Em diversos municípios do Brasil, as eleições deste ano ficaram marcadas pelo desânimo dos eleitores e, de modo especial, pelo alto índice de desistência de prefeitos que não quiseram concorrer à reeleição. Em muitos lugares, houve candidatura única, como é o caso de Carrancas, na microrregião do Campo das Vertentes. A crise econômica que vem atingindo os municípios, sobretudo aqueles que dependem quase que exclusivamente do FPM (Fundo de Participação dos Municípios), assustou muitos prefeitos que optaram por somente cumprir o mandato e voltar para casa.
Em Resende Costa, o prefeito Aurélio Suenes de Resende (PSD) pensou diferente e optou por tentar a reeleição. Enfrentando somente um candidato, o ex-prefeito Adilson Avelino de Resende (PT), Aurélio costurou uma ampla aliança com PMDB e PSDB e saiu vitorioso de uma campanha, que pela primeira vez seguiu as novas regras eleitorais estabelecidas pela Lei nº 13.165, de 29 de setembro de 2015.
O jornalista e especialista em hábitos de consumo de mídia e comportamento político-ideológico, Fernando de Resende Chaves (leia entrevista na página 5), foi, ao lado de seu irmão Cícero de Resende Chaves, um dos coordenadores das duas campanhas que elegeram o prefeito Aurélio Suenes. Em conversa com o JL, ele avalia a campanha eleitoral deste ano: “no geral, a nova legislação trouxe alguns avanços, mas também alguns retrocessos. Eu vejo, por exemplo, a proibição de doações empresariais para as campanhas como um grande avanço, pois diminui o peso do poder econômico nas disputas e dificulta práticas como o caixa dois. É mais fácil fiscalizar CPFs do que CNPJs. Também vejo a restrição à poluição sonora e visual como positiva. Por outro lado, tenho ressalvas quanto à diminuição do tempo de campanha, que desestimula o debate político numa sociedade que tradicionalmente nega a política. Além disso, a redução do tempo de campanha no Rádio e na TV, por exemplo, privilegia aqueles políticos que já possuem muita visibilidade e dificulta a construção de novas lideranças”.
Fernando destaca especificamente a campanha eleitoral em Resende Costa: “Eu que tenho trabalhado em outros municípios, percebo que a política de Resende Costa é realmente diferenciada pelo nível de respeito entre adversários, pelo custo modesto das campanhas e por trazer pouca poluição sonora e visual. O resende-costense pode ficar orgulhoso da política que tem”.
O recado das urnas
Para Fernando Chaves, a votação expressiva que o prefeito Aurélio Suenes obteve nestas eleições (4.540 votos) revela o anseio de grande parte do eleitorado resende-costense. “O resultado das urnas significou, acima de tudo, a vitória de um governo de muitos e a derrota de um governo de poucos. Porque governo de poucos é aquele que não se abre para alianças e parcerias. Governo de poucos é aquele que é montado apenas com um partido e com um grupo político isolado, como já vivenciamos em outros tempos em nossa cidade. Mas em 2016, o eleitor disse não a esse tipo de gestão”. Fernando chama a atenção para a força das alianças e parcerias: “A reeleição do prefeito Aurélio representou a vitória de um modelo de governo que é coletivo, baseado em alianças e parcerias políticas. Representou a vitória de uma gestão pública que é técnica e significou a derrota de um projeto de governo que é político-partidário, fechado em si mesmo”.
O partido da juventude
O PT sempre foi visto em Resende Costa, desde a sua fundação no início da década de 1980, como o partido que mais atrai a simpatia e o voto da maioria dos jovens. Porém, nas duas últimas eleições viu-se na cidade que grande parte do eleitorado já não tem a preferência pela legenda. De acordo com Fernando Chaves, o magnetismo que o PT exerceu na juventude resende-costense teve seu ápice nas décadas de 1980, 1990 e um pouco menos na década de 2000. “Hoje, o quadro é muito diferente. Ao longo de todos esses anos, o PT de Resende Costa demonstrou-se incapaz de renovar os seus quadros políticos. O eleitor jovem percebe isso”.
Na avaliação de Fernando Chaves, o recém-criado, porém, já vitorioso PSD, do prefeito Aurélio, é o partido que “hoje encabeça nitidamente a representação da juventude na política de nossa cidade”. Ele aprofunda a sua análise: “algumas evidências disso: o candidato mais jovem a prefeito nas últimas duas eleições foi o atual prefeito Aurélio e a bancada mais jovem da Câmara Municipal eleita em 2016 é a do PSD. Projetos inovadores da gestão de Aurélio também evidenciam esse vínculo e esse entrosamento com a juventude, como o programa de estágio da prefeitura que beneficia os jovens universitários do nosso município”.