Em 1990, cavaleiros partiram pela primeira vez de Passa Tempo refazendo trajeto de antigos tropeiros
Há 25 anos, aproximadamente 60 cavaleiros e amazonas partiram da cidade de Passa Tempo com destino a Resende Costa para a abertura da Exposição Agropecuária de Resende Costa. Desta turma, seis eram resende-costenses: Aldemir Aarão, Adelmar Aarão, Cláudio Roberto Resende, Suzana Margarete Resende, Jane Resende e Gabriel Monteiro. Nascia, assim, a Cavalgada Bolivar de Andrade, que recebeu esse nome em homenagem ao renomado pecuarista de Passa Tempo e teve como proposta, além de estreitar os laços de amizade entre os dois municípios vizinhos, “lembrar o caminho que os antigos tropeiros faziam entre Passa Tempo e São João del-Rei, passando por Resende Costa”, explicou Aldemir Aarão, que participou de todas as edições da Cavalgada Bolivar de Andrade.
O fascínio de andar a cavalo passando por matas, trilhas, fazendas e vislumbrando paisagens exuberantes vem atraindo muitas pessoas e fazendo aumentar a cada ano o número de participantes da Bolivar de Andrade. De acordo com Mauro Sousa Pinto, presidente do Clube dos Cavaleiros de Resende Costa, neste ano aproximadamente 600 cavaleiros chegaram a Resende Costa, na quinta-feira, 16 de julho, para a abertura da 36ª Exposição Agropecuária. “No povoado do Cajuru foram servidos 800 cafés da manhã, patrocinados pela organização”, informou Mauro. De acordo com ele, não tem como precisar o número exato de participantes, pois, muitos chegam atrasados a Resende Costa.
Aldemir Aarão atribui o número expressivo de participantes à propaganda feita por pessoas que participam pela primeira vez: “Um amigo vai, gosta, fala para outro amigo que é bom e com isso vai contagiando, disseminando...”.
Preparação e atrativos
A preparação para a cavalgada começa alguns meses antes, com os participantes se organizando em comitivas, contatando caminhões para o transporte dos animais até Passa Tempo, procurando lugares para o pernoite no povoado do Cajuru e, o mais importante, preparando os animais. Para suportar o trajeto, os cavalos precisam estar bem preparados. Mas nem todas as pessoas cuidam devidamente dos animais: “Tem gente que infelizmente não preserva a integridade física do animal, não sabe que ele sente dor, cansaço e que precisa de cuidados”, diz Aldemir Aarão.
São dois dias de viagem até o destino final. Os cavaleiros partem de Passa Tempo na manhã de quarta-feira, à tarde chegam ao Cajuru e na manhã de quinta-feira inicia-se o segundo dia de viagem rumo a Resende Costa. No trajeto de cerca de 60 quilômetros, a cavalgada se transforma numa verdadeira festa. Amizades se iniciam entre um gole e outro da tradicional cachaça e um bom tira-gosto, transportados no alforje da sela; surgem também bons papos, companheirismo e partilha de uma mesma paixão: andar a cavalo.
O programa não é exclusivo somente para quem já possui o hábito de andar a cavalo, ou que vive o dia-a-dia do meio rural. A cavalgada é formada também por pessoas que apenas curtem a cultura sertaneja e gostam de andar a cavalo. Há inclusive aqueles que vão de carona nas carrocerias dos caminhões e caminhonetes. É a “turma do apoio”, que de uns anos para cá tem feito uma festa à parte, dando suporte aos cavaleiros e animando ainda mais a cavalgada.
Organização
As primeiras edições da Cavalgada Bolivar de Andrade contaram com organização diferente. Todos os participantes tinham de fazer inscrição, recebiam crachás e tíquetes de alimentação que valiam para todo o trajeto. Em Passa Tempo acontecia a solenidade da saída da cavalgada, com discursos de autoridades dos dois municípios e execução do Hino Nacional. Durante o trajeto nenhum cavaleiro ousava ultrapassar o ponteiro da cavalgada, o sô David do Ciro. O sô David e seus companheiros conduziam os cavaleiros com experiência e mestria, cortando planícies e estradões.
A chegada a Resende Costa também era solene. Durante um belo e organizado desfile pelas ruas da cidade, os cavaleiros eram calorosamente recebidos pelas pessoas que se aglomeravam nas calçadas. No Parque do Campo, todos recebiam um certificado de participação e à noite saboreavam uma deliciosa feijoada.
Devido, sobretudo, ao grande número de participantes e ao surgimento de diversas comitivas, tornou-se praticamente impossível organizar a cavalgada tal como ocorria nos anos iniciais. Com isso, lamentavelmente, abriu-se a possibilidade para algumas pessoas que participam unicamente com o intuito de promover bagunças. “Tem essa parte ruim, que são aquelas pessoas que vão somente para bagunçar e fazer vandalismo. Pessoas que maltratam os animais, não têm consciência de que ao passar pelas propriedades não devem depredá-las, colocar fogo no pasto...”, lamenta Aldemir. Para ele, “é preciso voltar à essência da cavalgada”.
Atrativo turístico
Quando se pensa em atrativos turísticos em Resende Costa, não tem como ignorar as cavalgadas. O programa atrai não somente os resende-costenses, mas também pessoas de outras cidades que se preparam para vir a Resende Costa nesta época do ano, a fim de participar das cavalgadas. A Bolivar de Andrade é a maior e a mais tradicional delas. Além dela, existem outras que fazem parte da programação das festas rurais e as cavalgadas organizadas pelo Clube dos Cavaleiros em algumas datas do ano.
Para aqueles que curtem andar a cavalo, cultivando um bom bate-papo e contemplando a natureza, Resende Costa é o lugar certo e a Bolivar de Andrade é imperdível. Para quem ainda não teve essa ótima experiência, programe-se para participar de uma cavalgada.