Crise econômica já atinge vários setores na região das Vertentes


Economia

José Venâncio de Resende0

fotoAparecida Olga da Silva, presidente da ACI del-Rei.

  

Em linha com o cenário nacional (queda nas vendas do varejo, demissões etc.), os efeitos da crise econômica já chegaram ao comércio da microrregião das Vertentes. A inadimplência aumentou no primeiro trimestre deste ano, atingindo 6.050 inclusões de pessoas físicas e jurídicas (inclui cheques) no Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), da Associação Comercial e Industrial de São João del-Rei (ACI del-Rei), acima das 5.863 inclusões do mesmo período de 2014. Apenas em Março houve 2.900 inclusões no SPC, superior às 2.058 do mesmo mês do ano anterior.

“A crise é na verdade o resultado de uma série de medidas econômicas queenvolvem o aumento de tributos, a redução do crédito e, consequentemente, aredução do consumo”, resume a presidente da Associação Empresarial de Tiradentes (ASSET), Aline Garcia. “Atinge todos os recantos do país. Não há como não senti-la.”

O pior é que as pessoas não estão acreditando no governo, lamenta a presidente da ACI del-Rei, Aparecida Olga da Silva. “As pessoas estão receosas, e com isso o dinheiro circula menos, as vendas são menores, o desemprego bate à porta, o governo arrecada menos.” Um reflexo da descrença geral são as manifestações de rua, acrescenta.

As pessoas também estão viajando menos, segundo informa Antonio Claret de Almeida, encarregado do Terminal Rodoviário são-joanense, onde circulam ônibus intermunicipais e interestaduais. O movimento, no primeiro trimestre, somou 92.424 passageiros, abaixo dos 102.043 do mesmo período do ano passado.

O lado mais visível da crise em São João del-Rei é o aumento das demissões no setor metalúrgico. O aumento na energia elétrica, parte do ajuste fiscal, levou a Bozel, produtora de ferroligas, a desligar três fornos. Este ano, até meados de Abril, houve cerca de 110 demissões no setor metalúrgico, das quais 53 na Bozel e suas terceirizadas, confirma Hamilton Cassimiro Ferreira, diretor do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de São João del-Rei e Campo das Vertentes (SindiMetal). Os demais trabalhadores foram demitidos de outras empresas da região. O setor emprega entre 1.500 e 2.000 pessoas em empresas como Bozel, LSM, Melt, Granhaliga, Resind e Extrativa Metalúrgica, bem como em outras de menor porte. 

No segmento de veículos, a crise agravou-se a partir de Janeiro em decorrência do aumento da alíquota do IPI e das taxas de juros. No primeiro trimestre, as vendas de automóveis e comerciais leves (linha de caminhonetes) caíram 11,87% na região (inclui Lavras) em relação ao mesmo período de 2014, o que equivale a 87 unidades a menos, de acordo com a Cacel. A média mensal de emplacamentos caiu de 260 unidades para cerca de 190 unidades.

Também o comércio de material para construção civil já sentiu os efeitos da crise, de acordo com Dênia Serpa, gerente da Calcinfer (lojas em São João del-Rei, Prados e Tiradentes). Ela estima em 20 a 30% a queda nas vendas nos primeiros meses do ano, porque está sobrando menos dinheiro (mais despesas no supermercado, por exemplo). “O maior problema é que estamos numa crise de crescimento e os preços continuam a subir.”

Os clientes da Calcinfer, na sua maioria pessoas de classe média e baixa, em geral compram menores quantidades de material para construir ou reformar seus imóveis. Financiam a compra pela Caixa Econômica ou fazem crediário em dez vezes. O problema é que o poder aquisitivo caiu e os juros das prestações subiram, resume Dênia.

 Semana Santa. Ponto alto do turismo são-joanense, a Semana Santa evidenciou os sinais da crise nos segmentos de restaurantes e hoteleiro. O Restaurante Chafariz, por exemplo, do qual Olga é proprietária, teve queda de 30% no movimento deste feriado prolongado em relação ao ano anterior. 

No setor hoteleiro, a procura por hospedagem caiu cerca de 30% na região durante a Semana Santa, segundo Joel Dornelas, gerente do Hotel Lenheiros. O hotel, focado na classe média, também tem pousada em Prados. “Foi uma queda como não vista nos últimos anos. Porém, antes e depois da Semana Santa tem sido normal.”

Já o Hotel Pais & Filhos aproveitou os últimos feriados prolongados (Semana Santa e Tiradentes) para se recuperar do Carnaval, que foi “horroroso” (50% de ocupação) segundo seu proprietário Anacleto Paulo do Nascimento. Ele adotou uma política de promoções para casais e famílias. “Assim, consegui me garantir.” Para atrair clientes, nas semanas normais, tem adotado preços de três anos atrás, inclusive para bandas e representantes comerciais.

Em Tiradentes, não se observou, este ano, crescimento do fluxo de turistas em datas como o Carnaval e a Semana Santa, em comparação com 2014, diz Aline Garcia.

Esperança. Joel, do Hotel Lenheiros, acredita que a crise no setor será amenizada pelo excesso de feriados prolongados este ano. Também Aline, da ASSET, entende que, “em 2015, deve acontecer uma distribuição deste fluxo pelos muitos finais de semana prolongados que teremos ao longo do ano. Estamos acompanhando de perto.”

A ASSET está trabalhando para que o impacto da crise seja minimizado pelo equilíbrio criado com o “balanceamento” dos atrativos dos diversos aspectos do comércio local, diz Aline. “Tiradentes é uma cidade que possui vários aspectos diferenciados que atraem os turistas, distribuídos entre os vários segmentos de negócio. Cidade histórica, pólo gastronômico, pólo cultural, grande centro de ateliers e centro moveleiro, tudo acompanhado pelo jeito sempre acolhedor do mineiro.”

Para enfrentar os próximos meses, talvez anos, de paradeira geral, a receita é, “com toda certeza, a união”, garante Aline. “De forças e de ideias. Troca de experiências e
modelos de sucesso, sempre valorizando o destino Tiradentes como uma opção
diferenciada para o turista.”

Olga, da ACI del-Rei, concorda que a saída é a união de esforços. Joel Dornelas defende a criação de eventos, numa parceria entre ACI del-Rei, Secretaria de Cultura e setor privado, como principal ação para reduzir o impacto da crise. “Nosso principal argumento de vendas é São João del-Rei, desde que a cidade esteja preservada, limpa e cheia de eventos.”

 

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