Saiba mais sobre a psicologia, um dos cursos mais procurados pelos estudantes brasileiros


Emanuelle Ribeiro


fotoPsicólogo Carlos Alexandre (Foto arquivo pessoal)

O curso de psicologia está em quarto lugar na preferência dos estudantes brasileiros. Para conhecer melhor a profissão, o JL conversou com o psicólogo resende-costense Carlos Alexandre de Resende, 35 anos. Carlos formou-se na Universidade Federal de São João del-Rei em 2005, cursou Mestrado em psicologia também na UFSJ entre 2008 e 2010. Além disso, é especializado em Dependência Química: prevenção e tratamento, na Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas da Escola Paulista de Medicina da UNIFESP. Carlos já atuou como auxiliar de pesquisa em psicologia social na APADEQ, como professor substituto de psicologia na UFSJ e no NASF (Núcleo de Apoio ao Programa Saúde da Família) de Lagoa Dourada. Atualmente, além do Consultório em Resende Costa, onde é psicólogo clínico há quase 11 anos, desenvolve estudos e intervenções psicossociais relacionadas à psicologia da educação e prevenção de uso abusivo de álcool e drogas.

O que o levou a escolher Psicologia como profissão? Algumas expectativas: a primeira seria a de que fazendo psicologia eu entenderia o ser humano e a mim mesmo (risos). Sempre fiquei me perguntando o porquê as pessoas faziam ou deixavam de fazer, sentiam ou deixavam de sentir. Na verdade sentia uma grande curiosidade, uma vontade de saber. Sempre fui muito introspectivo, observador, gostava de escutar e as pessoas me procuravam para isso, tinha um desejo de ser útil, de ajudar de alguma forma. Pensei que tais características condiziam com a profissão. No segundo ano do ensino médio eu já estava decidido.

Fale sobre o curso e a formação de um psicólogo. O curso de psicologia dura cinco anos, são 10 semestres com muitas matérias e todas exigem uma carga muito grande de leitura. No início, temos as matérias básicas, como história da psicologia, filosofia, sociologia, antropologia, neuroanatomia e neurofisiologia, bases epistemológicas da psicologia, dentre outras, que são o alicerce para a compreensão das várias teorias psicológicas que serão estudadas, muitas delas conflitantes entre si. Na verdade, seria mais apropriado falarmos em psicologias no plural, devido à diversidade de escolas teóricas. Só para citar alguns exemplos, temos a psicanálise, a psicologia comportamental, a humanista, a fenomenológico-existencial, além de grandes campos de estudo, como a psicopatologia e as psicoterapias, a psicologia social, do desenvolvimento, da educação, do trabalho. Os estágios são fundamentais para a formação e, embora não seja obrigatório, é importante que o aluno de psicologia passe de alguma forma, ele mesmo, por um processo de supervisão ou psicoterapia pessoal.

Quais foram os principais desafios que você encontrou durante o curso? Me manter no curso devido a questões financeiras até conseguir minhas bolsas de iniciação científica, e aí sim me mudar para São João del-Rei. Claro que foram muitas horas de estudo, conceitos complexos para entender, cansaço, estágios, seminários, provas, mas adorei o curso; não via nenhuma dificuldade na grande quantidade de coisas para ler e fazer. Outro desafio foi relacionar o mosaico de teorias estudadas com os primeiros atendimentos nos estágios ao me deparar com situações, como, por exemplo, alguém com uma crise de pânico na minha frente ou uma mãe chorando e me perguntando o que fazer para o filho parar de usar cocaína.

O que faz um psicólogo e em quais setores ele atua? O campo de atuação do psicólogo é bastante amplo, podendo atuar onde existe o humano, o comportamento, as emoções, as relações interpessoais. Pode trabalhar em organizações públicas e privadas, nas áreas da saúde, em hospitais, postos de saúde, PSF, CAPS, clínicas e consultórios particulares, na educação, no mundo do trabalho em empresas das mais variadas, no esporte, na psicologia do trânsito, na justiça como psicólogo perito, em comunidades, na assistência social, no CRAS e nas pesquisas científicas. Cada uma dessas possibilidades de atuação tem características muito específicas, sendo impossível descrever todas em pouco espaço de tempo. É importante o estudante procurar profissionais que atuam nessas funções para saber mais.

Como foi o início do seu trabalho como psicólogo? Assim que me formei, em 2005, me mantive em estágios extracurriculares na área clínica, durante o ano de 2006, o que me ajudou a ter supervisão nos primeiros atendimentos aqui em Resende Costa. Também continuei no atendimento ambulatorial da APADEQ. Comecei a trabalhar como assistente de pesquisa para minha orientadora de Iniciação Científica que mais tarde veio a ser minha orientadora de Mestrado. Isso tudo me deu tranquilidade para o início da carreira. Aos poucos os pacientes foram aparecendo e, ainda em 2007, estava com os horários cheios.

Atualmente, o mercado de trabalho é favorável ao psicólogo? Percebo o mercado bastante favorável e o consultório particular ainda é o que oferece maior retorno financeiro ao profissional. A profissão de psicólogo foi regulamentada no Brasil em 1962, ou seja, é muito recente. Temos áreas em que não existe a obrigatoriedade de contratação do psicólogo, como, por exemplo, nas escolas. Tem até um projeto de lei parado no Congresso tornando obrigatória a contratação de psicólogos e assistentes sociais em todas as escolas públicas. Assim, por enquanto, fica a cargo dos gestores públicos escolherem se contratam ou não. Muitas são as prefeituras que já mantêm esse serviço de psicologia nas escolas - Prados e Lagoa Dourada são exemplos aqui na região. Em outras áreas já temos a obrigatoriedade por lei da presença do profissional da psicologia, como, por exemplo, nos serviços de assistência social do CRAS e nos serviços de saúde dos municípios. As empresas também têm contratado mais - cerca de um quarto de meus colegas de turma trabalham em empresas de Belo Horizonte e Conselheiro Lafaiete.

O que você diria ao jovem que pretende cursar Psicologia? Sou suspeito para falar da psicologia. Eu diria que é um campo de estudos e atuação fascinante. Procure conhecer mais a profissão antes de entrar na faculdade. E ao entrar não foque apenas em uma área ou teoria, estude tudo o que conseguir, faça muitas horas de estágio. É bom saber que na psicologia o aluno vai encontrar muito mais perguntas do que respostas. E esse é exatamente o ponto. A famosa frase “Freud explica!” não poderia estar mais equivocada. Nem Freud, nem nenhum outro teórico da psicologia, explica praticamente nada do mundo contemporâneo e suas questões. “Freud pergunta!”. Esse é o papel do psicólogo: saber ouvir e saber perguntar, não trata de ser um conselheiro com respostas prontas, mas sim de ajudar cada um a encontrar as suas próprias respostas e, ou pelo menos, aprender a ver consigo mesmo.

Quais são os maiores desafios e responsabilidades profissionais do psicólogo? Penso que o maior desafio do psicólogo é lidar com as novas manifestações da subjetividade em nossa época contemporânea, sendo técnico, objetivo, mas sem perder a sensibilidade. Gosto muito de uma fala de Carl G. Jung: “Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana”.

A psicologia é um dos cursos mais procurados pelos jovens que iniciarão a faculdade. Por quê? Observo, pelo menos, dois motivos mais fortes: o primeiro é que os objetos de estudo e atuação da psicologia despertam muita curiosidade pelo fato de estarmos lidando com questões humanas que afetam a todos. O segundo motivo é que existe uma fantasia, mais ou menos generalizada (e que eu também tinha), de que fazendo psicologia você vai se encontrar, vai chegar a um autoconhecimento, resolver todos os seus problemas. Bem, se essa é a sua motivação, eu digo que é mais barato, rápido, efetivo e, principalmente, mais seguro ir fazer terapia e não necessariamente entrar na faculdade de psicologia.

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