Produção de leite em Resende Costa tem como base a mão de obra familiar


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André Eustáquio/Emanuelle Ribeiro0

O cuidado com o gado e o zelo com a propriedade são fundamentais para o sucesso da produção de leite. Foto Emanuelle Ribeiro.

Recentemente, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou dados da produção animal em 2014, abrangendo números de rebanhos e volumes por cidades. Uma reportagem publicada na edição de janeiro último do JL destacou os principais produtores de leite da região dos Campos das Vertentes. São João del-Rei se destaca como o maior produtor (35,06 milhões de litros) da região. Resende Costa teve um aumento de 9,1% sobre o volume de 2013, chegando a 14,54 milhões de litros.

De acordo com o extensionista agropecuário da Emater-MG, Marcos Túlio Resende Maia, Resende Costa se destaca entre os municípios produtores de leite da região: “Eu não possuo com exatidão essa informação [quantidade produzida], mas com certeza o município é um produtor de leite e derivados de destaque na região”. De acordo com Túlio Maia, a maioria dos produtores de leite de Resende Costa se enquadra no perfil de pequenos produtores. A diferença entre pequeno, médio e grande produtor se dá, principalmente, no volume produzido. “Outro ponto está na mão de obra familiar empregada e podemos dizer também, a área utilizada”, explicou o extensionista da Emater. A maioria dos produtores resende-costenses atinge a média de 100 a 300 litros de leite por dia, conforme informou Túlio.

 

Grandes produtores que venceram desafios e hoje começam a deixar seus legados

Há 30 anos no ramo da produção de leite, Benoni José de Lima é hoje um dos maiores produtores do município. Com 80 vacas de leite, a produção atual de sua propriedade atinge 1500 litros por dia, enviados para o Laticínio PJ em Ingaí/MG: “A produção hoje ainda é baixa. Nossa meta é chegar aos 2000 litros. Lembrando que nem todas as vacas produzem diariamente”, informou Benoni.

A conversa com o JL no Sítio Vassoura, localizado cerca de sete quilômetros da cidade, começou com um “café bravo”, como gosta de dizer o próprio Benoni. O produtor percorreu um longo caminho para alcançar o status de grande produtor de leite: “Trabalhei com carvão e minério também. Cheguei a ir para São Paulo. Depois resolvi mexer com leite”. Foi preciso muita persistência: “Cheguei a vender meu gado duas vezes. Faltavam conhecimento e mão de obra. Eu sabia o que queria, mas me faltavam as ferramentas”, disse Benoni.

Depois de se desfazer do gado por duas vezes, Benoni persistiu e comprou um novo plantel na Fazenda Caiuaba. E dessa vez deu certo. Além da força de vontade, o produtor se apoiou nas associações para buscar conhecimento sobre o assunto: “A COAPRO ajudou muito na minha aprendizagem. Também participei de cursos e projetos, como o Educampo e fui aprendendo a administrar a propriedade. Hoje, faço parte do projeto Balde Cheio, que nos oferece um suporte bacana. A gente tem um veterinário e um técnico agrícola que vêm sempre para nos ajudar”.

Disposto a tocar o negócio, Benoni teve o apoio dos filhos, que se tornaram sócios e parceiros fundamentais para que tudo desse certo. Desde adolescentes, Benoni Leandro Almeida Lima e Bruno Leonardo Almeida Lima ajudam o pai na propriedade. Assim que concluíram o Ensino Médio, não pensaram em outra coisa além de investir na produção de leite.

 

A estrutura familiar. O trabalho incansável da dupla de filhos Leandro e Leonardo é um dos segredos para o sucesso da propriedade. Hoje, cada um tem sua função definida no sítio: Leandro cuida do gado, Leonardo do maquinário e os dois se ajudam quando necessário. A rotina é cansativa, mas eles gostam do que fazem e isso é essencial. Além de gostar do trabalho, o segredo, segundo Benoni, é tratar o negócio com profissionalismo: “A fazenda é uma empresa”.

Todos os dias, pai e filhos começam a rotina cedo e terminam tarde no Sítio Vassoura. A primeira ordenha é às 5 horas da manhã. À tarde, por volta das 15 horas, o processo é repetido. Apesar de trabalhar duro, as ferramentas adquiridas ao longo do tempo auxiliam no trabalho. Ordenha mecânica, inseminação artificial, trator, implementos. Praticamente todo serviço necessário à manutenção do negócio é realizado dentro da propriedade: “Superamos os momentos de dificuldades, pois acreditamos nos projetos e sabíamos o que queríamos. Hoje, estamos mais tranquilos. Temos máquina pra tudo e eu gosto de acompanhar. Sou apaixonado por tecnologia”, afirmou Benoni. Com o processo quase todo mecanizado, Benoni diz que a qualidade do leite produzido no seu sítio é espetacular: “É o leite que eu dou para a minha família, para os meus netos. Fazemos análise constante”.

A partir da assessoria do Programa Balde Cheio, Benoni passou a trabalhar com o sistema de piquete rotacionado: o terreno é dividido em pedaços, sendo que o gado fica cada dia em um desses pedaços. “Assim, todo dia o gado come capim novo. No nosso caso, as vacas passam a noite nos piquetes. Durante o dia, a gente costuma soltá-las no pasto. É interessante, porque assim elas limpam as unhas e também é importante para a digestão”, falou quem entende do assunto.

Outra importante atividade exercida no Sítio Vassoura durante muito tempo foi a fabricação de doce. O doce de leite produzido pelo Benoni tornou-se famoso em Resende Costa e região. Mas há quase cinco meses, o produtor encerrou a produção: “Estou um pouco cansado e também aumentamos a produção de leite, o que demanda tempo”. Para quem experimentou o doce, saiba que foi difícil encontrar a receita ideal: “Nunca tinha feito doce antes. Antes de dar certo eu errei muito. Você só aprende quando a galinha, o cachorro e o porco já comeram. Depois que encontrei o ponto certo, a receita foi mantida por muitos anos”, brincou ele.

 

Associativismo. Benoni acredita que o associativismo é importante para qualquer atividade e, segundo o produtor, foi nas associações que ele aprendeu muitas das coisas que sabe. Ele é associado à Arcosta (Associação de Pequenos Produtores e Trabalhadores Rurais de Resende Costa). “Sou a favor das associações. Hoje os grupos se dividiram, infelizmente. É preciso que todos entendam como funciona. Há muitos benefícios, mas é claro que também precisamos contribuir. Temos que agradecer também à Emater, que sempre que preciso nos dá suporte”, defendeu.

 

De pai para filhos. José Humberto Resende, 53 anos, proprietário da Fazenda Jacaré, na região dos Campos Gerais, é também considerado um grande produtor de leite do município de Resende Costa. Ao lado de seus dois filhos, Henrique Augusto Pinto Resende e Vinícius Pinto Resende, José Humberto administra a propriedade de aproximadamente 22 hectares, onde, além da produção de leite, cria gado de corte, pratica a apicultura e ainda cria cavalos da raça Mangalarga. “Os cavalos são para lazer”, conta José Humberto que, apesar do tempo dedicado quase exclusivamente à lida na atividade leiteira, não abre mão de participar de cavalgadas, sempre na companhia de sua esposa Míriam Resende.

A atividade leiteira tornou-se presente na vida de José Humberto desde os 15 anos de idade. Filho do conhecido produtor resende-costense, Antônio Mozart de Resende, José Humberto renunciou à possibilidade de continuar os estudos, assim que concluiu o curso técnico, para se dedicar aos trabalhos na roça, junto ao seu pai. “Naquela época, não tinha outro jeito. Tive que abrir mão para trabalhar”, lembra o produtor. Hoje, seus dois filhos Henrique e Vinícius seguem a mesma trajetória do pai, confirmando as características da produção familiar em Resende Costa: “Às vezes eu estava na roça e aí o Henrique e o Vinícius chegavam lá, dizendo que não ia ter aula. Logo começavam a trabalhar. Eu ficava com a consciência pesada por eles estarem lá trabalhando. Depois vi que o que eles gostavam mesmo era de estar lá na roça comigo”.

Na Fazenda Jacaré, José Humberto possui aproximadamente 50 vacas leiteiras da roça Girolando, atingindo a média atual de 900 litros por dia. Seu pai, Antônio Mozart, a quem José Humberto auxilia diariamente, produz entre 900 e 1200 litros por dia. O leite da Fazenda Jacaré é vendido para o Laticínio Santa Rosa, de São Sebastião da Vitória, distrito de São João del-Rei.

 

Assim como Benoni, José Humberto administra sua propriedade mantendo a organização e o planejamento. “A atividade leiteira exige que você faça investimentos todo ano. Sem planejamento e organização não dá”, diz o produtor. Em sua propriedade, José Humberto mantém um diário onde anota todo o movimento da fazenda, desde informações referentes ao gado até o índice de chuvas. “Atualmente, mantemos esse caderno, onde são registrados todos os acontecimentos na propriedade. Monitoramos tudo, para depois fazermos uma avaliação anual e nos programarmos”, explica.

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