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Nem oito nem oitenta: noventa!

11 de Fevereiro de 2010, por Rafael Chaves

Chiquinho, Chiquinho do Jota, Chiquinho da Jardineira, Chiquinho da Vanda, Chiquinho... A gente vai vivendo e a vida vai nos mudando e mutando, assim meio sem planejamento, sem que nos apercebamos, às vezes mansamente, às vezes aos solavancos, ao sabor dos ventos de cada tempo, como se fôssemos estações do ano. Não é para pior nem para melhor: há tanta beleza nas flores quanto nas sementes, há tanta sensação no calor quanto no frio.

“Os Chiquinhos” está fazendo noventa anos. Não são oito, nem oitenta: são noventa! Noventa são muitas estações. E quantas belezas e sensações permitem esse tempo? Devem ter sido tantas e tantas que não há como descrevê-las, como desvendá-las. Eu nem mesmo tentaria, eu que mal dou conta de entender os meus anos de vida, e são pouco mais da metade disso.

Churchill, inglês, em torno de seus noventa, disse, a respeito de sua longevidade, que “o segredo, meu caro, é o esporte... nunca o pratiquei” (coisas de britânico judicioso). Saburo Shichi, um japonês de 103 anos, não disse, mas disseram por ele que o segredo de ter vivido tanto estava nos exercícios que fazia há mais de 50 anos à mesma hora do dia com a ajuda de um bastão, e os exercícios que fazia para o cérebro buscando sempre aprender uma coisa nova, e os exercícios que fazia com a boca – mastigava 30 vezes antes de deglutir o pouco alimento que consumia –... e outras coisas mais (coisas de japonês). Uma longeva mendiga americana revelou que a causa era fumar quatro maços de cigarros ao dia, tomar uma garrafa de Jack Daniels por semana e comer restos de comida que encontrava antes de se deitar (coisas de americanos). Clara Meadmore, escocesa, aos 105 anos, confidenciou que o segredo de sua longevidade era não ter feito sexo, morreria donzela (esquecimentos de sua caduquice... ou seria coisa dos europeus?). Mário Quintana, brasileiro, eu não sei com qual idade, disse que “o segredo é não correr atrás das borboletas... é cuidar do jardim para que elas venham até você” (coisas de Mário Quintana).

Os cientistas, todos, querem saber os segredos da longevidade, a razão de se viver muito, e bem. O ser humano quer a eternidade, ainda que morto no reino dos céus, contudo, antes a quereria aqui mesmo, na terra, onde tem a pretensão da certeza de sua existência, e por via das dúvidas. Uns acham que a razão é genética (que assim seja!), outros que a causa está na alimentação, outros que é uma questão de estilo de vida e por aí vai. Chamou-me a atenção uma pesquisa de um cientista português que estudava curiosamente e detidamente os répteis, pois que esses aparentam não envelhecer. Sugeriu que está nos genes desses animais a chave para se entender e desvendar os mistérios da vida duradoura (coisas de português, com certeza). Enfim...

Não perguntei a que ele, Chiquinho, atribuiria sua longevidade. Talvez ele me dissesse que fosse o exercício da paciência e da paz, que há diferença entre elas, segundo ele. Talvez me dissesse que era pela falta de pressa e pela “normalidade” com que conduzia sua vida. Não sei, não quero saber. Contento-me em saber que vive uma vida que nos inspira e que nos faz querer viver mais e mais, de preferência ao seu lado.

“Os Chiquinhos” está fazendo noventa anos: o Chiquinho do Quebra Machado e da Taquara roubando doces de madrugada, o Chiquinho do Jota roçando pastos no Cascalho Preto, o Chiquinho Soldado combatendo na Guerra Mundial, o Chiquinho Mascate cavalgando pelas Vertentes, o Chiquinho da Jardineira viajando entre Resende Costa e Coroas (com a permissão dos Xavierenses), o Chiquinho da Vanda fazendo filhos aos montes, o Chiquinho dos Correios entregando notícias, o Chiquinho Veterano desfilando no 7 de setembro, o Chiquinho pai, avô e bisavô de todos nós, todos os Chiquinhos juntos.

Não se chega impune a essa idade: faz-se história. Temos de comemorar e agradecer, então comemoremos e agradeçamos por sua vida:

- Parabéns! Obrigado! Saúde!

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