Toninho da menina, profissão: Fabricante de oratórios artesanais


Cidades

José Venâncio de Resende0

Toninho da Menina (Antônio Januário da Silva) é fabricante de oratórios artesanais de madeira de demolição, em São João del-Rei. Mas a jornada foi longa e sofrida. Nos anos 1960, quebrava pedra com marreta para sobreviver em Resende Costa. ‘Naquela época, não havia cascalho e o pessoal batia laje das casas com pedra quebrada na marreta. Eu trabalhava para o Domingos pedreiro e recebia por lata de banha cheia de pedra quebrada. Era um serviço pesado.’ Também trabalhou em sítio tratando de vaca e, quando não tinha serviço, ia buscar lenha no mato para usar em casa, mas também para vender. ‘Naquele tempo, não havia fogão a gás.’

Nesse meio tempo, veio a tragédia. Em 1968, Toninho perdeu o pai, Zé Cornélio, que trabalhava no sítio do Dr. Teixeira (médico em Resende Costa), na Colônia (perto do aeroporto) em São João del-Rei. Órfão ainda menino, teve de trabalhar duro para ajudar mãe e irmãos.

O primeiro emprego foi em 1972 na Carpintaria Nhá Chica, do Tenta do Zé Padeiro. ‘O Tenta começou a fazer móveis antigos e me chamou. Eu comecei lixando as peças’, lembra Toninho. Nas folgas, levava milho do João Praxedes ao moinho no Barracão e na volta, ao deixar o fubá, ficava observando Valcides trabalhar no fundo do quintal. Toninho interessou-se pela arte e chegou a esculpir uma imagem de São Francisco. ‘O Valcides me ajudou no acabamento, a parte mais difícil’, conta.

Cinco anos depois, Toninho foi trabalhar numa marcenaria em Juiz de Fora, de nome Casarão Antiguidade, onde ficou por nove meses. ‘Lá, eles faziam restauração de móveis antigos’, diz. De volta a Resende Costa, sem opção, em 1981 foi trabalhar nas Obras Sociais Fé e Alegria, da Igreja de Filadélfia, em São João del-Rei. Eles fabricavam móveis para igrejas e cadeirinhas e mesinhas para creche de sua propriedade.

Período difícil. Toninho era recém-casado com Ana e a filha Dircéia tinha apenas seis meses de idade. Morava em casa sem luz e sem água em César de Pina, onde o aluguel era mais barato. Tinha de pegar ônibus até a antiga rodoviária para chegar ao trabalho no Tijuco.

A vida melhorou, Toninho mudou para uma casa melhor na Colônia do Marçal, onde nasceu a segunda filha, Vivian, quatro anos mais nova. Uma queda no movimento das Obras Sociais levou à sua demissão e, em 1985, retornou a Resende Costa para trabalhar na reforma do Grupo Escolar Assis Resende. Três meses depois, estava de novo em São João onde ingressou na fábrica de móveis Maciel. Em 1988, foi chamado de volta para as Obras Sociais e, em 1991, transferiu-se para a Home Furniture, que fabricava móveis ingleses. ‘A Rede Globo comprou muito móvel tipo inglês deles para novelas’, conta.

Toninho passou, ainda, pela Móveis Coloniais, no antigo bairro do Porto (hoje Santa cruz de Minas) e, em 1993, pela OSEC (Organização Santamarense de Educação e Cultura) no prédio do Patronato. ‘Nós fabricávamos cadeirinhas da Mônica, que eles levavam para dar acabamento em São Paulo’. O último emprego de Toninho foi na Móveis Maciços de São Sebastião da Vitória.

A partir de 2000, Toninho passou a trabalhar em casa, onde fabrica oratórios criados por ele mesmo.

Primeiros oratórios
Toninho fez o primeiro oratório para a Vanira do Nhonhô. ‘Ela morava em Barroso e foi passear lá em casa. Ela me encomendou um oratório. Eu disse que estava aprendendo, mas fiz.’ O segundo oratório foi para a imagem de São Sebastião, da capela do Barro Vermelho. ‘Eu fiz o entalho e o Antônio Viaco (carpinteiro) fez a montagem’, diz Toninho. Ele aprendeu o ofício nas horas vagas, após o expediente de trabalho na marcenaria do Tenta. ‘Quando davam quatro horas (horário de parar), eu pegava ponta, sobra da madeira, e usava para fazer oratórios. Colocava para vender lá no Tenta e ele tirava a comissão dele.’

Em São João del-Rei, o ritmo foi o mesmo. Toninho comprou algumas ferramentas e, quando voltava do serviço, produzia oratórios e baús na própria casa. A fama correu. Ele optou por ficar apenas com os oratórios porque a procura era grande. A experiência levou Toninho a criar os próprios modelos. ‘Os modelos são tirados da minha cabeça. Costumo olhar fotos do Museu de Ouro Preto, por exemplo, mas eu gosto mesmo é de fazer a partir da minha idéia. E nem poderia vender como antigo, tem que vender como cópia’.

Toninho tem muitos clientes em Tiradentes e Ouro Preto. ‘O pessoal de Resende Costa também busca aqui em casa.’ Ele já participou de exposição de artesanato durante a Semana Santa, o que acabou chamando a atenção de turistas de São Paulo, do Rio de Janeiro e de outros lugares.

Toninho já estudou as duas filhas. Vivian, que fez Letras na Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), é professora da Prefeitura. Dircéia está terminando o curso de Administração na mesma UFSJ e trabalha no Correio, em São Tiago.

Hoje, Toninho está aposentado, mas continua fabricando seus oratórios. E agora tem mais tempo para passear com a família, principalmente pescar e ir à praia.