis de gastronomia, ler receitas e até trocá-las com os amigos. Voltados à terra, outros se viram de “dedos verdes” e mergulharam no mundo das plantas: as suculentas triunfaram e estão na moda. E puxando a sardinha pro meu lado, vi novos apreciadores de vinho nascerem.

O ficar em casa fez aumentar o consumo de vinho no Brasil. Acredito que, por ser o vinho uma bebida que remete ao aconchego, onde normalmente é degustada em pequenos grupos (e nesse momento, praticamente, em duplas), ele traz um clima mais intimista. Ele relaxa e conforta. Duas sensações tão necessárias no nosso dia a dia pandêmico.

E agora chegamos à estação que é a cara dele: o inverno. Só de sentir esse friozinho enquanto escrevo, já me dá vontade de puxar um cobertor, pegar uma taça e me esquecer do mundo lá fora.

Você já reparou que, após consumir um pouco de vinho, parece que o corpo fica mais quente? Muitas pessoas chegam até a ficar com o rosto mais rosado, principalmente na região das bochechas. Isso acontece por conta da função vasodilatadora da bebida. As vias sanguíneas, que tendem a se contrair nas baixas temperaturas, se dilatam, permitindo a circulação de uma quantidade maior de sangue no corpo, causando a sensação de aquecimento.

Imagino que outra razão para gostarmos tanto de degustá-lo nessa época do ano seja a excelente combinação do vinho com as comidas dessa estação, como as massas, fondues, sopas, queijos, canjiquinha com costelinha, arroz com suã, risotos, pizzas... e por aí vai. Para harmonizar, minha dica é: pratos mais leves, como o espaguete ao molho de tomate, sopas, tábuas de frios vão bem com vinhos mais leves e macios, como os elaborados com as uvas Pinot Noir, Cabernet Franc e Merlot. De médio peso, como a canjiquinha com costelinha, risoto de cogumelos, vão bem com os vinhos feitos com Cabernet Sauvignon, Tempranillo e Monastrell. Os mais pesados e suculentos, como o tradicional churrasco, linguiça com batatas, lasanha de berinjela com queijo curado, uvas que produzem vinhos mais encorpados, como Tannat e Malbec.

Mas a combinação é sua. As dicas de harmonização são para melhor aproveitarmos as características da bebida e do prato. Lembrando que: seu vinho, suas regras.

Outro detalhe que gostaria de dizer é que os outros tipos de vinhos, como os brancos, rosés e espumantes, não ficam de fora nessa estação. Nosso inverno aqui em Minas tende a ser mais seco, com as manhãs e tardes mais frescas, o que combina perfeitamente com esses tipos de vinhos mais leves e delicados. Podemos facilmente harmonizá-los com um strogonoff de frango, legumes assados, salpicão, peixes grelhados e até mesmo uma boa salada de inverno.

Não sei se você sabia, mas Minas Gerais tem produzido excelentes vinhos de inverno, sendo que a colheita acontece nesse momento, diferente da maioria das regiões onde a safra acontece no verão. Já teve a oportunidade de provar? Assim que ficar mais tranquilo de sairmos passeando por aí, aproveite para conhecer alguma vinícola do nosso estado. Tenho certeza de que ficará orgulhoso das nossas produções. Mas enquanto isso não acontece, você pode adquirir alguns desses vinhos e degustá-los na sua casa. Caso precise de ajuda, estou à disposição.

Desejo um inverno bem aconchegante para você e... bora continuar em casa que já, já tudo isso há de passar!

O que é vinho?

15 de Setembro de 2017, por Amana Castelo Branco 0

É difícil saber quando e como ele foi elaborado pela primeira vez. Provavelmente, como a maioria das invenções alimentícias, ele foi descoberto ao acaso: algumas uvas esquecidas em um recipiente começaram a fermentar e algum curioso resolveu experimentar o produto. E gostou do que sentiu. A partir de então muita coisa aconteceu para se chegar nessa bebida tão diversa e apreciada no mundo todo.

Não foi o vinho a bebida que proporcionou as primeiras experiências alcoólicas da humanidade. Talvez apenas para uma pequena parte do Egito Antigo. As primeiras cidades eram produtoras de cereais e seus habitantes logo aprenderam a fazer e tomar cerveja. O vinho era bebida dos privilegiados. Talvez porque as uvas não se adaptavam em qualquer lugar, ou por não ser tão simples de elaborar. Ou até mesmo pelo seu valor elevado, graças à maior quantidade de álcool, e também por provocar sensações mais fortes – até mesmo “divinas” - do que as outras bebidas.

Mas, o que é vinho? Segundo a legislação vitivinícola brasileira, o vinho é exclusivamente a bebida resultante da fermentação alcoólica completa ou parcial da uva fresca, ou do mosto, com um conteúdo de, no mínimo, 7% de álcool.

É durante a “mágica” da fermentação que os açúcares presentes na fruta se transformam, pelo trabalho das leveduras, em álcool. Dependendo do tipo de uva, da variedade da levedura e do vinho que se quer obter, ela pode acontecer em dias ou meses. Aliás, essa é a palavra-chave que aprendi com meu querido professor de viticultura, Eduardo Giovaninni: “depende”. No mundo do vinho, nada é exato. Não existem regras, nem verdade absoluta. Tudo depende. E é isso que o torna tão interessante, intrigante e fascinante a cada gole.

São as uvas que dão início a todo esse processo. E olha que existem mais de 10 mil variedades! Dentro dessas milhares há duas famílias principais, as viníferas e não viníferas. No repertório das não viníferas, existem as uvas americanas, que estão na maioria das roças, quintais e supermercados. Na forma in natura, em suco e nos famosos vinhos de garrafão. Conhecidas também como “uva de mesa” e “vinho de mesa”. Em Minas Gerais as espécies mais cultivadas são a “Niágara Rosada” e a “Niágara Branca”.

Normalmente os vinhos comuns, de mesa, são mais rústicos e o aroma lembra o da uva. Ainda é o vinho mais consumido no Brasil, onde muito de seus consumidores preferem a versão mais suave da bebida.

Já as uvas viníferas são as que fazem o que chamamos de “vinhos finos”, que possuem diversos tipos de aromas (dificilmente o de uva). Têm sabor mais delicado e ao mesmo tempo complexo, inclusive com maior valor no mercado. E é sobre essas uvas e seus vinhos que vamos prosear aqui no jornal na maioria das vezes.   

Existem cerca de 5 mil variedades de uvas viníferas, sendo as mais famosas as tintas Cabernet Sauvignon, Merlot, Malbec, Carmenère, Pinot Noir e Syrah (cada vez mais plantada aqui em Minas Gerais). E as brancas Chardonnay, Sauvignon Blanc e Riesling.

Essa diversidade de uvas resulta em vinhos totalmente distintos. Uma mesma variedade de uva cultivada em locais diferentes, não necessariamente longe um do outro, produz vinhos que não se parecem, em função das diferenças do solo, da altitude, da oferta de água, do manejo, da safra etc.

Experimente beber dois vinhos de lugares diferentes, elaborados com a mesma uva e confronte seus sabores. E lembre-se: o melhor vinho é aquele que você mais gosta!

 Saúde!

Quero que o vinho me aqueça nesse inverno!

10 de Agosto de 2017, por Amana Castelo Branco 0

Nada melhor nesses dias frios do que um vinho para aquecer o corpo e a alma. Se existe uma palavra que para mim define o inverno é “aconchego”.  Comer se torna mais prazeroso e alguns pratos são tão confortantes como um abraço. Nossa casa tende a ser o melhor lugar do mundo (a cama, nem se fala) e os programas ficam mais intimistas. 

Peço desculpas às outras bebidas, mas acredito que a que mais harmoniza com essa estação seja o vinho tinto. Tudo parece favorável para seu consumo, já que combina com as comidas quentes da estação, como as sopas, cozidos, massas, risotos e com vários pratos da nossa gastronomia mineira.

A cor vermelha leva nosso subconsciente a se sentir mais cálido e, já no primeiro gole, começamos a espantar o frio. Isso porque o vinho dilata os vasos sanguíneos, aumentando o fluxo nas artérias, o que provoca a sensação de calor.

Para quem se preocupa com as calorias adquiridas nessa época do ano, tenho uma boa notícia: um estudo realizado na Universidade de Purdue, nos Estados Unidos, mostrou que o vinho tinto pode ajudar a bloquear o crescimento e desenvolvimento das células de gordura, tornando-se um bom artifício para o combate da obesidade. A substância que provoca essa maravilhosa reação é o piceatanol. Ele se liga aos receptores de insulina das células adiposas, que ainda estão livres no organismo e, com isso, impede que elas formem novos depósitos de gordura.

Mas é claro, seu consumo deve ser moderado. Assim, ele não ajudará apenas a manter a boa forma, mas também prevenirá inúmeras doenças, como o Alzheimer, doenças cardiovasculares, alguns tipos de câncer, entre outras. Nada mal quando podemos aliar prazer com saúde, não é mesmo?

Os vinhos tintos são tão diversos, com tantas uvas distintas (Merlot, Cabernet Sauvignon, Pinot Noir, Malbec etc.), elaborados em regiões muito diferentes que você não terá dificuldade em encontrar os que agradarão seu paladar.

Na hora de servir, fique atento à temperatura, para que você possa aproveitar ao máximo do que essa bebida tem a oferecer. O vinho é uma bebida delicada e repleta de nuances. Não existe nada de errado em você beber na temperatura que mais lhe agrade, mas algumas características são perdidas ou exaltadas quando estão longe da ideal.

Temos como regra que o vinho tinto deve ser servido na temperatura ambiente, mas esquecemos muitas vezes de pensar de qual país ou região é essa temperatura, bem como de qual estação.

A temperatura ambiente de que tanto se fala não é a brasileira, mas sim a europeia, que em boa parte do ano não ultrapassa 20 graus, temperatura perto da ideal (de 16 a 18 graus) para degustar os vinhos tintos.

Quando bebemos vinhos acima de 22 graus, nossa percepção do álcool aumenta, fazendo que pareça mais agressivo e alcoólico do que realmente é, escondendo aromas mais delicados. Por outro lado, se estiver gelado demais, perceberemos menos o seu teor de álcool. E, no caso dos vinhos tintos, se deixar muito tempo na geladeira, pode mascarar alguns defeitos da bebida. À medida que sua taça for esquentando você perceberá que aquele vinho não era tão bom quanto parecia.

Obviamente não é necessário ficar com um termômetro medindo precisamente a temperatura. Basta um pouco de atenção, prática e bom senso. Nesses dias mais frios, não precisamos fazer nada, só abrir e curtir. Nos dias quentes, alguns minutos na geladeira e ele atingirá uma boa temperatura, mas cuidado para não deixar gelar demais, sob pena de mascarar suas características.

Se quiser testar as diferentes sensações, na próxima vez que for beber um vinho, prove em diversas temperaturas e faça sua própria comparação!

Saúde!