Sumiço da placa, símbolo de reaproximação histórica São João del-Rei -Taubaté (SP)


Cidades

José Venâncio de Resende0

Placa perdida. Fotos José Antônio Ávila.

Inacreditável! A placa comemorativa da elevação de São João del-Rei à Vila desapareceu, simplesmente, da entrada da ponte sobre o Rio das Mortes, no antigo “Porto Real da Passagem, lado direito, sentido São João del-Rei/Santa Cruz de Minas. A placa (de cerca de 40 x 60 cm) fora instalada no local, em 8 de Dezembro de 2004, por ocasião da chegada do major Murilo Geraldo de Souza Cabral de uma caminhada de mais de 400 km que separam Taubaté (SP) de São João del-Rei (MG).

“A placa tem um simbolismo muito forte, do ponto de vista histórico”, pois representou “um esforço físico, mental e histórico para homenagear o tricentenário do surgimento do Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar, núcleo habitacional que deu origem à Vila e atual Cidade de São João del-Rei”, diz José Antônio de Ávila Sacramento, que na época da sua inauguração era presidente do Instituto Histórico e Geográfico de São João Del Rei (IHG).

Assim, o sumiço da placa foi um golpe no empenho das entidades patrocinadoras e do major Cabral, no sentido de reviver o mesmo percurso do bandeirante taubateano Tomé Portes Del Rei, o primeiro povoador e representante da coroa portuguesa na região. Esta jornada, que começou no dia 20 de novembro, “reativou os laços históricos que nos unem a Taubaté, a nossa cidade mãe”, afirmou na época José Antônio de Ávila. O passo seguinte seria “reinaugurar o Caminho dos Bandeirantes” e incorporá-lo ao percurso da Estrada Real, o que não aconteceu.

A placa era assinada pela Associação Comercial e Industrial de São João del-Rei (ACI del-Rei), pelo IHG e pela Associação de Moradores e Amigos do Grande Matosinhos, que patrocinaram a caminhada de Cabral. Segundo José Antônio, tudo começou em Outubro de 2003 – “esses laços, esses vínculos, encontravam-se como que adormecidos” - quando uma comitiva liderada pelo engenheiro, historiador e homem público José Bernardo Ortiz” visitou São João del-Rei e foi recebida na ACI del-Rei e no IHG.

Na ocasião, a ACI del-Rei, sobretudo, empenhou-se ao máximo na aproximação de São João del-Rei com a prefeitura de Taubaté. O então prefeito, muito próximo ao governador paulista Geraldo Alckmin, estava entusiasmado com a visita, cujo objetivo era o de estabelecer intercâmbio cultural entre as duas cidades, lembra José Antônio. Da comitiva de Ortiz, participavam o são-joanense Geraldo de Oliveira Neto, um de seus principais assessores, e representantes da Universidade de Taubaté.

Um dos méritos da caminhada de Murilo Cabral foi o de “restabelecer laços histórico-afetivos que estavam adormecidos, mas que sempre nos uniram ao povo taubateano (e vice-versa)”, justificou José Antônio.

Nova placa

O local onde a placa sumiu está coberto por um bambuzal fechado e fica ao lado de um ferro velho nas imediações da ponte. Além disso, foi instalada, recentemente, no local uma placa indicativa de Santa Cruz de Minas e do primeiro marco da Estrada Real.

José Antônio de Ávila – que atualmente é membro do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural de São João del-Rei – defende que, na impossibilidade de encontrar a placa, se confeccione uma réplica para ser instalada num pedestal, até que – quem sabe! – algum dia seja edificado um monumento em homenagem a Tomé Portes del Rei, à altura da sua importância histórica.

Histórico

Em palestra realizada, em Novembro de 2003, no auditório da ACI del-Rei, o então prefeito de Taubaté, José Bernardo Ortiz, falou da importância histórica de Taubaté e seus vínculos com São João del-Rei. Lembrou que, nos últimos anos do século XVII, Tomé Portes del Rei, morador de Taubaté, chegou à região do rio das Mortes. Homem de posses, “o que o fez passar-se aos sertões mineiros – como aconteceu aliás com grande número de povoadores das minas, bem afazendados nas regiões de origem – não foi a carência de recursos, mas o espírito desbravador, a vontade indômita que nutria o homem de sangue ibérico naqueles idos, de conhecer novos mundos, associada, é fato, ao anseio de ampliar seus cabedais e usufruir de mais riqueza”.

Tomé Portes já realizara entradas no desbravamento de sertões do Vale do Paraíba e da Mantiqueira, relatou Ortiz. Além de seu cunhado, Bartolomeu da Cunha Gago, dois de seus genros – Miguel Garcia Velho e Antônio Garcia da Cunha - também se fizeram bandeirantes de renome.

Ao ingressar nos sertões mineiros, já pelos sessenta anos, Tomé Portes estava acompanhado de Antônio Garcia – prossegue Ortiz - “e ambos se incluem no rol dos primeiros povoadores da região de São João del Rei, onde acharam ouro, estando entre os mais antigos descobridores desse metal no rio das Mortes, a sudoeste de Ouro Preto, no caminho de S. Paulo”. Trouxeram esposas, filhos e outros parentes e se instalaram no local antes da passagem do século, “onde Tomé Portes plantou grandes roças que abasteciam os migrantes em trânsito por aquele caminho do sertão dos cataguás”. Documentos antigos, segundo Ortiz, dão conta da presença de Tomé Portes no rio das Mortes “quando poucos povoadores ainda aí existiam, situando-o, inclusive, como dono de canoa de passagem pelo rio, junto a seu estabelecimento”.

“Em 1702, esse grande desbravador foi assassinado, num levante, por alguns de seus escravos”, relata Ortiz. “Os assassinos foram logo em seguida presos por outros escravos e agregados, que os mataram e esquartejaram junto ao próprio arraial. De sua progênie, muitos ficaram radicados nas Minas Gerais, constituindo aí numerosas famílias.”

Uma das primeiras esposas do bandeirante – Juliana de Oliveira – que se passaram ao rio das Mortes voltou a Taubaté onde faleceu em 1728, conta Ortiz. “Antônio Garcia da Cunha, o genro e companheiro de sertanismo, prosseguiu nos sertões mineiros ainda algum tempo. Depois retornou a Taubaté, onde findou seus dias em 1731.

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