Comércio de artesanato em Resende Costa sente os efeitos da crise econômica


Economia

André Eustáquio/Vanuza Resende0

Lojas de artesanato na Avenida Alfredo Penido. Comércio de artesanato em Resende Costa começa a sentir os efeitos da crise econômica. Foto Emanuelle Ribeiro

Para muitos brasileiros este início de 2015 não está sendo nada fácil. É grande o número de pessoas que reclamam dos efeitos da crise econômica que se instalou no Brasil. A inflação está cada vez mais alta, o dólar vem aumentando com frequência e não existe perspectiva de investimentos à vista. As previsões de muitos economistas em relação ao futuro da economia do Brasil, a médio prazo, não são otimistas. A crise econômica está obrigando o governo a realizar o que ele próprio chama de “ajustes”, tal como consta no site do governo federal: “O Governo está cortando seus gastos e ajustando investimentos. O fundamental é que os ajustes, urgentes e temporários, permitirão que o Brasil reequilibre suas contas e avance no caminho do crescimento. Os ajustes são temporários, mas seus resultados serão permanentes”.

O corte de gastos do governo está afetando alguns programas sociais, como o Bolsa Família e o Fies (Programa de Financiamento Estudantil). Em 2014, 1,9 milhão de estudantes conseguiu o financiamento pelo Fies. Neste ano, o governo mudou os critérios: os candidatos deverão obter média superior a 450 pontos no Enem e não zerar a redação. Para o governo, “a mudança foi feita em prol da qualidade do ensino superior”.  Para alguns analistas, a intenção é de reduzir o número de empréstimos, devido à crise orçamentária.

O momento ruim da economia do país não está afetando somente as grandes cidades. Resende Costa, com população estimada em aproximadamente 12 mil habitantes, já sente os efeitos da crise. Nos últimos meses, verificou-se queda considerável nas vendas dos produtos artesanais, principal motor da economia do município. Segundo levantamento da Associação Empresarial e Turística de Resende Costa (Asseturc), cerca de 70% da população resende-costense trabalha com o artesanato, gerando uma renda estimada em seis milhões de reais por ano à economia da cidade. Ao todo, são 80 lojas de artesanato e a grande maioria concentra-se na Avenida Alfredo Penido, na entrada da cidade.

A produção e o comércio de artesanato envolvem grande número de pessoas, às vezes famílias inteiras. São pessoas que trabalham com a tecelagem ou com a preparação do material, cortando e enrolando retalhos etc., outros se dedicam às vendas. O artesanato de Resende Costa é vendido para várias cidades do Brasil e também exportado para diversos países.

 

Produtos estocados

A queda no volume das vendas preocupa empresários e funcionários de lojas. A grande quantidade de produtos estocados é uma das preocupações dos empresários, que ficam receosos quanto ao futuro dos seus funcionários.  A lógica é simples e mostra como a queda nas vendas afeta a economia da cidade, em escala: se cai o volume das vendas nas lojas, os empresários não compram mercadorias dos pequenos e médios fornecedores da própria cidade.

O empresário Edmar Assis, sócio-proprietário do Artesanato Traços de Minas, avalia o início ruim de 2015: “Em janeiro, fevereiro e março o volume das vendas foi muito abaixo do esperado. Até mesmo o feriado da Semana Santa foi fraquíssimo. Posso falar numa queda de 60 % nas vendas”. Para Edmar, 2014 foi considerado “um ano bom” e em abril deste ano “senti uma melhora na quantidade de lojistas que vêm comprar mercadoria aqui e também de turistas”.

Para o empresário Cícero Resende Chaves, da D’corações Artesanato e Arraial da Lage Artesanato, mais do que uma crise econômica, o país vive um momento de crise moral: “Acho que a significância da crise política é mais ética e moral, no sentido da expectativa negativa gerada e misturada aos arrochos econômicos, que deixam uma aura de descrença e desilusão, maximizando os sentimentos de perdas e insegurança. Acredito que, vista com frieza, a realidade econômica não é tão desanimadora como se está pintando”. Cícero também percebe o impacto da crise no mercado de Resende Costa, mas é otimista quando analisa o restante de 2015: “Toda a cadeia sente os impactos da crise. Os artesãos têm que diminuir a sua produção enquanto os estoques vão aumentando nas lojas, além de outras implicações. Apesar disso, avalio que temos condições de passar por ela sem maiores danos. Nossas empresas são pequenas, porém sólidas e já acostumadas a passar por turbulências do tipo. 2015 é um ano de crise, mas também de muitos feriados prolongados. Isso, para Resende Costa, vem como um alento, pois aumenta o fluxo turístico na cidade e acaba por, pelo menos, aliviar momentaneamente os estragos da crise, dando-nos fôlego para esperarmos por dias melhores”.

Gustavo Silva Resende, 20, estudante de Administração de Empresas e vendedor há oito anos na loja Trilhos da Arte, fala sobre a crise: “O artesanato começou a sofrer a crise há mais ou menos nove meses, logo depois do fim da Copa. O volume nas vendas sofreu uma queda de 60%”. De acordo com Gustavo, os feriados, que sempre são uma boa oportunidade para as vendas, não vêm correspondendo às expectativas: “A maioria dos clientes/turistas está vindo mais a passeio na cidade do que para comprar”.

O estudante de Administração e vendedor acredita que inovar na criatividade dos produtos seria uma opção para atrair os clientes, e espera uma melhora no cenário atual: “Nossa previsão é de que as vendas devem voltar a crescer a partir deste mês. Uma inflação mais baixa seria determinante para a recuperação do comércio, seguida posteriormente por uma redução nas taxas de juros. Sabemos que a inflação vai ceder, mas o comércio vai pagar um pouco desse preço.”.

“O comércio sempre sofreu com essa crise, anualmente, e sempre usa de estratégias para não ‘fechar as portas’. Neste ano, alguns comerciantes resende-costenses já estão planejando a Mostra de Artesanato, para atrair ainda mais os clientes para a nossa cidade”, diz Gustavo.

 

Segundo Edmar Assis, a união é uma das saídas dos empresários para driblar a crise: “é necessário entender o momento da economia em si, mas mais importante ainda é a união dos lojistas”. Ele aposta numa melhora a partir do segundo semestre e aponta outro motivo para a queda nas vendas: “sei que existe uma crise, mas há também o medo. As pessoas espalharam que a ‘coisa está ruim’ e com isso muita gente deixa de comprar e de viajar”. Para Cícero Chaves, “O que o empresariado, em especial, deve atentar é para não cometer erros como compras e financiamentos caros e desnecessários, estoques exagerados e o mais difícil e perigoso: conceder crédito de altos valores a atacadistas que podem se tornar inadimplentes. Em tempos de crise, esses erros costumam ser fatais para algumas empresas. E em Resende Costa é, com certeza, o fato que mais fechou portas nas passagens de crises”.

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