Praça Doutor Costa Pinto


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André Eustáquio/Alair Coêlho de Resende1

Canteiros altos e o descuido do Poder Público afetam a estética da Praça, que necessita de revitalização. (Fotos Emanuelle Ribeiro)

Um dos mais tradicionais espaços públicos de Resende precisa ser revitalizado

O dia amanhece na cidade das lajes. Nem bem o sol despontou no alvorecer do dia e de um lado para o outro já surgem os primeiros transeuntes nas ruas e nas esquinas. Surgem a pé, de moto ou de carro, despertando a cidade. O movimento é sempre o mesmo, as pessoas são quase sempre as mesmas, a rotina mantém-se inesgotável e incansável. É assim que a vida ressurge cotidianamente a cada manhã em nossa cidade. Na rua dá-se o encontro, às vezes apressado. Nas esquinas, logo surgem as primeiras notícias do dia e a madrugada é passada a limpo. Nas praças o dia começa em compasso lento de espera. Ali, o relógio trabalha pausadamente, tornando a prosa ainda mais saborosa.

Na Praça Doutor Costa Pinto, localizada no centro de Resende Costa, uma frondosa árvore da espécie Espatódea (popularmente, Espatodeia), plantada nos idos da década de 1960 durante a administração do prefeito Antônio de Resende (Antônio Honório), acolhe, com sua sombra, os fieis visitantes que toda manhã batem ponto no local. É difícil, porém, imaginar que esta praça, num passado não tão longínquo, fora um logradouro ermo e com poucas edificações.

Quando a urbanização dos arredores da Vila de Resende Costa já se tornava mais vigorosa na primeira metade do século 20, as autoridades locais decidiram demolir a única casa que havia no início da Rua Gonçalves Pinto. O imóvel - que teria sido residência de uma família que ficou conhecida como do “senhor Goulart” - se achava em péssimo estado de conservação. A casa demolida situava-se próximo ao então “Largo do Zé Jacinto”, como era conhecido o local onde foi construída a Praça Doutor Costa Pinto, que, durante anos a fio, de praça só existiu o nome. Na verdade, o logradouro não passava de um terreno baldio. Não havia sequer meios-fios ou algum canteiro que pudesse designar uma praça.

Mas quem foi o ilustre cidadão que dá nome a uma das principais praças de Resende Costa?



Médico e homem público

O doutor José Vilela da Costa Pinto foi um dos homens públicos de maior importância e prestígio em Resende Costa na primeira metade do século 20. Costa Pinto nasceu em Lavras e mudou-se para a então Vila de Resende Costa no início do século passado, onde passou a exercer com eficiência e muito desprendimento sua profissão, a medicina. Em pouco tempo, o médico se integrou à política local e logo se fez vereador da vila.

Em 1925 foi eleito, por seus pares, para o cargo de vice-presidente da Câmara de Resende Costa. Nesta época era presidente da Câmara e, consequentemente, do Conselho Municipal, o coronel Francisco Mendes de Resende, outro homem a quem Resende Costa muito deve. Em 1926, o doutor Costa Pinto sucedeu ao coronel Mendes de Resende. Durante sua administração, que foi até 1946, muitas obras foram realizadas no município.

Entre seus feitos enquanto prefeito, doutor Costa Pinto construiu a estrada de rodagem que liga Resende Costa a São Francisco Xavier, hoje Cel. Xavier Chaves. Durante a sua administração foi instalado um serviço telefônico conectando Resende Costa a São João del-Rei. Os aparelhos telefônicos que se espalharam pela cidade, obviamente nas casas das pessoas de melhor poder aquisitivo, eram uns pequenos armários, que se fixavam nas paredes e eram acionados por manivelas que giravam entre magnetos, emitindo chamados via campainhas que alertavam as imprescindíveis telefonistas.

Foi empreendimento do governo do doutor Costa Pinto a aquisição do belo sobrado situado na Praça Nossa Senhora de Fátima, que no passado foi sede do governo municipal e hoje é o paço do Legislativo.

Um fato curioso a ser destacado é que o primeiro automóvel que chegou a Resende Costa era de propriedade do doutor Costa Pinto. O veículo foi recebido com muita festa e curiosidade pela população. Tratava-se de um carro Chevrolet, modelo Ramona, com capota de lona.



Numa praça contam-se estórias e histórias...

Um dos maiores prazeres para quem gosta de passear numa praça é dedicar o tempo para ouvir um bom causo, partilhar histórias e até mesmo inventar estórias. Na praça a vida se torna pública e ao mesmo tempo lúdica, e as nossas histórias se democratizam. Na ágora (praça, no grego antigo) da nossa cidade os ecos da história se reverberam nos bancos tanto quanto acinzentados pelo tempo.

A Praça Doutor Costa Pinto tem importante significação histórica para Resende Costa, devido, sobretudo, aos vários e ilustres moradores dos arredores.

Nesta praça morou o senhor José Jacinto Lara, que foi uma das mais importantes personagens que residiram no antigo largo. Competente farmacêutico, José Jacinto foi o primeiro morador da casa onde hoje residem a farmacêutica Maria Auxiliadora Fonseca Lara e sua irmã Maria de Lourdes Fonseca Lara, suas netas. Na esquina da praça com a rua Pedro Vale, o farmacêutico mantinha sua farmácia, certamente a primeira de nossa cidade.

Médicos na Vila de Resende Costa, após a morte do doutor Gervásio, tinham permanências ocasionais, e o senhor José Jacinto, homem de alta competência no campo da medicina, embora não tivesse formação acadêmica na área, é que atendia toda a população. Muitos males que afligiam as pessoas ele debelou, e, é certo, muitas vidas salvou. Sua morte significou uma lacuna na Vila.

Na casa do senhor José Jacinto funcionou, na década de trinta até a metade da década de quarenta, o consultório odontológico do doutor José Resende Lara, filho do senhor José Jacinto e pai das atuais moradoras. José Resende Lara foi o primeiro resende-costense a se graduar em odontologia.

Depois do falecimento de José Jacinto, onde fora sua farmácia foi instalado um depósito de pães e quitandas que eram produzidos na Padaria do Chico de Melo padeiro. Este estabelecimento tornou-se o ponto de encontro, diário, às noites, dos homens da sociedade resende-costense.

Na Praça Doutor Costa Pinto, em sua confluência com a rua Gonçalves Pinto, na esquina à esquerda, foi construída pelo senhor Antônio de Souza Maia Júnior, o Nico de Souza, uma belíssima e confortável casa, em estilo eclético, mas com predominantes influências do estilo ars nouveau. Este ilustre cidadão foi prefeito municipal de Resende Costa, em mandato tampão, de 1948 a 1950. A luxuosa residência se transformou em sala de recepção de Resende Costa e, nela, todas as personagens importantes que nos visitavam eram recebidas com todas as honras. Na residência do senhor Nico de Souza, hoje conhecida como “Pensão do Boqueirão”, foram recebidos, por exemplo, o Presidente do Estado de Minas Gerais, doutor Antônio Carlos de Andrada, o Arcebispo Metropolitano de Mariana, Dom Helvécio Gomes de Oliveira e muitas outras pessoas de importância. Outro morador na confluência da rua Gonçalves Pinto, desde 1943, foi o funcionário da prefeitura, Antônio Pinto de Góes Lara (o Góes), que cuidava das praças e estradas do município, o qual foi o encarregado de plantar a Espatodeia acima citada.

Quando foi criado o Termo Judiciário Municipal de Resende Costa, subordinado à Comarca de Prados, foi nomeado seu primeiro Juiz Municipal, o doutor Pedro Muzzi e, na falta de moradia mais condigna, o Nico de Souza e sua esposa, Donana do Nico, mudaram-se para a casa dos pais dela e cederam sua residência para o juiz Pedro Muzzi e sua esposa dona Zaíra.

A praça Doutor Costa Pinto sempre teve papel de relevância na história de Resende Costa, sobretudo no que tange aos eventos sociais, mesmo porque era na praça que eram instaladas as quermesses promovidas pelas irmandades religiosas e movimentos de caridade das damas de nossa cidade. Nestas quermesses sempre havia música ao vivo, o que as tornavam mais festivas. Ainda hoje, em datas festivas na cidade, como Carnaval e Semana Santa, algumas barracas são instaladas na praça.

Toda cidade possui suas praças. Umas pequenas, outras espaçosas; uma mais aconchegante e arborizada, outra mais simples, mas nem por isso menos convidativa a uma pausa no dia para descansar e contemplar o vai e vem da cidade. Certo, porém, que dos lugares públicos de uma cidade a praça continua sendo o principal espaço de convivência.

Testemunha de um passado rico da cultura de nossa cidade, a Praça Doutor Costa Pinto não mais ostenta o charme de outrora. A construção de canteiros altos e feios, ferindo a sensibilidade estética de qualquer pessoa, a deixou escura, ficando a praça à mercê de vândalos que frequentemente a depredam. Uma pena. Essa configuração foi feita em uma das passagens pela Prefeitura de Resende Costa do ex-prefeito Gilberto Pinto, como forma de proteger os canteiros de flores. Entretanto, o mais correto e construtivo teria sido cuidar da praça e, de alguma maneira, batalhar para educar os vândalos.

 

Vizinhos e visitantes esperam que o poder público revitalize logo a Praça Doutor Costa Pinto, deixando-a novamente digna de ser um dos mais belos e importantes espaços públicos de Resende Costa.

Comentários

  • Author

    Que texto interessante e uma aula de história em torno desta Praça. Realmente esses canteiros altos tiram o encanto da Praça, mesmo não presenciado ela de outra forma torço para que o poder público dê a devida atenção e possa transforma-la em um lugar mais atrativo. Tenho certeza que ficará mais interessante o local com essas belas construções de RC.


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