Produtos orgânicos conquistam a preferência dos consumidores e ganham destaque nas prateleiras dos supermercados


Notícia

André Eustáquio0

Afonso Magalhães é o único produtor de orgânicos em Resende Costa. Foto André Eustáquio

Afonso Magalhães, proprietário do Sítio São José, é o único produtor de orgânicos em Resende Costa e já está expandindo a oferta dos seus produtos

Em 2009, o produtor rural Afonso Camilo Magalhães, 57, decidiu mudar de atividade: vendeu as vacas, fechou o curral e começou a plantar hortaliças. “Resolvi investir naquilo que eu sempre tive vontade de trabalhar, que é o cultivo orgânico de hortaliças”, disse Afonso, que recebeu a reportagem do JL em sua propriedade, o Sítio São José, localizado na entrada de Resende Costa.

Afonso começou o cultivo de hortaliças em pequena escala. “No início produzíamos apenas alface em quatro canteiros, de onde saiam quatro caixas semanais do produto”. A produção foi aumentando de acordo com a demanda. A propriedade de Afonso Magalhães possui nove hectares, sendo 2,5 de produção. No Sítio São José tudo é cuidadosamente adequado para o cultivo correto dos produtos orgânicos, desde o preparo do terreno até a embalagem dos produtos em caixas de plástico. Antes, porém, de serem colocadas nas caixas, as hortaliças são selecionadas e lavadas, uma a uma, com água tratada da Copasa. “As folhas que não são aproveitadas são utilizadas para adubação”, ressalta Afonso.

Percorrendo os canteiros das plantações do Sítio São José veem-se diversas variedades de hortaliças, temperos e raízes: alface, chicória, couve, mostarda, couve chinesa, rúcula, espinafre, repolho, couve-flor, brócolis, agrião d’água, coentro, salsinha, hortelã, manjericão, cebolinha, cenoura, beterraba e rabanete. “Estamos começando a produzir raízes em escala maior”, revela Afonso.

 

Preservação da biodiversidade

O cultivo de produtos orgânicos exige do produtor cuidado cirúrgico com a terra e com a propriedade. Afonso faz questão de destacar que o preparo dos canteiros, a adubação e a capina são realizados manualmente. “É importante para a produção orgânica que se preserve a biodiversidade, pois, quando se usa agrotóxicos e herbicidas os animais da nossa fauna desaparecem. Aqui na propriedade a gente vê muitos pássaros, tatu, micos, cobras, entre outras espécies”. Afonso preserva em sua propriedade uma área de 1,5 hectare de mata nativa, onde se localizam duas nascentes. “Inclusive, são essas nascentes que irrigam os canteiros”, diz o produtor.

Segundo Afonso, a preservação da biodiversidade na área de cultivo é fundamental para o combate às pragas. “O equilíbrio da biodiversidade, que nós já conseguimos aqui, faz com que as pragas (lesmas, pulgões, brasileirinhos...) encontrem aqui os seus próprios inimigos”, explica. A adubação do terreno é feita de maneira orgânica. “A gente utiliza compostagem e biofertilizantes. Mas o que substitui o agrotóxico são as plantas naturais, inclusive o fumo, e homeopáticas, que combatem as pragas”. Existem plantas cultivadas no período das chuvas, com o objetivo único de adubar o terreno para o cultivo orgânico. É o que se chama de adubação verde. O girassol é uma dessas plantas.

 

Cultivo

Quando o consumidor opta pelos produtos orgânicos nas prateleiras dos supermercados, ele está à procura de sabor e saúde. E tudo começa no manejo do campo. Nos grandes cultivos de produtos convencionais é cena comum ver aviões pulverizando as plantações, além de enormes tratores plantando e colhendo, dispensando os trabalhadores. Na propriedade do Afonso Magalhães o micro e único trator é utilizado somente para o transporte e preparo do terreno. “No mais, tudo é feito manualmente seguindo a legislação para o cultivo orgânico, preservando o meio-ambiente, a saúde dos nossos trabalhadores e, claro, cuidando da saúde do consumidor”, destaca Afonso.

Afonso conta com os serviços de quatro trabalhadores (Edmar, Eustáquio, Bruno e Lázaro), a quem ele chama carinhosamente de “verdureiros”. Bruno Vitor Silva tem 18 anos e trabalha no Sítio São José desde os 13. Ele sente orgulho do que faz e revela que aprendeu tudo na propriedade: “Eu aprendi tudo aqui a partir de uma experiência de trabalho. Gosto do meu trabalho e reconheço a qualidade e a importância do produto orgânico para mim e para o consumidor”.

Todo o cultivo dos produtos que saem do Sítio São José é acompanhado pela engenheira agrônoma Karina de Almeida. “Ela conhece mesmo. Vem aqui quinzenalmente e acompanha passo a passo todo o cultivo”, destaca Afonso, que não esconde a preocupação em oferecer aos consumidores um produto de qualidade.

As mudas das hortaliças cultivadas no Sítio São José vêm da cidade de Carandaí (MG) e a variedade delas, segundo Afonso, segue as épocas do ano: “Nós temos plantas para cultura de inverno e de verão. Geralmente hortaliças, como a alface, podem ser plantadas durante o ano todo”.

 

Da horta para o supermercado

“A maioria dos clientes dos supermercados pergunta: é do Afonso ou da Ceasa?”, conta sorrindo Afonso, que fornece seus produtos a todos os supermercados, escolas estadual e municipal, lanchonetes e restaurantes de Resende Costa, além de vender diretamente na porta do sítio. Ele já tem fregueses que não abrem mão dos seus produtos e esperam toda manhã pelas verduras fresquinhas. “Aqui no sítio vem muita gente que mora fora e trabalha em Resende Costa. Eles procuram na porta por saber que se trata de um produto orgânico”.

Afonso entrega os produtos diariamente nos supermercados da cidade. “Quinta-feira e sábado são os dias de maior procura nos mercados”, diz o produtor, que já está expandindo o fornecimento para São João del-Rei: “Uma vez por semana entregamos 20 cestas de produtos orgânicos em São João del-Rei. Essa entrega é feita em domicilio e o preço é diferenciado”. Afonso é o único produtor de orgânicos em Resende Costa.

 

Preço e certificação

 

A demanda por produtos orgânicos vem aumentando no Brasil. Até 2014, o mercado de orgânicos cresceu em média 30% em todo território nacional, mas eles não são tão comuns nas prateleiras dos supermercados como os produtos convencionais - aqueles cultivados em grande escala, utilizando-se agrotóxicos e herbicidas. Existe, porém, diferença entre o preço do orgânico e do convencional. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) de Brasília é especializada na produção orgânica. De acordo com o técnico agropecuário da Embrapa, Josimar Ribeiro do Couto, em entrevista ao site G1 (Globo.com), em janeiro de 2014, o custo maior nesse tipo de cultivo está relacionado à mão de obra. Porém, ele destaca que o valor agregado ao produto compensa. “No convencional com poucas pessoas a produção é feita em 100, 200 hectares e o produto para ser produzido organicamente em cinco hectares tem que usar mais ou menos 20 pessoas. Então, isso se torna muito caro ainda. Comparando os produtos, um orgânico custa três, quatro vezes o valor de um produto convencional”, explicou Josimar Ribeiro.

Afonso Magalhães também fala do preço final do produto: “O produto orgânico é mais caro do que o convencional e a gente ainda não conseguiu encontrar um valor adequado, pois o mercado no município ainda não absorveu essa diferença”.

Afonso está se preparando para obter a certificação e o selo que atestam que o produto é genuinamente orgânico. “Quando se pensa em expandir a oferta, inclusive para outros centros, é necessário ter o selo e a certificação. Tem supermercados que compram os produtos orgânicos somente se o produtor tiver o selo de certificação”, explica o produtor. Segundo Afonso, para se obter a certificação é necessário que a propriedade siga todas as exigências da legislação. “Eles olham tudo: manejo no campo, saúde dos empregados, água, preservação do meio-ambiente etc.”.

 

O alimento orgânico é livre do uso de agrotóxico, de adubos químicos solúveis concentrados e livre também do uso de sementes transgênicas. “Sabor, durabilidade na banca do mercado e na geladeira do consumidor, além de proporcionar saúde ao consumidor”. Essas são as diferenças básicas que Afonso aponta entre um produto orgânico e um convencional. Para confirmar o sucesso dos orgânicos e a preferência do consumidor basta entrar num supermercado de Resende Costa por volta das 08h30min da manhã.

Deixe um comentário

Faça o login e deixe seu comentário