Consagrado músico cabo-verdiano, em Portugal, era descendente de Resende Costa (filho)


Cultura

José Venâncio de Resende0

O jovem Fernando Quejas e sua guitarra

Neste ano, vão se completar 10 anos da morte de Fernando Aguiar Quejas, descendente de José de Rezende Costa (filho) no Cabo Verde (África), que foi considerado “o primeiro embaixador da música cabo-verdiana em Portugal” nos anos 1940. A informação é do professor Jorge Manuel Santos Sousa Brito - ele próprio um Rezende – autor da árvore genealógica da família Rezende no Cabo Verde.

Compositor, intérprete e cantor, Quejas faz parte da galeria dos grandes músicos cabo-verdianos. Ele gravou 22 singles (em 45 rpm), entre 1952 e 1973, que se tornaram raridades.

Quejas era um músico hábil em vários instrumentos. Na sua residência em Lisboa, mantinha um piano, um violino e um violão, que acompanhavam o artista há muitos anos e que ele tocava eventualmente. O seu último trabalho editado, antes de morrer em 2005, foi o CD “Corredor di Fundo”, gravado em 1998 e lançado ao mesmo tempo que a sua autobiografia “Uma Vida de Mornas”.

Quejas nasceu em 30 de abril de 1922 na Cidade de Praia, Ilha de Santiago, Cabo Verde. Era filho de Maria Ludovina de Rezende Nunes de Aguiar (1892-1976), casada com Benévolo dos Santos Quejas (1900-1968), e neto de Ludovina da Graça Rezende (1862-1959) e Antônio Augusto Nunes de Aguiar (1859-1942).

 

Música brasileira

Quejas começou a cantar muito jovem e foi sócio-fundador da Rádio Clube de Cabo Verde, que surgiu em 1945. Em Portugal, a partir de 1947, passou a integrar o elenco da Emissora Nacional, inicialmente cantando músicas brasileiras, repertório que levava do Cabo Verde, com nomes como Ary Barroso, Sílvio Caldas e Orlando Silva.

Só mais tarde começou a introduzir no seu repertório a morna (gênero musical típico do Cabo Verde, como tango na Argentina, a rumba em Cuba e o samba no Brasil), praticamente desconhecida até então em Portugal. Além disso, "era muito difícil encontrar músicos cabo-verdianos para o acompanhamento", como admitiu.

Além da série de singles que começou a gravar em 1952, Fernando Quejas percorreu Portugal durante anos, cantando em cassinos, eventos e nos chamados "Serões para os Trabalhadores", promovidos pela Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho.

Depois de 43 anos, Quejas voltou ao Cabo Verde, em 1990, quando se apresentou no auditório da Assembleia Nacional, na Cidade de Praia. O retorno foi a convite do então presidente Aristides Pereira, isto depois de ter chegado aos seus ouvidos a confidência que Fernando fizera a um amigo sobre a mágoa que tinha por ver outros serem convidados para eventos em Cabo Verde, e ele nunca o ter sido.

 

Viola e morte

Fernando Quejas morreu aos 83 anos, poucos dias depois de ter sofrido uma queda em casa que lhe terá provocado uma hemorragia cerebral. Sua irmã, Helena Monteiro, contou à RDP África que ele estava sentado ouvindo suas músicas numa aparelhagem que o pai lhe dera há alguns anos. Uma morte que “tem tudo a ver com a história da vida dele”, confidenciou Helena, pois “aquela aparelhagem dizia-lhe muito”. Era onde Quejas “ouvia aquelas cassetes antigas”.

Ao se levantar para mudar a cassete, explica Helena, tropeçou, caiu e bateu com a cabeça na viola. Parece estranho, mas foi “a viola que muitas vezes tocou e encantou muita gente com as suas músicas” a responsável pela morte de Fernando Quejas.

 

Mais informações sobre Fernando Quejas estão disponíveis em http://www.barrosbrito.com/445.html.

Deixe um comentário

Faça o login e deixe seu comentário