Nosso objeto de reflexão para este mês é religiosidade popular. Lançamos mão de uma palavra do Papa, citada pelo documento de Aparecida, para referendar a importância dessa manifestação religiosa: “o Santo Padre destacou a rica e profunda religiosidade popular, na qual aparece a alma dos povos latino-americanos, e a apresentou como precioso tesouro da Igreja Católica”.
São muitas e diversificadas as manifestações da religiosidade popular católica, sem dúvida, obra do Espírito Santo, que não promove a uniformidade. Algumas nós conhecemos de perto: as festas dos santos juninos, os congados das festas do Rosário, as folias de Santos Reis e São Sebastião e outras expressões, algumas até pitorescas. No meio popular encontramos uma prece curiosa a Santo Antônio: “Santo Antônio, eu somente devolverei o menino do senhor, se, ou quando, o senhor fizer aparecer em minha vida uma pessoa que case comigo! Ou ainda“... Meu santo Antônio querido, eu vos peço por quem sois, dai-me o primeiro marido, que o outro eu arranjo depois”. São preces de origem portuguesa e da piedade popular que revelam uma intimidade quase profana entre o devoto e o santo. No Brasil colonial, onde se praticava, por escassez de padres, uma religião doméstica, os santos, como que “faziam parte da família, morando dentro das casas em seus oratórios domésticos”.
O nosso primeiro olhar em relação a tais manifestações às vezes é de estranheza, chegamos mesmo a demonizar algumas expressões. Demonizamos aquilo que não conhecemos, por isso faz-se necessário conhecer e aprofundar. A ignorância é a fonte de todo preconceito, dizia Santo Agostinho “só se ama, aquilo ou aquele que se conhece”. É imperativo conhecer!
Acolher ou promover a religiosidade popular como recomendam o documento de Aparecida e as Diretrizes Gerais da Igreja no Brasil implica também discernir. O desafio que se impõe a toda Igreja é acolher seus inegáveis valores e, ao mesmo, estar disposto a ajudar a religiosidade popular a superar seus perigos de desvio. Convidamos nossos leitores a apreciar e valorizar a riqueza de nossa religiosidade popular, sem preconceitos. A religiosidade popular faz parte de nossa raiz histórica, religiosa e cultural.
O precioso tesouro da Igreja na América Latina
05 de Julho de 2008, por Pe. Dirceu de Oliveira Medeiros