Misterium Fidei
07 de Junho de 2008, por Pe. Dirceu de Oliveira Medeiros
Nesses dias celebramos dois mistérios de nossa fé cristã, a saber, o mistério da Santíssima Trindade e do Corpo e Sangue do Senhor. Isso me motivou a escrever sobre o tema. Mistério é aquela realidade que não conseguimos alcançar plenamente com nosso intelecto. O mistério é algo que nos transcende e desafia a inteligência humana. Aliás, muita coisa não compreendemos ainda, mas esperamos na fé compreender um dia. Parafraseando Fernando Pessoa digo: A vida é um mistério a ser desvendado, minuto a minuto, segundo a segundo. O incrível é que sempre há mais um pouco para descobrir. A vida é inesgotabilidade, ou seja, como aquela fonte de água límpida que sacia nossa sede e cuja água não cessa de jorrar. Quem se diz detentor da verdade ou conhecedor de todas as coisas não merece crédito.
Faço uma distinção, a meu ver, oportuna, entre mistério lógico e mistério de fé. O mistério lógico é aquele que pode ser penetrado e dissecado pela razão humana. Mal comparando seria caso do enigma, de uma equação matemática, realidades que podem ser abarcadas pela inteligência humana. Os mistérios relativos à fé ultrapassam o nosso entendimento, e, a propósito, se os mesmos fossem “desvendados” deixariam de ser mistério. É confortante para o ser humano saber que há algo maior do que ele: o mistério. Nós precisamos do mistério para enriquecer nossa existência.
Com o fim da idade média, chamada idade das trevas, e o advento do iluminismo, profetizou-se que o mistério e a religião estariam fadados ao desaparecimento e a razão triunfaria. Os “mestres da suspeita”, Freud, Nietzsche e outros pregavam o fim da religião e a prevalência da razão. Assim, divinizava-se a razão humana, ela poderia tudo explicar e penetrar. Contudo, com a segunda grande guerra se dá a grande “crise da razão”. Uma pergunta não queria calar: como uma sociedade emancipada, guiada pelo racionalismo pôde cometer uma atrocidade tão grande como a segunda grande guerra? Seis milhões de judeus foram mortos pelos nazistas. Constatou-se que a razão não é a única força que move o ser humano, temos a vontade, o desejo, a religião. O ser humano é também um mistério complexo, que não se explica só pelo viés da razão. O mistério emerge de novo com toda a sua pujança.
Diante do mistério que atitude se deve ter? A atitude de adoração. Diante do mistério, que é maior que nossa inteligência humana, convém dobrar os joelhos em adoração silenciosa, numa atitude de reverência. Contudo, só nos calamos e adoramos, depois de termos pesquisado, aprofundado. Devemos buscar o conhecimento, afinal somos chamados a “dar razão de nossa esperança”. 1Pd. 3, 15 Entretanto, não deve perder de vista que o mistério é maior do que nós. É princípio da física: o maior não cabe dentro do menor. Ficamos então com aquela célebre frase de William Sheakespeare “há mais mistérios entre o céu e a terra do que julga nossa vã filosofia”.