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Estatística

14 de Marco de 2010, por Rafael Chaves

O conceito é essencial para se entender as coisas. Se se diz “carro”, por exemplo, qualquer pessoa trará à sua mente a sua representação do que seja “carro”. Alguns imaginarão um Mercedez Benz, outros um Fusquinha, mas todos, creio, invariavelmente, construirão em sua mente um objeto com quatro rodas, motor, volante, essas coisas. A palavra é um som que pode (ou não) ser escrito e que serve para dar significado às coisas. É no significado que nos entendemos, óbvio!

Para dizer o que se dirá, necessário conceituar. Conceituemos, pois. A estatística é uma parte da matemática que, utilizando-se das teorias das probabilidades, explica a frequência da ocorrência de eventos. Esses eventos podem ser obtidos através da observação e de experimentos. Antes de podermos estimar e prever os fenômenos futuros, estamos diante da aleatoriedade e da incerteza.

Conheço gente que acompanha o resultado do jogo do bicho de tal modo a determinar que a probabilidade é de dar touro na cabeça. Joga confiante no touro. Dá vaca! Aliás, parêntesis, eu não sei por que touro e vaca são números distintos no jogo do bicho. Acaso são espécies diferentes? Acaso touro e vaca, para efeito do jogo, tenham outros significados, aqui inconfessáveis? Foi daí que surgiu a zebra, o 26º bicho do jogo do bicho. A zebra é aquela aposta que você deveria ter feito mas não fez. A zebra é o resultado que você sabe sempre que vai dar, mas que não tem como você jogar nele.

Pode-se determinar uma ocorrência pelo experimento ou pela observação. Parte-se de uma pergunta ou de uma suposição e tenta-se organizar os dados para confirmar (ou não) a resposta que se tenha concebido. Digamos, por exemplo, qual a probabilidade de se morrer ao ser atingido por uma bala de revólver 38 no coração? Ninguém, em sã consciência, vai pegar um revólver e sair atirando (fazendo o experimento) no coração dos outros para confirmar se o objeto do experimento morre ou não. Os fatos, por si só, desde que a arma foi inventada, confirmam e comprovam que, fatalmente, o tiro no coração é fatal!

Outro dia, sentado num bar, estatístico, passei à observação.

O primeiro fato que me chamou a atenção foi o de uma senhora obesa que se sentou numa mesa próxima à minha e pediu uma coca zero e uma coxinha (não vou dizer o tamanho da coxinha). E ainda reiterou ao garçom a recomendação “coca zero, viu?” . Porque todo obeso toma refrigerante “zero” acompanhado de uma (ou duas) suculenta coxinha?

Enquanto eu matutava sobre isso, um automóvel passou lentamente em frente ao bar, com a tampa do porta-malas aberto e som na maior altura. Mais alto que o Everest. “É creu! É creu nelas! É creu! É creu nelas! Vambora, que vamo! Vambora, que vamo!” , tocava. No veículo, quatro sujeitos, bonés com as abas para trás ou para o lado da cabeça, com os braços apoiados nas respectivas portas do carro, desfilavam olhando de lado a outro da rua. Porque todo sujeito que tem aparelhagem de som em seu carro junta sua turma do mesmo sexo e sai exibindo a si e a seu carro, fazendo questão de nos obrigar a ouvir o seu péssimo gosto musical?

Por sobre o carro vi alguém na janela, cotovelos apoiados no parapeito, punhos apoiando o queixo, olhando insistentemente para mim. “Seria para mim? Amanhã vou saber!” . Parecia investigar o que eu estava fazendo ali, naquele bar, naquela hora, conversando com aquelas pessoas que estavam ao meu lado. Tudo para, mais tarde, espalhar o que vira e o que não vira aos quatro ventos e quatro cantos, com a pretensão da utilidade pública de suas notícias. Porque todo fofoqueiro é mal amado?

A tarde já se convertera em noite e eu já tinha tomado umas tantas, tantas que não sei quantas. E na mesa do bar havia outros tantos, de tantos que nem sei quantos passaram por ela. Mesa cheia de gente: burburinho. E conversa jogada fora enquanto desce cerveja e batata frita e bife acebolado. Até a hora em que, súbito, a mesa minguou de gente, a exata e inevitável hora de “Garçom, a conta por favor!” . Por que toda vez que sento em mesa de bar cheia de gente levo prejuízo?

Dizem que estatística é igual a mulher de biquíni, mostra (quase) tudo mas não mostra o essencial. Às vezes tudo me parece tão cristalino, tão óbvio, mas depois, pensando bem, tem sempre alguma coisa emperrando, mínima que seja, me dizendo que não.

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