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O pastor de ovelhas!

12 de Abril de 2010, por Rafael Chaves

Alguém da família tinha de ser padre, ou irmã de caridade. Famílias grandes aquelas, como essa, de onze.

Padre José Hugo andou abduzindo o Francisco até Lagoa Dourada, aos domingos, em seu jipe. Lagoa Dourada para ele, que tudo observava, era outro planeta. Não um planeta de terra, água, fogo e ar e sim, um planeta dourado de crepúsculos intermináveis e de brilhos auríferos. De nada adiantou! Francisco voltava às segundas-feiras à terra, para desgosto do Padre José Hugo e, talvez, de seus pais, seduzido pelos quatro elementos empedoclianos. Enfim, haveria de ser mais um entre os pecadores, ser humano comum, como de fato ainda o é.

Luiz andou internado pelos colégios de Cachoeira do Campo e Araxá, predisposto aos discursos docentes dos padres Salesianos, convencido de sua inclinação religiosa. Costumava pular janelas para fugir das noites solitárias do alojamento para visitar as meninas da cidade. Lá aprendeu a acender as luzes do galpão avícola para que as galinhas botassem seu segundo ovo diário. De nada adiantou! Ou melhor, fez-se professor, como convém a alguém de espírito Salesiano. E Químico, para entender a reação das galinhas à luz. Fato é que as mocinhas, não se sabe ao certo se de Cachoeira do Campo ou Araxá, o convenceram de que jamais seria celibatário.

Ele? Ele não se lembrava mais de ter pensado em ser padre. Talvez porque deixasse que, pela probabilidade, haveria de ser outro ou outra, não ele. Andou errante e eclético pelo mundo.

Os outros dois - mais novos que ele -, nasceram em outro tempo, contemporâneos da modernidade que invadia a sociedade de tal modo que havia outros meios, outras profissões.

Quanto às mulheres, suas irmãs, jamais soube dos pensamentos e desejos delas. Embora não soubesse, fácil adivinhar por suas histórias: todas se casaram, tiveram filhos e viveram felizes para sempre.

Mas a vida é cíclica. E ele repensou suas convicções e anseios e se disse: quero ser Padre! Avistou e se imaginou na casa paroquial, “quem sabe o Palácio Episcopal?” A realidade, todavia, era cruel. O tempo implacável. Não lhe seria possível estudar Filosofia e Teologia a tempo de usufruir, literalmente, desse “benefício”. Além do mais, ao lado de onde trabalhava, consultou numa casa de artigos religiosos os preços das taças, hóstias, vestimentas e todos os paramentos eclesiásticos indispensáveis aos ritos católicos e se deu conta de que, afora os dispendiosos investimentos intelectuais, esses materiais seriam também muito elevados, cerca de cinco mil reais.

A desesperança tomou conta de seu espírito por uns momentos. Poucos instantes. Fez as contas: imunidade tributária! Imaginou-se sem ter que pagar imposto nenhum, livre e desobrigado que estaria de Imposto de Renda, IPTU, IPVA e tudo que é I, de imposto. Fez outras contas: moradia, carro, secretário..., “quiçá dez por cento”.

“Dez por cento?” E não é que passava em frente à loja da Cia. do Terno? Promoção de terno, camisa e gravata, tudo a R$ 88,00, em dez prestações, sem juros. Refez as contas: investimento de R$ 88,00, mais imunidade de tributos, mais certa convicção de que, além dos benefícios terrenos, alcançaria o reino dos céus. Também lhe veio à mente a mansão do Edir Macedo, a Catedral da Fé imponente na Avenida Olegário Maciel, em Belo Horizonte, os milagres de que seria capaz e os testemunhos dos crédulos de todas as denominações. Tudo isso afora o dinheiro a ser queimado na fogueira santa. Perfeito!

“Vou ser Pastor!”

À míngua de ser admitido nalguma igreja, resolveu fundar a sua. Do Brasil, nacional, do cone sul da América, latino americana, internacional, mundial, universal, todas já existiam. “Cosmo!” - pensou, profético - “o cosmo deve ser maior que o universo!”. Naquele dia nascia a Igreja Cosmética do Big Bang de Deus, da qual se nomeou bispo. Ou teria sido Papa?

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