Memória da 2ª Guerra Mundial: no rastro da Força Expedicionária Brasileira na Itália


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José Venâncio de Resende0

Foto 1: Ítalo-brasileiro Mário Pereira em frente ao Monumento

Um breve giro pela região da Itália onde o Brasil fez história. É o que este repórter fez ao visitar os principais monumentos erguidos, na maior parte pela comunidade local, para homenagear os soldados da Força Expedicionária Brasileira (FEB) que lutaram na região da Toscana durante a Segunda Guerra Mundial, bem como locais que ainda conservam vestígios da guerra. Teve como guia o ítalo-brasileiro Mário Pereira, funcionário do Itamaraty, zelador responsável pelo Monumento Votivo Militar Brasileiro de Pistoia e mais conhecido como “Embaixador da FEB na Itália”.

Monumento Votivo Militar Brasileiro

O Monumento Votivo Militar Brasileiro fica em Pistoia, antiga cidade (século 12) da Toscana. Inaugurado em 1966, durante o regime militar, foi projetado pelo arquiteto brasileiro Olavo Redig de Campos, da escola de Oscar Niemeyer. No “caminho da glória” (pista da entrada), estão relacionadas as batalhas vencidas pelo Brasil, das quais a mais difícil – “prova de orgulho dos brasileiros” nas palavras de Mário Pereira – foi a de Monte Castelo. O túmulo do soldado desconhecido é o único cujos restos mortais ainda continuam enterrados no local. O muro, com um lago na frente, apresenta os nomes dos 465 brasileiros mortos durante as batalhas (457 soldados e oficiais da FEB e 8 pilotos da FAB). Dois paralelepípedos triangulares trazem simbologia (em português e italiano) do significado do monumento (terra, água, pedra, sacrifício, glória e respeito). A bandeira brasileira fica permanentemente hasteada (em dias de festa, é acompanhada das bandeiras italiana e europeia). Busto e placa relativos ao então general Mascarenhas de Moraes e mapa (roteiro) dos lugares onde a FEB atuou completam o conjunto. No escritório do Monumento, funciona desde 2012 um pequeno museu, que inclui equipamentos usados pelos brasileiros; farda e cinturão do 3º sargento de comunicações do Exército e da FEB, Miguel Pereira; uniforme de uma enfermeira (67 voluntárias formavam o corpo de enfermeiras da FEB); retrato desenhado de Frei Orlando, capelão do 11º R.I. de São João del-Rei; binóculo usado pelo general Mascarenhas de Moraes na conquista de Montese; e farda usada por um soldado da FEB, fornecida pelos norte-americanos. (Fotos 1 a 20)

Capelinha da FEB

A capelinha dedicada a Nossa Senhora de Lurdes fica no antigo aquartelamento da tropa de reserva da FEB, na cidade de Staffoli, província de Piza. Foi construída pelos soldados brasileiros que ali deixavam santinhos, fotos de namoradas e outras lembranças, com a esperança de voltar da frente de batalha. O local foi recuperado pelo historiador Giuliano Cappelli, que ainda trabalha lá como voluntário. Três painéis explicam a história do Brasil na Segunda Guerra Mundial. Contam que a escolha de Nossa Senhora de Lurdes está relacionada com a poderosa arma alemã MG 42 – apelidada de Lurdinha - que os soldados brasileiros tinham de enfrentar. A namorada de um dos soldados, de nome Lurdes, costurava numa máquina de pedal, cuja cadência parecia com a da metralhadora. (Fotos 21 a 29)

Pisa

Cidade famosa pela Torre de Pisa (campanário autônomo da catedral local) que os soldados brasileiros gostavam de visitar quando estavam de folga. A atual casa dos estudantes de Pisa era o hotel onde se hospedavam os pilotos do 1º Grupo de Caça da FAB, mais conhecido como “Senta Pua”. Eram 48 pilotos de caça da Força Aérea Brasileira que foram incorporados ao efetivo da FEB na Itália. (Fotos 30 a 36)

Museu de La Brilla

O prédio, localizado perto da cidade de Massarosa, foi sede do primeiro posto de comando da FEB na Itália. Hoje, é um museu onde são organizadas exposições o ano inteiro sobre a libertação da cidade na Segunda Guerra Mundial, com particular referência à FEB. (Fotos 37 a 40)

Praça e placa dedicadas à FEB

A praça, localizada entre a prefeitura e a escola de Massarosa, recebeu em 2006 uma placa com o nome de Piazzeta Força Expedicionária Brasileira. A iniciativa surgiu depois que a administração municipal tomou conhecimento, por meio de documentos apresentados por Mário Pereira, do fato de que eram brasileiros os aliados que libertaram a cidade. (Fotos 41 a 45)

Monumento Monte Prano

Monumento localizado na cidade de Camaiore. Sobre a pedra com a cobra fumando (símbolo da FEB) encontra-se a reprodução da cruz que existe no topo da montanha. Ao lado do monumento, uma placa do “Parque da FEB”. Ainda pode ver-se o início da trilha da “Sentiero da Saudade”, a única na Itália que é marcada com faixa verde-amarela (em lugar da faixa branca-vermelha). (Fotos 46 a 50)        

Parede antitanque

Parede antitanque na cidade de Borgo a Mozzano. Esta parede era uma barreira de concreto armado ao longo do vale, com espessura de cerca 2,50 metros e uma conformação intransponível por qualquer meio, inclusive tanques. Um banner da bandeira do Brasil mostra que a FEB combateu neste lugar. (Foto 51)

Posições alemãs na Linha Gótica

Sistema defensivo montado pelos alemães, desfrutando das alturas dos Montes Apeninos, para retardar o avanço das tropas aliadas. (Foto 52)

Monumento e Museu em Borgo a Mozzano

Monumento na Piazza Guglielmo Marconi, em frente ao Museu da Segunda Guerra Mundial. Fomos recebidos por Marcello Martini, presidente do Comitê de Recuperação dos Bankers da Linha Gótica. No interior do Museu, encontram-se detalhes das unidades que combateram na área (alemã, americana e brasileira), incluindo equipamentos; mapa do croqui das fortificações germânicas da Linha Gótica; padiola de carregar feridos; trabalhos de estudantes e jornais e fotos da época. (Fotos 53 a 63)

Um bunker alemão

Bunker situado debaixo de uma de uma igreja na aldeia de Anchiano, perto de Borgo a Mazzano. Inclui mapa com detalhes das áreas atingidas pelos canhões e metralhadoras germânicos; visão do Vale do Rio Sérchio, a partir do bunker, entre os contrafortes dos Apeninos, por onde deviam passar os soldados aliados; interior de um bunker alemão; janela posterior do bunker; caminho para entrar no bunker; e janela do bunker para metralhadora. Mário e Marcello aparecem ao lado da saída da sala do canhão. (Fotos 64 a 71)

Placas de Frei Orlando

Homenagem ao capitão capelão militar Antônio Álvares da Silva, Frei Orlando, do 11º R.I. de São João del-Rei, morto em Fevereiro de 1945 na estrada de Bombiana, construída pela engenharia da FEB numa antiga trilha. A trilha foi ampliada para dar passagem aos caminhões que levavam suprimentos à área de combate. O local permite apreciar o Vale do Rio Reno, com os Montes Apeninos ao fundo, e o Monte Castelo. (Fotos 72 a 79)

Monumento à FEB

Monumento erguido na Via Panorâmica, na denominada Piazza Brasile, em Montese. Inaugurado em 1995 pelo então ministro do Exército, Zenildo de Lucena, retrata o sofrimento da população e a destruição sofrida pela cidade. Especificadamente dedicado aos soldados da FEB, todo ano é realizada ali uma grande solenidade alusiva à libertação da Itália. (Fotos 80 e 81)

Museu de la Rocca

Museu localizado na cidade de Montese, que reúne material da Segunda Guerra Mundial. Inclui mapa onde se evidencia a Linha Gótica, dividida nas linhas defensivas 1 e 2 (as chamadas linhas verdes); sala dedicada à FEB; busto do soldado brasileiro Max Wolf Filho (que também tem monumento em Riva di Bishia onde foi morto); representação de enfermaria da FEB; prédio (com chafariz na frente), na praça de Montese, semidestruído durante a guerra; altar de campo do capelão brasileiro Achillis Silvestre; e material usado pela FEB. (Fotos 82 a 96)

Enfermaria da FEB em Montese

Localizado na entrada de Montese, o prédio foi utilizado após a conquista da cidade como posto de enfermaria e triagem até o término da guerra. Foi um dos poucos prédios que ficaram de pé. Além dos soldados aliados, atendia os inimigos capturados e a população civil. (Foto 97)

Fortificações alemãs (Montello)

Fortificações da Lastra Bianca, em Montese, e fortificações alemãs em meio às trilhas, que representam a linha verde 2; dormitório alemão junto às trilhas. (Fotos 98 a 103)

Monumento a Francisco Mega

Monumento dedicado ao aspirante a tenente Francisco Mega, morto por uma granada inimiga durante a tomada da cidade por parte da FEB, quando liderava a própria unidade. (Fotos 104 a 106)

Museu de Iola

Museu localizado na cidade de Iola, nos arredores de Montese, que reúne material usado na Segunda Guerra Mundial, inclusive por brasileiros. Ao lado do Museu, pode ver-se a foto da metralhadora alemã que os soldados brasileiros apelidaram de Lurdinha. (Fotos 107 e 108)

Monumento de Abetaia

Monumento dedicado aos 17 brasileiros mortos no último combate em 12 dezembro de 1944, em Abetaia, ao sopé do Monte Castelo. Pode ver-se ainda a antiga trilha por onde passavam os soldados da FEB rumo ao Monte Castelo. Por fim, a 100 metros de Abetaia, um portão de ferro de residência particular ainda mantém as perfurações de balas por soldados brasileiros em combate na Segunda Guerra. (Fotos 109 a 111)

Monumento Liberazione

Monumento em Guanella, cidade Gaggio Montano, construído entre 1999 e 2001 com recursos da Petrobrás e da antiga Telebrás, em terreno doado por um advogado que foi partigiano junto à FEB. À esquerda da estrada, havia uma trincheira usada pelos brasileiros, que ficava entre o Monte Castelo e Porreta Terme (sede do comando operacional da FEB). Do Monte Castelo, os alemães atiravam com canhões e morteiros contra Porreta Terme e a trincheira brasileira. (Fotos 112 a 115)

Posto de coleta de mortos

Posto de coleta de mortos da FEB, na estrada 64 que liga Pistoia a Porretta Terme, sede do Comando da FEB durante os ataques no Apenino Tosco-Emiliano. Prosseguindo em direção norte, a mesma estrada leva até Bologna. Desse posto, os mortos eram levados para o cemitério de Pistoia onde está hoje o Monumento Votivo Militar Brasileiro. (Fotos 116 e 117)

 

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