Belmonte, terra de Pedro Álvares Cabral, respirou cultura brasileira em Abril e Maio


Cultura

José Venâncio de Resende, de Belmonte/Lisboa0

Este repórter com Laurentino Gomes em Belmonte

“Belmonte, terra do descobridor Pedro Álvares Cabral”, é assim que esta simpática cidade gostaria de ser conhecida no imaginário brasileiro. E também visitada. Nos meses de Abril e Maio deste ano, Belmonte respirou cultura brasileira, com a realização da primeira “Semana do Brasil” e a palestra do jornalista e escritor Laurentino Gomes ( em Portugal para a “Viagem Literária” de lançamento do seu livro 1889 publicado pela Porto Editora). Resende Costa também marcou presença no evento.

“Meus conterrâneos de Belmonte!” Foi com esta frase do ex-presidente Juscelino Kubitschek, pronunciada em 1963 quando visitou aquela cidade como senador por Goiás, que Laurentino Gomes iniciou a sua palestra, na noite de 26 de Maio na Biblioteca Municipal, sobre a trilogia 1808, 1822 e 1889, que aborda períodos marcantes da história do Brasil. Apesar do roteiro apertado de eventos estabelecido pela Porto Editora, Laurentino aceitou o convite para visitar Belmonte.

Depois de ouvir do jornalista e historiador José Levy Domingos a revelação, Laurentino refletiu sobre o discurso de JK e concluiu que fazia sentido. O que garante o selo de identidade às pessoas é a história, disse. “Por esta perspectiva histórica, nós somos conterrâneos.” Laurentino admitiu que ficou fascinado com o gesto da comunidade de Belmonte de se aproximar do Brasil. “Por isso, eu também os chamo de meus conterrâneos.”

O escritor achou Belmonte “uma cápsula de Brasil em Portugal e na Europa”. Lembrou que, não apenas Cabral, mas também os judeus tem importância histórica para o Brasil. Por isso, acha que nosso País deveria responder prontamente ao esforço de Belmonte. “No que estiver ao meu alcance, vou contribuir para isso.”

Interesse pela história

Para Laurentino, o maior interesse popular pela história nos nossos tempos acontece porque “o mundo ficou pasteurizado” com a globalização. A consequente homogeneização da cultura incentivou as pessoas a buscarem sua identidade. Além disso, no caso brasileiro, começamos a colher os frutos dos últimos 30 anos de democracia, com o país se transformando muito rapidamente. Nesse ambiente, o país começa a exercer uma nova prática política, na qual estudar história se tornou fundamental.  Em resumo, além de conferir identidade, a história é também fonte de formação de cidadania.

Mesmo reconhecendo a importância histórica da chegada de Pedro Álvares Cabral ao Brasil, Laurentino optou por escrever seu primeiro livro sobre 1808 porque “o código genético do brasileiro começa a ser identificado aí. Até então, o Brasil era uma grande fazenda de Portugal, marcado pelo analfabetismo, pela escravidão e por muita rivalidade”.

Segundo o escritor, várias Américas portuguesas se comunicavam muito precariamente. D. João levou para o Brasil a elite portuguesa, que começou a transformar o País muito rapidamente. Iniciou-se assim “um processo civilizador dos trópicos” que levou a uma redescoberta do Brasil.

Sobre o seu novo livro, Laurentino citou uma coincidência histórica curiosa. No dia 15 de Novembro de 1889, enquanto o Brasil se tornava uma República, nascia em Lisboa D. Manuel II, aquele que seria o último rei de Portugal.

Sobre a trilogia concluída com 1889, o autor decidiu não continuar a série por acha que ela tem uma identidade gráfica e editorial que precisa ser preservada. Por isso, decidiu escolher a escravidão como tema dos seus próximos três livros. Laurentino considera que talvez este seja o tema mais importante do Brasil por causa da nossa forte herança portuguesa e africana.

Apesar do pessimismo hoje existente no Brasil, Laurentino acredita que há razões para otimismo, partindo-se de uma perspectiva histórica.

Doações

O escritor brasileiro doou exemplares da sua trilogia à Biblioteca Municipal de Belmonte. Esta Biblioteca tem uma das melhores seções de livros brasileiros em Portugal.

Já este repórter entregou à vereadora Sofia Fernandes, vice-presidente da Câmara Municipal de Belmonte, um exemplar de tapetinho típico de Resende Costa (Minas Gerais) para o acervo do Museu dos Descobrimentos. A peça foi produzida pela artesã Marileia Mendonça e pintada por Silvio Ramos.

O tapetinho é um dos produtos tecido, artesanalmente, em tear manual com sobras de retalhos da indústria têxtil. A ideia é que este seja o embrião de uma exposição de artesanato brasileiro no Museu dos Descobrimentos.

Durante pouco mais de um dia em Belmonte (cidade localizada na Beira Interior de Portugal), Laurentino e a esposa Carmen visitaram o Castelo onde nasceu Pedro Álvares Cabral, o mausoléu dos Cabrais, a igreja matriz onde se encontra a imagem de Nossa Senhora da Boa Esperança (que acompanhou Cabral ao Brasil) e os Museus dos Descobrimentos e Judaico.

Semana do Brasil

Entre 19 e 26 de Abril, aconteceu em Belmonte a primeira Semana do Brasil, que difundiu usos, costumes, cultura, tradições, música e artesanato do nosso País. A ideia do evento foi do jornalista e historiador José Levy Domingos e a organização foi da Câmara Municipal de Belmonte e da Empresa Municipal de Promoção e Desenvolvimento Social (EMPDS).

O “Dia da Comunidade Luso-Brasileira” foi celebrado em 22 de abril, em solenidade presidida pelo secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Cesário. Também estavam presentes Antônio Dias Rocha, presidente da Câmara Municipal de Belmonte; Paulo Borralhinho, presidente da Assembleia Municipal; Rejane Silva, presidente do Conselho de Cidadãs e Cidadãos junto ao Consulado Geral do Brasil em Lisboa; Pedro Machado, presidente da Região de Turismo do Centro; e Laercio Silva, representante da Prefeitura Municipal de Porto Seguro (Bahia). Representava os índios uma família Pataxó da reserva indígena de Caraiva (Porto Seguro), constituída por Raoni, sua esposa Camini, a filha KwanayHê e Apurina Ferreira.

De modo geral, os presentes defenderam o reforço da amizade e cooperação luso-brasileira, que passa por Belmonte, e a valorização da Língua Portuguesa, falada por cerca de 250 milhões de pessoas em todo o mundo e de importância crescente nas relações econômicas internacionais. José Cesário previu que esse número ultrapasse os 300 milhões de falantes em pouco tempo.

José Cesário inaugurou, no Museu dos Descobrimentos, uma exposição de trabalhos artísticos que refletiam a visão da comunidade escolar local sobre o Brasil. Crianças do Concelho de Belmonte literalmente pintaram o Brasil. Composições imaginativas com reutilização de material (reciclagem), pinturas e desenhos que evocaram o descobrimento (ou “achamento”), as caravelas e naus de Cabral, a vida indígena, o Cristo Redentor, enfim, vários foram os motivos escolhidos pelos alunos para representar o Brasil e a amizade luso-brasileira.
O secretario José Cesário também visitou a Mostra de Artesanato do Brasil, instalada na sala de Exposição dos antigos Paços do Concelho de Belmonte (Largo do Pelourinho). Destaque para o artesanato indígena (pedras, rendas, pinturas e esculturas/imagens, além de outros artefatos e peças).

No dia 26, o presidente da Câmara Municipal de Belmonte, Antônio Dias Rocha, e o vice-prefeito de Ouro Preto (Minas Gerais), Francisco Rocha Gonçalves, assinaram, em sessão solene nos Paços do Concelho, o acordo que tornou os dois municípios “cidades-irmãs ou geminadas”. A solenidade foi presidida pelo Embaixador do Brasil em Portugal, Mário Vilalva, que esteve acompanhado do Cônsul-Geral do Brasil em Lisboa, Rui Casaes.

Houve ainda muita história, literatura e poesia. No EcoMuseu do Zêzere, o escritor, investigador, romancista e historiador Manuel Marques partilhou a sessão com o escritor baiano Carleone Filho. Falaram de Cabral e do Brasil na literatura da comunidade luso-brasileira. O jornalista José Levy sustentou a necessidade de Belmonte se afirmar no Brasil em termos culturais, através dos seus valores literários, mas também no âmbito social, de forma a se tornar conhecida como a terra de nascimento de Pedro Álvares Cabral.

José Levy lembrou ainda que os primeiros judeus chegaram ao Brasil na armada de Cabral e que os cristãos-novos (de fato, judeus secretos) tiveram contribuição relevante na construção da nação brasileira.

LINKS RELACIONADOS:

Todas as fotos e informações sobre a visita de Laurentino Gomes e a Semana do Brasil em Belmonte estão disponíveis em:

https://www.facebook.com/jose.l.domingos/photos?pnref=lhc

Visita ao Museu dos Descobrimentos:

https://www.facebook.com/jose.l.domingos/media_set?set=a.10203583752986199.1073742056.1586665454&type=1

Visita ao Castelo onde nasceu Cabral:

https://www.facebook.com/jose.l.domingos/media_set?set=a.10203571257433818.1073742054.1586665454&type=1&pnref=story

Visita ao Museu Judaico:

https://www.facebook.com/jose.l.domingos/media_set?set=a.10203570623497970.1073742053.1586665454&type=1&pnref=story

Visita ao monumento a Pedro Álvares Cabral:

https://www.facebook.com/jose.l.domingos/media_set?set=a.10203583822027925.1073742057.1586665454&type=3

Entrega do tapetinho de Resende Costa à vice-presidente da Câmara Municipal:

https://www.facebook.com/jose.l.domingos/media_set?set=a.10203571595122260.1073742055.1586665454&type=1&pnref=story

Belmonte recordando a visita do escritor Laurentino Gomes:

https://www.facebook.com/jose.l.domingos/media_set?set=a.10203614508275062.1073742059.1586665454&type=1

Como as crianças de Belmonte vêem o Brasil:

https://www.facebook.com/jose.l.domingos/media_set?set=a.10203471932710762.1073742041.1586665454&type=3

Assinatura do Acordo de cidades-irmãs entre Belmonte e Ouro Preto:

https://www.facebook.com/jose.l.domingos/media_set?set=a.10203425308585188.1073742020.1586665454&type=3

Mais informações sobre Belmonte podem ser encontradas em:

http://www.jornaldaslajes.com.br/integra/belmonte-terra-de-cabral-propoe-acordo-de-cooperacao-entre-portugal-e-brasil/1499/

 

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