Abandono de animais: um problema que atinge a saúde pública


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Vanuza Resende0

Cavalos pastando na Praça N. Sra. de Fátima, centro da cidade. Os mesmos animais foram vistos soltos próximos à Capela de Santo Antônio, dez dias depois desta foto ser feita (Foto Vanuza Resende).

Comprar ou adotar um animal não é difícil. Acontece que, na maioria das vezes, o dono de um animal se omite das suas responsabilidades e, com isso, não presta os cuidados necessários. É o caso dos diversos animais soltos nas ruas e praças de Resende Costa. Rafaela Aparecida Ribeiro, aluna do 4° período de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Lavras, fala sobre a conscientização de quem adota ou compra um animal: “Adquirir um animal aparentemente parece ser uma tarefa fácil e além de tudo muito prazerosa. No entanto, é preciso de muita responsabilidade”.

A estudante de veterinária explica que além dos cuidados básicos, como não deixar faltar água e alimento, é necessário cuidado com a saúde do animal. “Eles também necessitam de saúde de qualidade, que vai incluir vacinas, vermífugos e medicamentos necessários. Além disso, eles necessitam de um lar onde vão encontrar carinho.” Para Rafaela, uma das razões para tantos animais estarem soltos em locais inapropriados é a falta de responsabilidade dos donos, que além de cometerem crime estão ajudando na proliferação de doenças. “Os animais indo para as ruas estão desprotegidos e susceptíveis a várias doenças. E essas doenças, algumas vezes, podem acabar sendo transmitidas à população. A saúde da população também irá ser prejudicada, pois ela se torna vulnerável a algumas zoonoses, que podem ser contagiosas”, explica Rafaela.

Marina Mayrinck está em Resende Costa há três anos, moradora do bairro Asfalto,  e fala como é comum a prática de abandono de animais na cidade. “É muito comum o abandono de animais aqui no Asfalto, principalmente de cachorros e gatos, mas já abandonaram até cavalo aqui.” Segundo Marina, um cavalo morreu depois de ser atropelado e o motorista do carro não prestou nenhum socorro. Para que casos parecidos sejam evitados, os moradores do bairro fizeram um abaixo assinado a fim de que um quebra-molas fosse construído no local. Porém, até o fechamento desta edição, os moradores não tiveram nenhum retorno sobre a solicitação.

Como os animais abandonados têm como destino as ruas, a população, em sua maioria, acaba se solidarizando e ajuda no que pode, como relata Marina:  “Mesmo que não pode ceder abrigo, acaba contribuindo do na alimentação. Eu tenho vizinhos que já ajudaram na vacinação e na castração de um desses animais”. Para a moradora do bairro Asfalto, que adotou dois filhotes de gatos abandonados, falta conscientização e cobrança da população ao poder público: “Muitos desses animais que são abandonados têm donos e nem sempre isso acontece por causa de fuga. É o próprio dono que abandona o animal na rua. Eu acho que deve haver uma campanha de conscientização quanto a isso”, diz Marina.

A prefeitura informou que “de acordo com o código de posturas é necessário notificar o proprietário, dar um prazo de seis dias e caso o animal não seja recolhido da via pública a prefeitura faz a apreensão. Isso é uma situação que tem acontecido e está surtindo efeito. Ultimamente, a incidência de animais soltos nas ruas de Resende Costa reduziu muito.” A prefeitura acrescentou que não existe na cidade um local apropriado para recolher os animais apreendidos, devido à “complexidade e o alto custo para manutenção” desse espaço. De acordo com a prefeitura, quando ocorrem apreensões os animais são levados para o parque de exposição. As denúncias de animais abandonados devem ser encaminhadas ao setor de epidemiologia.

 

Cavalgadas

Numa época do ano em que as cavalgadas estão em destaque nos calendários das festas da cidade, é preciso cuidado e atenção redobrados com os animais, conforme explica a estudante de veterinária Rafaela: “Em Resende Costa, temos cavalgadas que fazem parte da história da cidade e já se tornaram tradição. Quem conhece sabe que é um momento de muita descontração e alegria. Porém, o nosso divertimento não pode ser abusivo a ponto de prejudicar a saúde do animal, que é fundamental para que a cavalgada ocorra”.

Quando se vai submeter os equinos a longos percursos, vale ouvir algumas dicas da estudante de veterinária: “Primeiramente os cascos devem estar saudáveis e aptos para a realização do trajeto previsto, pois são fundamentais para o andamento e além de tudo proporcionam uma comodidade maior para quem está montando. Os equinos têm uma audição muito apurada e muito sensível, portanto evite deixar os animais perto de carros de som ou onde se soltam fogos, para que não se prejudique a sua função auditiva. Ao chegar da cavalgada, solte os animais em locais apropriados, onde eles possam descansar e relaxar, forneça água e alimento, mas não de imediato. O metabolismo do animal vai estar acelerado e a sua temperatura corporal torna-se elevada. O correto é aguardar um tempo para que se evite distúrbios intestinais, como as cólicas, que é muito comum nas cavalgadas. Como irá ocorrer uma concentração de equídeos em um mesmo local, é de extrema importância que seu animal esteja devidamente vacinado e com a saúde em perfeito estado. Evitando, assim, disseminação de doenças”.

Visando a uma solução ao longo prazo, o governo municipal está apoiando as castrações, com preços populares, de cães e gatos. A prefeitura acredita que trata-se de uma solução viável e que colabora para que não exista mais animais soltos. Mas para isso é necessário a ajuda da população. “Precisamos trabalhar a consciência das pessoas, não vejo possibilidade da prefeitura manter um local apropriado para cuidar desses animais, isso seria extremamente inviável. O que realmente funciona é o trabalho voluntário das pessoas que acolhem os animais de forma solidária, exemplo do RC animais. Talvez a única solução viável seria fazer um trabalho consorciado com outros municípios da região, informou em nota a prefeitura”.     

“Muitas pessoas acabam envenenando os animais que estão nas ruas. Eu acho isso é de uma crueldade imensa. Acho que as pessoas deveriam se conscientizar um pouco mais, que são vidas!”, disse, indignada, Marina Mayrinck.

A estudante de veterinária Rafaela Ribeiro conclui, deixando um recado aos interessados em adotar ou comprar um animal: “Ao adquirir um animal, você também adquire muitas responsabilidades. Então, se comprometa com ele até o fim da vida do seu companheiro”.

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