O crescimento das igrejas evangélicas em Resende Costa e SJdR


Religião

José Venâncio de Resende0

Templo da Congregação Cristã do Brasil em Resende Costa. Foto José Venâncio.

Estima-se que existam cerca de nove igrejas evangélicas no município de Resende Costa. “E a tendência é crescer mais, pois hoje as pessoas são livres para escolher como servir a Deus”, prevê Dário Gonçalves da Silva, atual cooperador (espécie de pastor) da Igreja Congregação Cristã do Brasil, no bairro da Várzea (antigo Tijuco).

A primeira igreja evangélica chegou formalmente a Resende Costa nos anos 1960, mas antes disso, entre 1945 e 48, membros da Congregação Cristã do Brasil, oriundos de Volta Redonda (RJ), já realizavam cultos em casas particulares do município. Os pastores João Manoel Pereira e Joaquim Alves da Silva foram convidados por “um tal de José Barbosa”, escreveu padre Nélson Rodrigues Ferreira no primeiro volume do Livro do Tombo da Paróquia de Nossa Senhora da Penha de França.

O movimento dos evangélicos - ou “protestantes” como ele os intitulava - iniciou-se em 1945, um ano após sua posse como vigário da paróquia. Ele tratou logo de agir contra a permanência dos evangélicos na cidade. A primeira atitude foi aconselhar os paroquianos a se esquivarem dos evangélicos. Outra medida foi tentar convencer proprietários de casas a não vender as suas propriedades para eles. O médico e ex-prefeito de Resende Costa, José Vilela Costa Pinto não cumpriu a promessa. Padre Nélson, então, tentou adquirir os imóveis de Costa Pinto, mas não recebeu autorização do arcebispo de Mariana, dom Helvécio Gomes de Oliveira.

Porém, um movimento contra os evangélicos crescia em Resende Costa. “Dia 10 de setembro (1948), desde cedo, notava-se que alguma cousa se tramava”, escreveu padre Nélson, que pediu prudência “a várias pessoas ponderadas”. “Gostaríamos que se fizesse apenas uma manifestação pública, de fé católica…” Enquanto padre Nélson rezava o terço na Matriz com senhoras e moças, homens, mulheres e crianças manifestavam-se diante da casa onde se encontravam os “protestantes”. Quatro homens dirigiram-se aos protestantes e os intimaram a “sair espontaneamente” da cidade naquela mesma noite. “O povo acompanhou-os até às autoridades perante quem assinaram uma declaração, e, em seguida, foram postos em um automóvel (de propriedade do Nito do Saturnino Chaves) e levados e acompanhados até o Viegas, fora da cidade”. Quando foram expulsos da cidade, declararam às autoridades “que vieram a Resende Costa a fim de pregar o Evangelho”.

Mas os cultos continuaram a acontecer nos anos 1950, no Ribeirão, na casa de Antônio Gonçalves Filho, tio de Dário Gonçalves. Esses cultos domésticos evoluíram para a construção do templo da Igreja no Ribeirão, 46 anos atrás (por volta de 1969), segundo o pedreiro Jesus Balbino, mais conhecido por Didi, que trabalhou na obra.

Antes de mudar para a cidade, há 32 anos, Didi foi batizado na igreja do Ribeirão. Também a sua esposa, Laura Antonia da Silva, recebeu lá o batismo, em 1980. “Desde mocinho, comecei a congregar na sala de uma casa perto da Igreja do Rosário, onde havia cultos”, conta Didi. O cooperador era João Batista, funcionário da prefeitura, que frequentava o Ribeirão na época de Antônio Gonçalves. Didi também participou algumas vezes de cultos na casa de Francisco Barbosa, no Viegas.

 

Construção. Em 1983, o pedreiro Didi trabalhou na construção do templo da Congregação no bairro da Várzea. Ao lado dos tios Sebastião e Paulo Gonçalves e de Aristides Passini, além de membros da Congregação do Ribeirão, Didi construiu o templo em pouco menos de um ano.

Até o surgimento da igreja da Várzea, havia cultos numa casa particular em frente ao cemitério, conduzidos por “irmãos” de São Paulo, relata Didi. Um dos frequentadores dos cultos era Sebastião Nelson Gonçalves, que se mudara do Ribeirão para a cidade. Até que um determinado dia os trabalhos se transferiram para a casa do próprio Sebastião, na Várzea.

Didi então começou a participar dos cultos na casa de Sebastião, seu tio. Nesse meio tempo, Aristides comprou um terreno na Várzea e doou um lote para a Congregação. É neste lote que está edificada a igreja da Congregação Cristã do Brasil.

Atualmente, existem três templos da Congregação no município – Ribeirão, Várzea e Michaela – e um está em fase de construção no Bairro dos Expedicionários. São cerca de 150 membros, sem considerar aqueles que mudaram de Resende Costa principalmente para os grandes centros urbanos.

A Assembléia de Deus, segunda igreja evangélica em Resende Costa, teria surgido nos anos 1980, de acordo com Dário Gonçalves.

 

Hierarquia. A Congregação Cristã do Brasil chegou ao país em 1910, originária dos Estados Unidos, segundo o cooperador. “Consideramos pastor Jesus Cristo, daí sermos cooperadores.” Na hierarquia da igreja, abaixo do pastor vem o ancião, responsável pelo sacramento do batismo, santa ceia e participação em reuniões regionais e nacionais. Logo abaixo, aparece o diácono, “que atende os menos favorecidos”. Então, surge o cooperador cuja função é “presidir os cultos, na ausência do ancião, e visitar os irmãos”. Já a administração cuida da parte material (documentação, finanças etc.).

Dário faz questão de destacar que a Congregação não tem dízimo (as ofertas são voluntárias) e anciãos e cooperadores não recebem salário. O cooperador, por exemplo, é vendedor autônomo e também trabalha como serralheiro e agricultor. Assim, ele preside os cultos apenas nos finais de semana e à noite.

 

“Pedreiro de confiança” de padre João por dez anos

Didi foi uma espécie de “pedreiro de confiança” do padre João Rodrigues de Paula durante o período em que ele foi pároco em Resende Costa, entre 1988 e 1998. Foi procurado pelo padre João mais uma comissão da Paróquia, inicialmente para construir o CPP (Centro de Pastoral Paroquial) e reformar o Salão Paroquial, edificado por padre Adelmo Ferreira da Silva, no início da década de 1950. Foi uma conversa franca, lembra Didi, que logo no início expôs o conflito religioso. Mas o pároco prontamente esclareceu que religião e negócio eram assuntos diferentes. As duas obras duraram o tempo de um ano e dois meses.

 

“Eu e meus três filhos (Elias, Elton e Edinei) fizemos muitos serviços de pedreiro para o padre João”, conta Didi. Reformaram as duas igrejas (matriz e do Rosário), os dois cemitérios, a casa paroquial e o salão dos vicentinos. E ainda ampliaram a capela do Cajuru, que era pequena. “Na verdade, foi feita praticamente nova, um pouco maior e com torre”, lembra o pedreiro.

 

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