Centro de Convenções de São João del-Rei: nasce um elefante branco?


Economia

José Venâncio de Resende0

Novo centro de convenções, na Vila São Paulo, ao lado do IFET e do Parque de Exposição

Expominas São João del-Rei! Os números do novo centro de convenções impressionam para uma cidade do porte de São João del-Rei. Um complexo de 10.000 m2 de área construída num terreno de 49.000 m2, auditório climatizado para 1.000 pessoas, área de exposição livre de 3.600 m2 (três pavilhões de 1.200 m2 cada), restaurante e estacionamento para 800 veículos.

Em novembro de 2013, a Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemig) deu início às obras desse centro de convenções. Com 76% da obra concluídos e previsão de término este ano, o custo estimado pela empresa é da ordem de R$80 milhões.

Empresários ouvidos por este repórter temem que esteja nascendo um elefante branco. Perguntam qual será o primeiro evento de grande porte a ser realizado? Que tipos de eventos serão realizados? Há demanda na região para um centro deste porte? Como serão trazidos os grandes eventos? Qual será o custo de manutenção (luz, água, limpeza, funcionários)? Vai gerar receita suficiente para cobrir este custo?

Se a construção está em marcha lenta, na dependência de repasse de recursos, o “trabalho estrutural” – de prospecção de demanda – está mais atrasado ainda, disse um importante líder empresarial.

A Codemig trabalha com planejamento para atrair eventos e, consequentemente, o desenvolvimento regional para os locais que possuem centro de convenções, informa a assessoria de comunicação da empresa. Ao lado das outras unidades (Belo Horizonte, Juiz de Fora, Teófilo Otoni e Araxá), “o empreendimento de São João del-Rei contribuirá para o fomento ao turismo de negócios e eventos na cidade e na região”, entre eles a “indústria criativa, por meio da otimização da utilização dos espaços Expominas, por exemplo”.

Ainda segundo a Codemig, “o Expominas São João del-Rei, cidade de significativa relevância histórica e sociocultural, concorrerá para que o setor turístico em Minas Gerais continue a ser um grande negócio, que gera renda, trabalho e bem-estar social”.

Histórico

Tudo começou em 2008 quando a Associação de Hoteis e Pousadas de São João del-Rei procurou a arquiteta Zuleica Lombardi e sua sócia Kivia Costa. A presidente da Associação Nilza Affonso Alvarenga pediu um projeto para um Centro de Convenções com o objetivo de promover a cidade e retirar os eventos que acontecem no centro histórico e causam transtorno à população.

Nilza comprometia-se a doar um terreno de 30 mil m2 para a construção na saída do Tijuco, próximo ao trevo da BR que liga São João a Lavras, conta Zuleica. “Nós estudamos muito, pesquisamos os ExpoMinas de Belo Horizonte e de Juiz de Fora e vários outros centros de convenções para apresentar a primeira proposta que atendesse São João del-Rei e Tiradentes.”

Durante várias reuniões, foram discutidas variáveis como capacidade do Centro, infraestrutura, número de leitos (pousadas e hoteis), acessos terrestre e aéreo e a ligação dos serviços do Centro com o turismo local. “Em muitos eventos, os participantes trazem junto as famílias que aproveitam para fazer turismo.”

Depois de intenso estudo, as arquitetas chegaram à conclusão de que o ideal seria um auditório para 1200 pessoas, além de dois galpões multiuso (exposições, feiras, etc.), espaço para carros e ônibus e a parte das oficinas (que se subdividia em salas menores para atender usos simultâneos). Em resumo, constaria de recepção (coffee break) e de espaços para palestras gerais, aulas especializadas e expositores.

Além das convenções, foi solicitado que esse espaço atendesse a festas locais, feiras, shows, formaturas, casamentos etc. “Um projeto que fosse muito dinâmico, que tivesse capacidade para se subdividir e atender diferentes necessidades.”

Identidade

O novo Centro de Convenções deveria apresentar referências locais que fortalecessem a imagem de cidade turística, explica Zuleica. Daí a ideia de se utilizar três fios condutores: o sino, a maria fumaça e as palmeiras da frente da igreja São Francisco. “Os trilhos do trem seriam o grande elo de ligação entre esses ambientes. Usamos as palmeiras para fazer um grande adro. O sino aparecia na fachada e como logomarca.”

O anteprojeto foi concluído com “uma arquitetura moderna, integrada à paisagem local, com implantação discreta e contextualizada”, e apresentado à comissão da Associação de Hoteis e Pousadas e alguns convidados. Na segunda reunião, compareceu a Associação Comercial e Industrial de São João del-Rei (ACI del-Rei) que se interessou pelo projeto e propôs ajudar a tirá-lo do papel, relata Zuleica. “A intenção era ótima.”

No entanto, a ACI del-Rei não gostou da localização, temendo o mesmo erro da Expominas de Juiz de Fora. Então, envolveu-se a prefeitura na busca de outro local que em princípio seria um terreno em frente à Fundação Bradesco. Mas o terreno foi descartado por estar na divisa dos dois municípios, sendo uma parte de propriedade de Santa Cruz de Minas.

Então, apareceu o terreno ao lado do IFET (Instituto Federal Sudeste de Minas Gerais - Campus São João del-Rei). Ficou decidido que a prefeitura faria a doação do terreno e, em conjunto com a ACI del-Rei, seria a gestora do centro de convenções. “Aí começamos a adaptar a ideia inicial a este novo local”, diz Zuleica.

Novo projeto

O projeto ganhou novas proporções, inclusive a capacidade foi para 1800 pessoas. “Fizemos novo projeto para este terreno, mas mantivemos os conceitos e as características originais”, observa Zuleica. A área do auditório foi separada das partes dos galpões e das salas multiuso. O estacionamento ocupava áreas coberta e descoberta e ainda havia a parte de logística (carga e descarga, montagem, local de equipamentos etc.).

O novo projeto foi apresentado pelas arquitetas para uma grande comissão na ACI del-Rei, com a presença da própria entidade, da Associação de Hoteis e Pousadas e representantes da prefeitura e da UFSJ (Universidade Federal de São João del-Rei). “Fomos convidadas para apresentar o projeto num grande evento na UFSJ. Começou então um grande movimento para tirar o projeto do papel.”
Foi quando entrou em cena a Codemig. “Fomos convidados a apresentar o projeto em Belo Horizonte e eles quiseram abraçar a causa”, conta Zuleica.

Fator político

O projeto original foi substituído pelo modelo Expominas. “Eles pediram para adequarmos o projeto às características que consideravam necessárias”, relata a arquiteta.

O novo projeto ocupava uma área total de 40 mil a 50 mil m2; área construída de 10.300 m2; três pavilhões (cada um com 3.300 m2); teatro fixo para 1000 pessoas; estacionamento com capacidade para 1000 vagas e praça de alimentação com 320 lugares.

Em 15 de Abril de 2009, Zuleica e sua sócia foram convidadas a ir a Belo Horizonte para apresentar o projeto final ao governo de Minas - através de Andrea Neves, irmã de Aécio Neves. Nesta palestra, as arquitetas chegaram a fazer um paralelo entre o novo projeto e os Expominas de Belo Horizonte, Juiz de Fora e Araxá.

O novo centro de convenções de São João del-Rei seria equivalente ao de Araxá, com uma planilha de custos inicialmente estimada em R$ 8,1 milhões (não incluía a construção).

Pronto o projeto, a Codemig exigiu que as arquitetas participassem de uma licitação para escolher a “melhor proposta”. “Então, no final de 2010, entregamos o envelope com o custo do projeto arquitetônico.”

A surpresa

As empresas que construíram os centros de convenções de Juiz de Fora e de Araxá participaram da licitação do projeto arquitetônico, conta Zuleica. Durante cerca de quatro meses, a arquiteta não conseguiu qualquer contato com a Codemig em BH para saber o resultado da licitação. “A Codemig começou a fugir da gente.”

Em 26 de Abril de 2011, o diretor de Obras da Codemig, Luiz Augusto de Barros, veio a São João del-Rei para apresentar o vencedor da licitação do projeto arquitetônico do centro de convenções. A reunião foi no auditório da ACI del-Rei e Zuleica Lombardi foi convidada.

Estavam presentes o secretário de Planejamento do Município, José Egídio de Carvalho (representando o prefeito Nivaldo Andrade); o então deputado estadual Rômulo Viegas; a presidente da Associação de Hoteis e Pousadas, Nilza Alvarenga; e o presidente da ACI del-Rei, João Afonso Farias, entre outros convidados.

Um dia antes, Zuleica havia participado de programa na Rádio Vertentes para falar sobre o projeto do centro de convenções. Também a TV Campos de Minas já havia divulgado o projeto.

Foi neste clima que o dirigente da Codemig anunciou, na reunião, que já tinha um projeto vencedor. “Mas esse não é o meu projeto”, reagiu Zuleica. “Você perdeu a licitação”, respondeu o diretor da estatal.

Constrangimento

Zuleica pediu licença e disse que se retiraria da reunião porque não tinha mais nada a fazer ali. Não houve qualquer manifestação de apoio entre os presentes.

Como se nada tivesse acontecido, todos aplaudiram o anúncio do projeto vencedor, que foi o da mesma empresa que construíra o Expominas de Araxá. Na ocasião, o diretor da Codemig também anunciou investimento de R$ 30 milhões para a construção da obra.
Numa visão retrospectiva, Zuleica se diz “aliviada” por não ter ganho esta licitação. “A gente sabe como são essas obras públicas!”

Além disso, “o projeto vencedor não tem identidade com São João del-Rei. Ficou superdimensionado e cometeram o mesmo erro do Expominas de Juiz de Fora, que é tudo o que eles não queriam. Não ficou uma coisa harmônica, não soube comunicar com o ambiente onde está. Poderia estar em qualquer lugar (cidade)”.

Este é um caso típico de como, muitas vezes, a política chega a ser cruel, desumana, com as pessoas. Será que deveria ser assim?

Custo

Em Setembro de 2013, a Gazeta de São João del-Rei divulgou que o processo licitatório para as obras do Expominas da cidade fora reaberto pelo Governo do Estado. “Agora, as empresas interessadas em assumir a empreitada e que se enquadram nos requisitos apontados pela Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemig) têm até a segunda semana de Outubro para se inscrever. Os envelopes com as propostas serão abertos no dia 18 e, escolhida a organização responsável pelas obras orçadas em R$ 72 milhões, a construção do empreendimento deverá ser iniciada, gerando 400 empregos diretos nessa fase.”

Em Janeiro de 2014, o jornal O Tempo, de Belo Horizonte, divulgou que a obra estava prevista “para começar ainda neste mês, com previsão de terminar em Junho de 2015”. A responsável pela obra era a construtora Mello Azevedo, com 70 anos de atuação no ramo.     

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