Comércio e construção civil, os mais afetados pela crise no Campo das Vertentes


Entrevistas

José Venâncio de Resende0

Professor Aluizio Barros

Os setores econômicos de São João del-Rei e região mais afetados pela crise econômica – considerada uma das piores da história do Brasil - foram comércio e construção civil. O único setor onde se observa crescimento no emprego é a indústria de produtos alimentares, com saldo de 62 empregos em 2015 e 39 em 2016 (até maio). A constatação é do professor Aluizio Antônio de Barros, aposentado do Departamento de Ciências Econômicas da Universidade de São João del-Rei (UFSJ). Desta vez, a crise não perdoou nem Resende Costa, com números negativos de emprego formal nos primeiros meses de 2016 “após um 2015 longe do impacto da crise no emprego”. Nesta entrevista, Barros fala do impacto da crise na economia do Campo das Vertentes, bem como do desempenho da nova equipe econômica e das perpectivas do país pós-impeachment.

Aluizio Barros é doutor em Economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) com pesquisa de tese na Stanford University (EUA), Master in Economic and Social Studies pela Universidade de Manchester (Inglaterra) e especialista em Economia pela Escola de Pós-Graduação em Economia da Fundação Getúlio Vargas (EPGE-FGV). Trabalhou na Cepal/Nações Unidas, Ipea, IBGE, Ebape/FGV, UFF (Universidade Federal Fluminense), UFSJ, Unipac e Una/BH. Tem livros e artigos publicados no campo das Ciências Econômicas, Administração e Educação.

Como o sr. vê a atual crise econômica brasileira?

A atual crise econômica  tem sido considerada como uma das piores da história do Brasil. Dois anos consecutivos de queda do PIB (produto interno bruto) ocorreu na Depressão de 1929/30 na economia mundial com reflexos no Brasil, então uma economia basicamente cafeeira. Com estagnação em 2014 e recessão em 2015 (-3,8%), prolongando-se em 2016 (previsão de queda de 3,3%), fica evidente que as crises de 29 e atual já se equivalem em duração. Não sabemos, contudo, qual é a mais intensa em termos de queda na produção.

E qual é o impacto desta crise na economia de São João del-Rei e da região, em termos de crescimento, de renda, de emprego etc.?

Neste contexto, é claro que São João e toda a região são afetados. Não se tem como medir pelo PIB municipal, que ainda não está disponível (é divulgado com dois anos ou mais de defasagem por dificuldades contábeis e não políticas). A saída é comparar o saldo de desligamentos e admissões de empregados na economia formal, que o Ministério do Trabalho divulga mensalmente para todos os municípios brasileiros. A série é mais confiável a partir de 1994 com melhorias nos registros do Caged (Cadastro Geral de empregados e desempregados). Esta estatística mostra uma forte queda do emprego no ano passado em São João del-Rei. Cerca de 400 postos de trabalho foram fechados. Anteriormente apenas 1996, 1998 e 2000 registraram quedas de, respectivamente, 607, 532 e 76. A má notícia é que as demissões continuam superando as contratações nos primeiros cinco meses do ano, que acumula queda de 320. Mas este número deve se tornar menos ruim por dois motivos: primeiro, as demissões com a mudança do contrato da UPA (Unidade de Pronto Atendimento) chegaram a 104 no setor de serviços médicos (médicos, enfermeiros, etc) - como a UPA não foi desativada totalmente, novas contratações devem ter ocorrido no mês seguinte; e, segundo, a queda do emprego no corrente ano foi  menor do que em igual período do ano passado, quando registrou -455.

O sr. Tem dados atualizados dos principais municípios do Campo das Vertentes?

Sim. Nos primeiros cinco meses do ano, a situação do emprego formal foi a seguinte: SJDR, com -320;  Barbacena, -42; Conselheiro Lafaiete, -694; Lagoa Dourada, +8; Lavras, -95; Resende Costa, -17 (admissões 90-107 desligamentos); Prados, +11; e S.Tiago, +31. Como você pode ver, as demissões continuam maiores que as contratações na maioria dos municípios da região. Os números negativos do emprego  neste ano estão a indicar (como dizem nossos avós portugueses) que o mercado de trabalho continua a piorar, após o péssimo ano de 2015, no qual registraram as seguintes estatísticas do CAGED: SJDR com -401; Barbacena, - 141; Conselheiro Lafaiete, -760; e Lavras, -1167. A exceção é Resende Costa, que registrou números negativos nos primeiros meses de 2016, após um 2015 longe do impacto da crise no emprego (saldo +61).

A forte presença da área de serviços, principalmente devido à educação, universidades etc., e do turismo tem contribuído para que este impacto seja menor? E nas áreas industrial e de artesanato?

Os setores mais afetados foram comércio e construção civil. O único setor onde se observa crescimento no emprego é a indústria de produtos alimentares:  saldo de 62 empregos em 2015 e 39 em 2016 (até maio). O setor de ensino (uma das vocações econômicas de São João del-Rei) está enfrentando a crise sem demissões. No ano passado, o saldo foi de -1 (ou seja, quase empate entre demissões e contratações) e neste ano de +49 até maio. O turismo sofre nas crises porque as pessoas perderam renda real e emprego. Nos cinco primeiros meses do ano, os hoteis demitiram mais do que contrataram (-15), ao passo que nas lanchonetes e restaurantes ocorreu o inverso (+36 e +21). No setor industrial, a indústria metalúrgica tem sido a mais sacrificada: - 56 no ano passado e +7 em 2016.  O que faz um amortecimento do impacto da crise na economia são-joanense é o grande número de aposentados e pensionistas. Somente do INSS são 25 mil. Maior do que o número de empregados com  carteira assinada (19 mil). Os aposentados recebem seus benefícios mesmo quando o país está em crise. Portanto, seu dinheiro continua na economia. Claro que perde poder de compra por causa da inflação (o governo Dilma foi desastroso também com a inflação permissiva). Outro amortecedor é a presença de funcionários públicos com estabilidade do emprego (UFSJ, prefeitura, órgãos federais  e estaduais).

Como o sr. está vendo o desempenho da nova equipe econômica, apesar do pouco tempo?

Já dá pra notar pelo menos melhoria das expectativas por parte dos agentes econômicos? A equipe econômica é o ponto forte do governo Temer. São profissionais conhecidos no mercado e na sociedade brasileira. Henrique Meireles, ministro da Fazenda, foi  presidente do Banco Central (BC) no governo Lula. Teve enfrentamentos com a então chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, voluntariosa e incompetente, que bagunçou com as contas públicas. O atual presidente do BC, Illan Goldfajn, é tecnicamente capaz de executar a política monetária do governo pela experiência profissional e sólida formação acadêmica (PUC-Rio). A presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Maria Silvia, vale por dez ministros. A maior prova do acerto de Temer na escolha das autoridades econômicas  são a bateria de indicadores positivos: o índice Bovespa tem forte e sustentada valorização (passou da marca de  55 mil pontos) e os indices de confiança de empresários e de consumidores param de piorar.

O sr. acha que os próximos meses e anos ainda serão difíceis qualquer que seja o resultado do impeachment?

Os desafios são enormes de um governante na interinidade com a Lava Java fazendo seu trabalho (e é muito bom que continue fazendo) e criando incertezas na base parlamentar. Os indicadores econômicos e sociais ainda vão continuar piorando, mas em ritmo menor. Confirmado o impedimento da presidenta nos próximos meses, a confiança no governo Temer irá aumentar porque fica afastada a incerteza quanto ao destino da infeliz senhora. Se, na pior das hipóteses, Dilma reassumir, será um Deus nos acuda! Ela já até disse recentemente que manteria o ministério de Temer. Ela já demonstrou notável capacidade de dizer disparates e mentiras.

 

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