Língua de Herança: educadores brasileiros lançam Carta de Florença e pedem apoio do governo no exterior

Durante três dias, oficinas trataram de vários temas relacionados com o ensino do POLH


Educação

José Venâncio de Resende, especial de Florença0

Cerca de 60 educadores de 10 países participaram do encontro de POLH, em Florença.

“É nosso desejo que os funcionários brasileiros nas Embaixadas e nos Consulados, tanto na Itália como nos outros países europeus referidos e que fazem parte do Elo Europeu de Educadores de POLH, olhem com carinho e atenção, com respeito e consideração para essas pessoas, iniciativas e grupos que se dedicam, na maior parte das vezes voluntariamente, ao ensino do POLH e ao fortalecimento da nossa cultura nos quatro cantos da Itália, da Europa e do mundo. O apoio, mesmo que não financeiro, a essas iniciativas por parte do Governo brasileiro, por intermédio de Embaixadas e Consulados, pode lhes dar força para crescerem e expandirem o seu trabalho, que em algumas vezes possuem apenas o apoio das prefeituras locais nos países em que atuam.” 

Este é um dos trechos da “Carta de Florença”, divulgada no final do encontro “POLH: a teoria do fazer – Oficinas de Ensino do Português como Língua de Herança”, que aconteceu no período de 7 a 9 de outubro na cidade de Florença, Itália. A carta aberta foi aprovada por cerca de 60 educadores, professores, pesquisadores e gestores de iniciativas e projetos de nove países (Alemanha, Áustria, Bélgica, Espanha, Holanda, Inglaterra, Itália, Suíça e Emirados Árabes Unidos), além de convidados do Brasil. Também compareceu a Ministra-Conselheira Cynthia Althoé Vargas Bugané, representante da Embaixada do Brasil em Roma. O encontro foi organizado pelo Elo Europeu de Educadores de Português como Língua de Herança e pela Casa do Brasil em Florença.

Os participantes do encontro consideram a “língua como um componente essencial da nossa cultura e da identidade de crianças e jovens brasileiros que crescem e nascem fora do Brasil. Reconhecemos que o ensino do POLH é um direito que deve ser garantido a todas as gerações de brasileiros, também dos nascidos e crescidos no exterior, que recebem a língua portuguesa como herança, e com ela todo o legado cultural do nosso País. Esse direito está assegurado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, no capítulo IV, quando tutela o Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer, no seu eixo central, Desenvolvimento Pessoal e Social”.

Entre os principais anseios do grupo, a carta aberta apresenta a solicitação de apoio institucional por parte do Governo brasileiro, por intermédio de Embaixadas e Consulados, aos grupos, iniciativas e pessoas que têm realizado ou buscam realizar trabalho referente ao ensino do POLH. Especifica a importância de “carta de recomendação, de apoio ou de solicitação de apoio junto às prefeituras e ao governo local dos países em questão reconhecendo que as inúmeras iniciativas de POLH nos diversos países europeus, mesmo que informais, estão cumprindo o papel de educar e garantir o direito à língua e à cultura, mesmo que como herança, a crianças e jovens brasileiros que vivem no exterior”.

Outra reivindicação é a divulgação junto à comunidade brasileira do trabalho e das atividades que pessoas, grupos e iniciativas de ensino do POLH realizam, bem como junto à comunidade e/ou autoridades dos países em questão para que tomem conhecimento e, se possível, apoiem o ensino da língua e da cultura brasileiras em escolas, cidades e municípios (como já tem sido feito, por exemplo, em países como Suíça, Áustria, Suécia e em alguns estados da Alemanha).

Além disso, a carta aberta solicita apoio financeiro para pequenos projetos que apoiem a atividade e possibilitem a mobilização da comunidade brasileira para o trabalho e as atividades desenvolvidas; doação de livros didáticos e paradidáticos por parte do Ministério da Educação às iniciativas de POLH no exterior; apoio institucional e, quando possível, disponilização de estrutura que permita o intercâmbio das iniciativas já existentes (utilização de sistema de video-conferência, de espaço físico, etc); e apoio financeiro à realização de cursos de formação de professores e oficinas em POLH organizados pelas iniciativas e pelo Elo Europeu.

Sobre o encontro

Durante três dias, foram apresentados e discutidos os seguintes temas: preparação dos pais para a valorização do ensino de POLH; alfabetização e letramento em língua de herança (leitura e escrita); elementos curriculares, avaliação e elaboração de material didático; leitura, contação de histórias e criação de uma Mala de Leitura; didática – da teoria à prática nas aulas de POLH e construção de redes de iniciativas no POLH e junto ao Conselho de Representantes Brasileiros no Exterior (CRBE).

Simultaneamente, ocorreram dois tipos de oficinas, explica Ana Luiza de Souza, coordenadora da Casa do Brasil de Florença e uma das organizadoras do encontro. Aquelas oficinas voltadas para educadores experientes no ensino do POLH que focaram no compartilhamento de experiências para aperfeiçoar o próprio trabalho. E oficinas destinadas a educadores iniciantes, a fim de contribuir na fundamentação teórica e no fornecimento de informações básicas para quem está começando.

Ana Luiza considerou importante a presença no encontro da ministra conselheira Cynthia Altoé Vargas Bugané. Abre uma oportunidade de apoio efetivo da Embaixada do Brasil na Itália ao trabalho desenvolvido pelas associações, que atuam em Valdobbiadene, Rovigo, Verona, Pádua, Calábria e Cremona, além de Florença. A diplomata confessou que conhecia pouco o trabalho desenvolvido por essas comunidades e elogiou este intercâmbio de experiências.

No encerramento do encontro, Denise Castro, da associação Linguarte e.V., de Munique (Alemanha), apresentou a música “Era uma vez o POLH”, que compôs este ano por ocasião do Dia Internacional do Português como Língua de Herança (16 de maio). A música pode ser tocada e cantada em encontros dos educadores e em reuniões com as crianças.

A realização do encontro em Florença teve um significado especial, segundo Ana Luiza. Representa o reconhecimento de que a Casa do Brasil em Florença está crescendo e se tornando mais conhecida pelas famílias de brasileiros e percebida pelo município de Florença e por instituições como o Progetto Agata Smeralda, organização não-governamental que trabalha com adoção à distância no Brasil, mais especificamente em Salvador (Bahia).

Além disso, os grupos de famílias que estão iniciando as atividades de POLH na Itália enfrentam muitas dificuldades, tais como recebimento de livros do Brasil e formalização de associações de famílias, que a Embaixada pode ajudar a resolver, acrescenta Ana Luiza. “Daí a ideia de convidá-los para o evento para que se fortaleçam ao longo do caminho e obtenham mais conhecimento teórico a respeito do ensino do POLH.”

Sobre a Casa do Brasil

A Casa do Brasil de Florença funciona como uma comunidade de famílias de imigrantes brasileiros e italo-brasileiros. Suas atividades estão inseridas na Associazione Piazza San Donato (o estatuto dessa associação permite acolher comunidades de imigrantes). O projeto conta com cerca de 25 famílias, das quais cinco mães estão mais envolvidas no cotidiano das atividades.

A Casa do Brasil reúne-se na sede da associação onde realiza atividades mensais (desde 2014) e quinzenais (a partir deste ano). Cerca de 15 famílias participam regularmente destas atividades, informa Ana Luiza.

As atividades consistem de leitura animada, brincadeiras e cirandas em português, conta Ana Luiza. “A associação nos apoia nos grandes eventos anuais: carnaval e festa junina.” A festa junina recebe apoio institucional e patrocínio da Prefeitura de Florença e do Progetto Agata Smeralda, “pois reúne grande parte da comunidade brasileira da região, além de italianos interessados em conhecer mais sobre a cultura brasileira”. Estas festas reúnem cerca de 350 pessoas e são muito divulgadas nos jornais da cidade.

LINKS RELACIONADOS: 

Íntegra da Carta de Florença: https://www.facebook.com/maladeleiturademunique/posts/2027151217511180

Casa do Brasil em Florença: https://www.facebook.com/casadobrasilemflorenca/?fref=ts

Cresce na Europa movimento de mães imigrantes pelo português e a cultura brasileira: http://www.jornaldaslajes.com.br/integra/cresce-na-europa-movimento-de-maes-imigrantes-pelo-portugues-e-a-cultura-brasileira-/1745/

 

 

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