“As vibrações colocam as construções em perigo devido ao movimento induzido nas suas bases”, conclui o estudo “Análise do risco de danos por vibração mecânica nos monumentos setecentistas do ´Caminho Tronco` de Ouro Preto”, de Luiz Mauro de Resende (Engenheiro Civil/IPHAN/REDEMAT) e dos professores Flávio Sandro Lays Cassino e Adilson Rodrigues da Costa (UFOP/REDEMAT).
Este é um problema que não está limitado apenas a Ouro Preto, mas também pode se estender a outras cidades históricas com características similares, como São João del-Rei e Tiradentes. Basta fazer uma rápida viagem de ônibus urbano pelas ruas de calçamento rústico em Tiradentes – ou mesmo por rua de paralelepípedo ou poliédrico irregular em São João del-Rei – para sentir os efeitos das trepidações.
O artigo faz referência ao “Manual Rodoviário de Conservação, Monitoramento e Controles Ambientais” para mostrar que “o deslocamento de um veículo gera vibrações, que são transmitidas ao ar e ao solo, as quais se propagam em todas as direções à semelhança das ondas sísmicas”. Estas vibrações são causadas pelas irregularidades do pavimento (provocando pequenos saltos); pelo funcionamento dos veículos (os quais possuem uma vibração própria); movimentação normal do veículo e movimentos bruscos.
“Em outras palavras, são pequenos tremores de terra (terremotos) - isto pode parecer exagerado - que nós comumente chamamos de trepidações”, observa o professor Marco Túlio Raposo, aposentado do Departamento de Ciências Naturais da UFSJ. A amplitude dessas trepidações depende das características do solo, do seu revestimento e também da velocidade e do peso dos veículos, explica o professor Marco Túlio. “Em linhas gerais, pode-se afirmar que veículos pesados, em velocidade elevada, trafegando em solos mais duros e irregulares, provocam vibrações de maior amplitude e com mais energia associada, sendo, portanto, agentes susceptíveis de causar dano a edificações e monumentos próximos da origem das trepidações.”
Asfalto
Para o professor Marco Túlio, em resumo, é fato inconteste que (1) o trânsito de veículos nas cidades produz vibrações mecânicas do solo que se propagam em todas as direções; e (2) se o pavimento é rústico (como em Tiradentes ), de paralelepípedo ou poliédrico irregular (como em várias ruas de São João, a exemplo da Rua Santo Antônio), para um mesmo veículo que trafegasse a determinada velocidade, numa rua asfaltada ou pavimentada nas condições citadas, seguramente a trepidação na rua asfaltada seria menor e portanto, em tese, susceptível de causar menor dano.
Mas de que dano estamos falando? O professor Marco Túlio responde: “Os danos podem ser estruturais: rachaduras, afundamento, por exemplo. Podem ser estéticos: trincas, escorregamento de telhas etc. Entretanto, esses efeitos são cumulativos, se agravam com o passar do tempo pois as vibrações podem movimentar as bases de uma edificação que, embora tendam a acompanhar o movimento do terreno, opõem resistência a esse movimento, gerando forças de intensidade significativa que atuam nas fundações. Portanto, casario mais antigo, construído com materiais e técnicas artesanais, fica mais sujeito a danos do que imóveis mais novos.”
Nessa linha de raciocínio, o professor Marco Túlio entende que “a remoção do asfalto do final da Rua Santo Antônio, deixando à mostra um piso completamente irregular, sem limitação do trânsito e impedimento do trânsito pesado, aumentou os riscos de danos ao casario mais antigo”.
Existe ainda uma questão pouco comentada que é a diferença de idade entre os calçamentos e o casario. O professor Marco Túlio lembra, por exemplo, do piso de rua rústico de meados do século XX em São João del-Rei. “O calçamento existente, poliédrico irregular, foi iniciado no governo do Dr. Antônio das Chagas Viégas, na segunda metade dos anos 50. Em outras palavras, a maioria das casas é mais antiga que o próprio calçamento, embora eu não saiba dizer que casas são do tempo da fundação da cidade.”
Ações preventivas
Dessa forma, o professor Marco Túlio considera válido que as sugestões, apresentadas no artigo, de “ações preventivas em Ouro Preto possam se estender a outras cidades com características similares, como São João e Tiradentes”.
Os especialistas de Ouro Preto defendem a viabilização, no prazo mais curto possível, de um “mapa de risco de danos por vibrações” que assegure a “melhoria das condições de conservação do patrimônio histórico para a diminuição dos índices de incomodidade das pessoas”. Este “mapa de risco” deve levar em conta a intensidade das vibrações, a sua freqüência (a mais restritiva dentre os parâmetros internacionais, ou seja, 2,0 mm/s) e ainda outros parâmetros relacionados ao meio físico, como a característica geotécnica, e a característica arquitetônica do bem.
Até que seja viabilizada a construção do mapa de risco, eles propõem que sejam tomadas algumas medidas preventivas e mitigadoras, no sentido de minimizar o efeito danoso das vibrações nos monumentos. São elas: restringir o trânsito de veículos de qualquer natureza no Centro Histórico de Ouro Preto, notadamente os ônibus e caminhões, reduzindo a intensidade e freqüência das vibrações em sua origem; melhorar as condições de pavimentação das ruas em toda a cidade, ainda no sentido de diminuir a vibração na sua origem; impedir a alteração das características dos terrenos, evitando cortes, grandes aterros e dessaterros.
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