O PT, a crise política e as eleições municipais

O PT precisa se aproximar de pessoas, movimentos e ideias que caminham no sentido de humanização da sociedade (Luiz Antônio Pinto).


Entrevistas

André Eustáquio0

O PT vive o que talvez seja o pior momento de sua história. Seus principais líderes estão presos ou sendo investigados, sobretudo, por suspeita de corrupção. Como o senhor avalia a atual situação do partido? O PT tem a importância dele na gênese do processo de redemocratização do Brasil. Isso é inegável. Ele conseguiu aglutinar setores que tinham um projeto de governo. Projeto mesmo para mudar a vida das pessoas. Mas, para isso, o partido precisou passar pela tal governabilidade e aí vieram os problemas. Construir uma governabilidade com muitos partidos que tinham interesses diversos, isso foi complicado e é complicado. E aí explica a atual crise. Para construir a tal governabilidade com o PMDB, por exemplo, que é o caso do Michel Temer, atualmente, o partido precisou ceder aqui, ceder ali e fazer compromissos. Esses compromissos geraram os problemas que desembocaram na crise política. Exemplo: você precisa do apoio do PMDB do Rio de Janeiro, mas esse apoio não vem de graça, ele vem atrás de benesses. A governabilidade, necessária em determinado momento, agora envolveu o PT em um emaranhado de coisas, alguns líderes do PT também se envolveram, apesar de a gente não saber até onde. Mesmo apesar de ter havido algumas condenações, a gente não sabe até que ponto isso é real. Mas isso desagregou o PT enquanto partido que aglutinou tudo, trazendo a crise [política] atual. Aí veio o mensalão - e é lógico que a gente não pode deixar de falar do mensalão dos outros partidos e o modus operandi de corrupção dos outros partidos -, mas como o PT era governo, ele ficou no centro das atenções. Você vê hoje falar na Frente Brasil Popular como opção de reaglutinação das forças de esquerda no país, exatamente tentando resgatar o que foi esse projeto.

Quem é a liderança da Frente Brasil Popular? Na verdade, a Frente Brasil Popular não tem um líder, um cabeça, uma pessoa. É um aglutinado de pessoas dos movimentos de esquerda do país, que vai do PSB, sindicatos etc.

Mas vem de dentro do PT? Não, não, ela é muito mais ampla do que o PT. Ela envolve diversos partidos de esquerda e diversas entidades que tradicionalmente brigam pelas conquistas sociais. Ela está se colocando hoje como interlocutora dos movimentos sociais nesse atual momento, contra o “golpe” impetrado contra a presidente Dilma. O PT tem parte importante nela, óbvio. Tem lideranças, como o próprio presidente Lula, mas não é mais o PT exclusivo. Essa frente se propõe resgatar aquelas ideias do PT dos anos iniciais.

Mas se o PT não tivesse feito alianças com partidos, como o PMDB, que não comungam das mesmas ideias, certamente não teria condições de governar... Na verdade, não teria chegado ao poder. E para chegar ao poder foi necessária aliança com esses partidos. Aí que vem a questão, né?

Deixando um pouco de lado a governabilidade e a aliança com os chamados partidos da base, qual seria o projeto de governo dos sonhos do PT para o Brasil? Muita gente ainda associa o partido a uma ditadura de esquerda... Nada disso, o PT, diferentemente de outros partidos mundo afora ligados ao Partido Comunista da União Soviética e da França, foi um ajuntamento de diversas tendências de esquerda no país e é assim até hoje. Você tem grupos ligados ao trotskismo, ao stalinismo etc. O PT nunca foi um partido puro de ideias, que propunha a ditadura do proletariado, como se ouvia falar em muitos partidos de esquerda. Nada disso. O partido surgiu num momento de reação à ditadura militar e que não tinha, não tem e provavelmente não terá daqui para adiante essa característica. A proposta central e original do PT é ampliar as conquistas sociais e os direitos dos trabalhadores, como saúde, educação, cultura. É um partido heterogêneo e democrático em suas raízes, que se propôs juntar todo esse pessoal, para construir um projeto de governo que contemplasse as classes menos favorecidas do país. Acho que isso continua, independentemente das denúncias e das condenações que estão acontecendo. Só que estamos vivendo um momento complicado, desagregado, de ataques. Vamos ter que reconstruir. Se o PT quiser hoje, não estou dizendo nem em voltar ao poder, mas às ideias originais, vai ter que retomar um laço muito grande de atividades junto a esses movimentos para reconstruir esse projeto. Não dá para propor um governo com alianças com o PMDB, pois ele mostrou a que veio. Não é a governabilidade só para chegar ao poder. Ou se chega ao poder apoiado por um entidades e conquistas sociais, ou vai acontecer a mesma coisa.

Para retomar o diálogo com as bases é necessário líderes, e hoje os grandes líderes do PT, que no passado promoveram isso, estão seriamente comprometidos com a Justiça. O senhor vê novas lideranças nacionais do partido capazes de promover essa renovação? Com certeza. Eu estava vendo durante as manifestações em BH, o Patrus [Ananias, ex-prefeito de Belo Horizonte e ex-ministro do Desenvolvimento Agrário]. Então, são lideranças que têm ligações fortes com os movimentos sociais que poderão dar uma nova cara ao PT, a partir desse momento, vamos dizer assim. Você tem um líder em São Paulo, o filósofo Guilherme Boulos [coordenador nacional do MTST], que não tem nenhum comprometimento com essas estruturas. Dei dois nomes, mas você tem outros. Pessoas que não se envolveram nesses problemas e que com certeza têm chances de reorganizar o PT em suas bases originais. As camadas sociais que viram no PT um projeto de melhorar sua qualidade de vida, ainda veem nessas lideranças pessoas capazes de fazer isso.

O que seria para o senhor o novo PT? Não é fácil você imaginar um novo PT. É lógico que você vai continuar tendo o PT como referência, o nome, a sigla... Mas isso vai fazer parte de um debate muito mais amplo, junto com a Frente Brasil Popular, porque ela passa a ser representativa neste momento que estamos vivendo. Quando você fala em novo PT, os documentos internos do partido terão que ser reorientados, no sentido de coibir toda e qualquer possibilidade de corrupção e falcatruas. O novo PT vai ter uma reorganização partidária de recomeço, de avaliação. Mas além dessa reorganização partidária, uma reorganização ideológica. Se a gente continua tendo um projeto de poder, como vamos brigar para atingir esse projeto? Com as mesmas armas com as quais brigamos há dez anos atrás? Certamente que não. Articular com quem? Quem é confiável para articular nesse momento? Partido X ou Y, ou com movimentos sociais? Eu particularmente vejo os movimentos sociais. O PT, se quiser retomar o que foi no passado, se ele não se associar aos movimentos sociais, não vai conseguir fazer isso. Então, a única salvação do PT no momento é voltar às bases.

Como o PT se situa na discussão entre Direita e Esquerda no Brasil? Acho que aí têm dois aspectos. Um primeiro aspecto é para aquelas pessoas mais ideologizadas, ou seja, para quem tem uma formação política mais ideologizada e acadêmica continua a questão polarizada entre Direita e Esquerda, ou agenciam com o marxismo e com as ideias revolucionárias, ou se alinham com a elite econômica e burguesa. Então, essa ideia existe e nunca vai deixar de existir. Por outro lado, um partido que se propõe representar uma população muito grande, como o PT, não pode se restringir a essa discussão. Nós podemos ter uma quantidade enorme de gente no país que briga por moradia, por direitos sociais, contra discriminações, mas que não são necessariamente militantes. E o PT vai ter que saber combinar essas duas coisas: A defesa de pessoas que militam em movimentos de esquerda, propriamente ditos, e pessoas que têm todo um ideário de libertação, mas que não são necessariamente rotuladas de Direita ou de Esquerda. O partido precisa se aproximar de pessoas, movimentos e ideias que caminham no sentido de humanização da sociedade.

A crise política atingiu o coração do PT através das suspeitas envolvendo o ex-presidente Lula. Caso o Lula seja processado e eventualmente condenado, o partido sobreviveria sem seu principal líder? Primeiro, é preciso deixar claro que a condenação do Lula é um projeto da elite econômica brasileira. Eles querem criminalizar o Lula para ele não seja candidato. É uma visão minha. Eles querem criminalizar o Lula, a Dilma, como fizeram com o Zé Dirceu. Dar 23 anos para ele [José Dirceu], é uma pena de morte. Ele vai morrer na cadeia. Pessoalmente acredito que o Lula não esteja envolvido em nada, continuo defendendo isso, acredito que ele não deva nada à Justiça. Agora, o PT tem lideranças para dar sequencia ao projeto do partido. As ideias do Lula se propagaram e em torno dele gravitam muitas pessoas que possam representá-las.

O PT vem insistindo no argumento de que o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff é um “golpe” orquestrado pela oposição. Como o senhor avalia essa justificativa do partido? Um “golpe”, sem nenhuma dúvida. Até porque os motivos pelos quais ela está sendo condenada, tem um monte de políticos - governadores, prefeitos etc. - que fizeram a mesma coisa, as tais pedaladas. Então é um projeto da elite para derrubar um projeto que não é da elite. Então é “golpe” e pronto.

É preciso deixar claro, que não se fala em um golpe militar, como aconteceu no Brasil em 1964, ou algo parecido, né? Um golpe institucional, político/midiático, com a ajuda expressiva da [Rede] Globo.

A Operação Lava-Jato vem escancarando as vísceras do sistema político partidário do Brasil e a corrupção é apenas um dos sintomas de um corpo político já doente. Qual sua visão do atual sistema político partidário brasileiro? É preciso deixar claro também que a Lava-Jato faz parte do mesmo projeto da elite de criminalizar o Lula, a Dilma e tem o final. Hoje o Moro [Sérgio, juiz federal de Curitiba que coordena a Lava-Jato] já fala que ela acaba até dezembro. A Lava-Jato começou talvez com o propósito de arrombar os muros da corrupção, mas foi encaminhada para o lado político/partidário de combate ao PT. Ela tende a acabar e a corrupção continuar. E que não é uma corrupção só do PT e que começou com o PT. A corrupção de 500 anos atrás, de governos atrás, como do FHC, e que a Lava-Jato não tem como consertar. Eu acho que a Lava-Jato mergulhou o país numa confusão que eles não mediram o que poderia acontecer. Ela é suspeita e questionável, sobretudo pelo jeito que está sendo levada. Agora, em relação a como vai ficar daqui para frente, é o que a gente tanto fala, a reforma política. Para mim, o desdobramento que teria que acontecer a partir da Lava-Jato é uma reforma política radical. Se não tivermos uma grande reorganização política no país - e isso é muito difícil de acontecer, mas é o que se almeja - nós vamos continuar deste mesmo jeito. Os partidos estão falidos, as instituições estão falidas, o Congresso está falido.

O Congresso atual é capaz de realizar essa reforma política da qual estamos falando? De jeito nenhum. Quando se fala em chamar eleições para Presidente enquanto uma solução para o país, essa movimentação das ruas poderá trazer uma novidade. Eu acho eleições não só para Presidente, mas eleições gerais. Como você vai reformar o país com esse Congresso que está aí? É impossível. Eles vão continuar defendendo os interesses deles. Eu até acho que se chamasse eleições agora seria legitimar o “golpe”, porque significa aceitar que a Dilma teria que sair. Então, não seria para esse momento, mas eleições gerais para reformular o Congresso como um todo. Aí, sim, você vai conseguir ou tentar conseguir uma reforma política.

Algumas pessoas defendem uma constituinte específica para fazer a reforma política. O senhor concorda? Pode ser uma saída, ou seja, refazer a Constituição, principalmente no que diz respeito à questão político/partidária. Mesmo assim você vai achar resistência de todos os lados. Não é fácil.

Ainda existe a possibilidade de o Senado absolver, no julgamento final, a presidente afastada Dilma. Se isso acontecer, ela conseguirá governar nos próximos dois anos, implantando as reformas necessárias e “negociando” com o Congresso? Nada. Vai ser um governo arrastado. Primeiramente, seria um governo legítimo que foi eleito para isso. Eu defendo que ela tem que cumprir o mandato, mas vai arrastar porque vai continuar o embate, ela não vai conseguir implantar as políticas sociais. Vai ser um arrastamento de mandato até 2018.

Diante deste quadro, com que discurso o PT entrará na disputa eleitoral de 2018? Se não houver reforma política, acho que não vai ter nem discurso. A única maneira de concorrer em 2018, com uma proposta legítima, seria com novas bases. Se não houver um reordenamento social no país, a disputa vai ser igual às últimas, seja com o PT ou outro partido. Sem reforma política, nada vai adiante.

Politicamente falando, chegamos ao fundo do poço? Fundo não, mas bem próximo dele.

A crise política impactará as eleições municipais deste ano? Acho que nem tanto. Ela pode impactar parcialmente, porque o discurso da crise vai ser utilizado. Mas digamos que o PMDB use o discurso do impeachment da presidente Dilma, aí nós iremos utilizar o discurso que teve o governo terrível do Temer. As eleições municipais normalmente se baseiam em questões locais. Tendem a não refletir o que está acontecendo na política nacional. Aqui em Resende Costa, você vai discutir, por exemplo, o esgoto, a segurança, projetos para educação, questões de saúde etc. Eleições municipais, para mim, sempre são descoladas das questões nacionais. A nossa disputa não é tão ideológica como acontece a nível nacional.

PT e PMDB estão no olho do furacão da crise política, principalmente o PT por ser o partido do governo. Diante deste quadro, como o partido participará das eleições municipais deste ano? O PSDB também. A partir de questões locais. Eu volto a frisar isso. Em Resende Costa, especificamente, nós temos que nos estruturar para brigar por melhorias nos bairros, na questão da saúde e da educação, ou seja, coisas nossas. O debate nosso vai ser baseado nisso. O que é bom para Resende Costa? A Escola do Ribeirão é boa, deu certo, tem que investir lá? A questão do esgoto, parou por que, como se corre atrás? A questão da saúde, ah! as filas acabaram, mas os exames estão demorando dois meses, o que se propõe para isso? Tem a questão dos tombamentos dos imóveis históricos, ou seja, como o poder público vai se posicionar diante disso?

Como o PT está se articulando para as eleições municipais na região? Não tenho muitos elementos para falar das eleições na região, então prefiro não entrar em detalhes. Em São João del-Rei, o Helvécio [Reis, atual prefeito] vai tentar a reeleição e vai ser uma nova briga entre aquela elite clássica e antiga, a meu ver podre, com a periferia. O Helvécio tende a sair majoritário com os votos dos pobres e da periferia onde ele está priorizando os trabalhos. Tudo isso permeado com a possibilidade do Nivaldo [Andrade, ex-prefeito de São João del-Rei], que é populista e pode pegar a periferia, pelo fato de ser populista. Então está indefinido ainda. Mas o embate lá, até o presente momento, é entre o Helvécio e o PSDB, com o Rômulo Viegas.Em Lagoa Dourada, a tendência é que ganhe o candidato do atual prefeito. Parece que o Antônio Mangá fez uma boa administração lá. Em São Tiago, o quadro é mais complexo, eu não sei. Em Ritápolis, o PT está na administração, mas tem problemas, não vou dizer que é tranquilo e que vai se reeleger.

Em São João, o prefeito Helvécio teve muitos votos da chamada elite, ou seja, das classes média e alta da cidade. Ele teria esses votos novamente? Da elite pensante. Eu não tenho dúvidas de que ele terá esses votos e os da periferia. É engraçado e a gente não tem muita notícia disso, mas o trabalho do Helvécio está muito focado na periferia. Os maiores beneficiários da administração dele são os mais pobres, mas a imprensa não mostra isso, os jornais não falam disso. Ele é, então, um fortíssimo candidato, a depender dessa questão do Nivaldo que, como todo populista, entra comendo pelas beiradas.

O senhor é a principal liderança do PT em Resende Costa, portanto, quando se fala em eleições municipais, os eleitores e lideranças políticas locais logo querem saber como o doutor Luiz vai participar, ou quem ele irá apoiar. O senhor é candidato nestas eleições? Sou candidatável, vamos dizer assim (risos). Até julho vamos definir isso. O PT tem meu nome, tem o nome do Adilson [Resende, empresário e ex-prefeito de Resende Costa], pode ter algum outro nome, mas, em princípio, nós dois. O Adilson fez uma administração que eu considero boa e tanto o nome dele quanto o meu seriam permeáveis para a população. Agora, qual dos dois vai ser, não sabemos. Pode ser que o PSDB saia sozinho, que o PDT saia sozinho... O certo é que nós teremos candidato, não tenho nenhuma dúvida disso. O que acho mais provável é uma chapa com meu nome e com o nome do Adilson, mas não ainda definido quem vai ser cabeça de chapa. Nós vamos fazer pesquisa, ver quem tem mais aceitação. Se tiver que ser eu, eu não nego, eu aceito. Se tiver que ser ele, vou apoiar.

Tudo indica que em Resende Costa, haverá uma aliança do PSD, do atual prefeito Aurélio Suenes, com o PSDB. Como o PT está se preparando para disputar com o prefeito tentando a reeleição, com o apoio do PSDB? Primeiro, a gente é uma grande força política aqui, ninguém pode negar isso. Nós temos nosso eleitorado, o nosso trabalho nos bairros da cidade e na zona rural. Nós somos candidatíssimos. Segundo, eu vejo com bons olhos o PDT querendo se lançar e parece que o nome é o Galhardo [Sousa]. [O PDT] É uma força emergente, que até então sempre fez parte de governos, nunca assumiu identidade própria, mas parece que nesta eleição tende a assumir identidade própria. Isso é um fato interessante. A aliança PSD e PSDB não é tranquila assim. O PSDB todo não está aceitando isso. Eles têm visões diferentes entre si, acham que podem disputar a prefeitura, então só o mês de julho poderá confirmar isso. Nós, com a fatia que temos da população, vamos estar disputando. Acho o seguinte, se for uma disputa entre o prefeito e nós, a luta fica mais difícil para a gente, é óbvio. Com relação ao PMDB, faço uma crítica: sempre anda a reboque. Então, se o vice for do PSDB, será que eles [PMDB] vão se contentar com uma secretaria? Não sei. Se a eleição for fragmentada entre três ou quatro partidos, a nossa chance aumenta muito. Avaliação que eu faço é essa. Nua e crua.

O senhor é vereador e já foi prefeito de Resende Costa. Em sua opinião, quais são os principais desafios a serem enfrentados em Resende Costa pela próxima administração? O principal desafio é a questão da saúde. A educação já avançou muito, teve alguns retrocessos, a meu ver na atual administração, mas coisas que podem ser corrigidas, questões administrativas. Ninguém, por exemplo, tem coragem de desativar o núcleo de educação no Ribeirão [Escola Municipal Paula Assis], nenhum prefeito. Deu certo. Nas outras questões, segurança, por exemplo, a gente vive numa cidade relativamente tranquila. Há problemas localizados: as estradas rurais serão problemas para as administrações a vida inteira, por se tratar de um município grande. Mas não será o mote da campanha. A questão do artesanato e cultura pode ser mote interessante, sim, porque é o nosso futuro econômico. Quem tiver propostas mais ousadas para esse setor poderá agregar mais pessoas em torno de uma campanha.

Qual vai ser o mote do PT para a campanha eleitoral deste ano? A gente ainda está definindo. Quando falo que a saúde é o mais importante, é porque eu acho que está capengando, em todos os sentidos. Eu vi uma matéria do jornal [JL] falando que as filas para marcação de consultas tinham acabado, mas não resolveu nada. Hoje, o agente de Saúde pega os pedidos de exame, mas ao invés de a pessoa ir para a fila, ela espera três meses para fazer o exame. Então não resolveu nada. Eu vejo o debate democrático como forma de formular programas de saúde pública para o município. Foi um programa que vigorou muito tempo aqui. Ou seja, resolver as questões de saúde de forma participativa, ampla. Para onde vão os recursos, quais serão as prioridades etc. Isto se perdeu. A questão do esgoto, eu não abro mão disso. Acho que tem que ter uma solução para a questão do esgoto em Resende Costa, e a solução vai estar nas mãos da nova administração, porque chegou ao limite. Vai inaugurar uma ETE [Estação de Tratamento de Esgoto], que vai atender alguns setores da cidade, mas outros setores ficarão sem atendimento? Tem que haver uma solução. Por isso, acho que a questão da saúde irá permear a campanha, vai ser o mote.

E o artesanato, não vai entrar neste debate? Sim, a questão do turismo, do artesanato e da cultura pelo fato de ser a grande motivação econômica da cidade hoje. Vejo um problema muito grande no artesanato, que é a invasão na cidade de artesanatos de outros locais. O comércio se rendendo a um artesanato que não é o nosso e que pode descaracterizar o nosso. Então, a administração pública vai ter que pensar uma maneira.  Acho que a festa [Mostra de Artesanato e Cultura] não é a solução, pois virou festa. Está todo mundo preocupado com os shows e ninguém quer discutir a questão do artesanato. Temos que repensar como a administração pode entrar nessa discussão e ajudar. A cultura não é algo paralelo, mas central. Se você não valorizar a questão cultural, de formar as cabeças, o resto fica difícil. Nós cumprimos esse papel em nossa administração, ou seja, formar cabeças, motivar as pessoas para a vida, para o trabalho, para a educação, de uma forma organizada e saudável.

Se o senhor fosse hoje prefeito de Resende Costa, quais seriam suas prioridades para o município? Resolver a questão da rede de esgoto é a primeira prioridade. A próxima administração não tem escolha, vai ter que resolver isso, com queimação ou sem queimação. Trata-se de uma questão de saúde pública. Na área da saúde, tem que repensar. Ela [saúde] está num estágio de repetição das mesmas coisas e não avança. Todo ano é o mesmo convênio com o Hospital, a mesma planilha, mas em termos de qualidade, não muda nada. Acho que há um espaço muito grande para melhorar a qualidade da saúde em Resende Costa e, consequentemente, a qualidade de vida das pessoas. Outra prioridade é o artesanato. As pessoas vivem disso. O que podemos pensar de forma incisiva para reforçar o artesanato enquanto opção econômica para Resende Costa? Não é só a festa. Precisamos rediscutir a questão da produção artesanal. Você tem hoje centenas de pessoas trabalhando quase que em condições de escravidão. O artesanato tem que ser uma opção interessante de trabalho em Resende Costa. As pessoas precisam produzir e trabalhar dignamente. A nossa ligação histórica com o artesanato está se perdendo.

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