Fortim dos Emboabas em Lagoa Dourada: beleza e mistério


Cidades

Nayana Carvalho2

Ruínas do Fortim dos Emboabas no município de Lagoa Dourada (Fotos Lazer e Natureza)

Há quatro quilômetros de Lagoa Dourada, em meio a uma mata fechada, onde só é possível chegar através de trilhas, um pedaço da história de Minas ainda espera para ser desvendado. Entre as árvores, encontram-se paredões de pedra que, de acordo com levantamentos iniciais, são as ruínas de um forte usado durante a Guerra dos Emboabas, entre 1707 e 1709.  Poucas são as informações confirmadas sobre a história do local, que apesar de ter como nome oficial “Sítio Arqueológico do Córrego da Figueira”, ficou mais conhecido como “Fortim dos Emboabas”. Misterioso e belo, o lugar é uma parte viva da história pronta para ser desvendada e apreciada.

 

 

O forte, cujo tombamento pela Prefeitura Municipal de Lagoa Dourada foi feito em abril de 2008, ocupa uma área de aproximadamente 3,5 mil metros quadrados, com 70 metros de frente e 50 metros de lateral. Suas características peculiares o diferenciam das demais construções da região e são uma das evidências de que ali havia uma fortificação. Uma dessas características são suas janelas em diagonal e de um metro de altura que, possivelmente, foram usadas como refúgio dos Emboabas. Adriano Barreto Pinto, juntamente com Luiz Cruz, professor de história em Tiradentes, visitaram algumas construções da época e notaram as semelhanças com o local, fato que ajudou a desvendar parte da história do Fortim. “Estivemos visitando as Ruínas do Gambá, da Serra da Moeda e do Belo Vale para comparar com as Ruínas do Sítio Arqueológico do Córrego. (...) A arquitetura das construções que visitamos é muito parecida, o que leva a crer que se trata de algo construído por volta de 1700, ano da Guerra dos Emboabas. Não há indício algum de que ali tenha sido uma fazenda antiga, pois não existem registros cartoriais”, conta Adriano.

 

A Guerra dos Emboabas, considerada por muitos a primeira guerra civil da América, aconteceu nas terras mineiras, na época, uma terra com grande abundância de ouro. Paulistas e emboabas entraram em confronto em uma disputa pelo precioso metal e pelo domínio da região das minas. Existem poucas referências confiáveis sobre o acontecimento, entre elas a obra “Cultura e Opulência” de André João Antonil. No livro o autor faz uma referência a um fortim, que ao que tudo indica refere-se ao Fortim dos Emboabas. “André João Antonil no seu livro fala de um fortim com trincheiras e fosso que fizeram os Emboabas na região”, fala Adriano.

   

Wellington Paulo Resende foi o “descobridor” do fortim, como dito por ele: foi o primeiro a ter uma visão histórica e turística do lugar. Ele conta que seu pai, há alguns anos, já havia falado sobre a existência do local, mas só recentemente as ruínas começaram a ser averiguadas.   Segundo Wellington, alguns historiadores que visitaram o local afirmam que o Fortim foi construído para funcionar como uma casa de fundição de ouro e acabou tornando-se, com a guerra, um esconderijo dos Emboabas. “Por enquanto nada foi confirmado, mas o que se sabe é que no início o fortim era uma casa de fundição de ouro. O ouro em pó era minerado aqui na região e lá era transformado em barrinhas. O quinto, imposto cobrado pela Coroa Portuguesa, já era retirado no local, havia uma guarnição para proteger o ouro e com o aumento do volume eles o levavam para Paraty de onde embarcava para Lisboa. Quando estourou a Guerra dos Emboabas, em Caeté, em 1706, o final da guerra foi aqui nessa região e os Emboabas se refugiaram no local, passando, então, a ser usado como um forte”.  

 

Muitos são os indícios de que o local foi mesmo usado como forte pelos Emboabas. Além de algumas lendas contadas de geração em geração, há registros históricos em cartórios, cartas, testamentos, inventários que levam a crer no fato. Um desses indícios é o nome dado à mata próxima ao forte. A mata, que pertence à família de Wellington, foi registrada em cartório com o nome de “Mata dos Paulistas”. Para Wellington uma referência a Guerra dos Emboabas: “A mata fica de um lado do córrego e as ruínas do outro lado, na propriedade do senhor Murton Moreira, e a mata chama-se Mata dos Paulistas justamente porque meu avô durante toda a vida disse que ali morreram muitos paulistas”.

 

Desde o tombamento municipal do Fortim dos Emboabas, nenhum estudo arqueológico foi feito no local. Por isso, todas as informações referentes a ele são tratadas como suposições. Apesar das evidências, apenas um estudo detalhado pode comprovar os fatos. “Há que ser feito um estudo arqueológico minucioso no local para que seja determinada a idade das ruínas e fazer escavações para tentar descobrir peças que a identifiquem, mas isso custa dinheiro, é preciso uma verba muito grande para tal. Espero que um dia, se não for tarde demais, surja alguém que se interesse pelas pesquisas no local”, relata Adriano.

 

Turismo

 

 O Fortim dos Emboabas fica em uma área particular pertencente a Murton Moreira, porém turistas podem visitar o local. Wellington é quem faz o trabalho de levar os interessados. Para chegar ao forte é preciso caminhar por uma trilha de mata fechada, mas qualquer sacrifício vale a pena para conhecer a beleza do Fortim. “Eu faço a recomendação com os turistas que só podem filmar e tirar fotos, não podem tirar nada do lugar, não podem cortar uma folha e nem tirar nenhuma pedrinha. Como a propriedade é particular, o senhor Murton faz um grande favor em deixar a gente levar o pessoal para dar esse passeio lá”, comenta.  

 

Porém um problema tem preocupado Wellington: a presença de vândalos no local. Segundo ele já foram vistas pessoas que vão até lá para furar e mexer na estrutura. Tal atitude, além de ilegal, acaba por dificultar ainda mais futuros estudos no local.  Outra preocupação de Wellington é a falta de incentivos e estudos arqueológicos do lugar: “Precisa ter mais investimento e estudo lá, enquanto não são só hipóteses. Sou eu que limpo a trilha. O lugar está tão abandonado que a estrada que dá acesso ao local é constantemente reclamado pelos turistas”, ressalta Wellington.

 

 

Comentários

  • Author

    Prezado:
    Gostaria de ar o fortim por causa de um estudo que faço sobre o tema. Já peguei as imagens de satélite para chegar até a estrada que dá acesso só que a área parece estar situada em meio à mata fechada. É possível chegar até o forte por alguma trilha? Vcs possuem o tel do Wellington que costuma levar o pessoal até lá? Obrigado. Patrício. Doutor em Geografia.


  • Author

    *visitar


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