Não existem limites para a liberdade


Editorial

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Já se falou tudo, ou quase tudo, sobre o atentado terrorista contra o jornal satírico francês Charlie Hebdo, ocorrido no dia 7 de Janeiro, em Paris. O ataque perpetrado pelos irmãos Saïd e Chérif Kouachi deixou doze mortos, entre eles o editor-chefe do Charlie Hebdo, o cartunista Stéphane Charbonnier, e cinco feridos. Após a captura, seguida da morte dos dois terroristas, líderes políticos do mundo inteiro se deram os braços e se juntaram a uma multidão nas ruas da capital francesa, numa manifestação histórica contra o terror.

O atentado ao Charlie Hebdo despertou novamente a discussão sobre a liberdade de expressão. Até o papa Francisco opinou sobre o assunto dizendo que não se pode usar a liberdade de expressão para ofender a religião de ninguém. Para Francisco existe limite para a liberdade de expressão. O papa, que é infalível quando se pronuncia sobre dogmas da religião Católica, está certo desta vez?

A liberdade de expressão é um dos pilares fundamentais das sociedades democráticas. Não existe democracia verdadeira sem uma imprensa livre. Diferentemente do que querem terroristas e governos autoritários, que abominam qualquer tipo de liberdade. O terror se impõe pela mordaça, pela força e pelo medo, assim como os governos autoritários, que não admitem uma imprensa livre capaz de denunciar os mal feitos e a corrupção.

Justificar os atentados em Paris culpando o próprio jornal, como vêm fazendo alguns intelectuais, é inadmissível e perigoso. Não foi a liberdade de imprensa, ou de expressão – valor inegociável numa sociedade secularizada como a francesa – que levou os dois terroristas a fuzilarem a redação do Charlie Hebdo. Foi o ódio, a intolerância e o radicalismo. Atribuir à liberdade de expressão este atentado infame é dar razão ao terror.

Não existem limites para a liberdade. Seja ela religiosa, política e de imprensa. Se desejamos viver em uma sociedade plenamente livre, há que se assegurar a liberdade das instituições e de credos. Tutela e censura são mecanismos coercitivos comuns a países autoritários e a grupos terroristas.

A liberdade deve, porém, trazer consigo outro valor caro à democracia: a responsabilidade. Jornalistas devem ser responsáveis por aquilo que escrevem. O cartunista deve se responsabilizar pelos seus desenhos. O que não pode é estabelecer censura prévia, ou seja, alguém, ou um grupo, dizer o que se pode ou não se pode falar, publicar, desenhar. Se uma publicação “ofendeu” determinada religião ou um partido político, que esta publicação esteja consciente das suas responsabilidades. E que ao lado “ofendido” seja garantido o direito de se defender e de se pronunciar.

Enquanto no ocidente tenta-se discutir civilizadamente os limites da liberdade de imprensa, as políticas de imigração e a intolerância religiosa, terroristas sem rosto, sem ética e sem tolerância assombram o mundo. Eles não querem a tolerância. Não querem o diálogo. Ignoram a ética. O mundo civilizado e democrático não pode questionar seus valores pétreos para tentar justificar o terror. Para o terror não existe nenhum código moral. É a barbárie pela barbárie.

 

A liberdade é um valor em si, inegociável. A ela não se aceita nenhuma emenda, não se admite pode ou não pode.

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