A ignorância insiste em realizar queimadas


Editorial

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Setembro último foi considerado, no Brasil, o mês com o maior número de queimadas da história. De acordo com dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), foram registradas no país, em setembro, 95 mil queimadas em apenas 22 dias. Para Alberto Setzer, pesquisador do Inpe, dois fatores são os principais causadores das queimadas: a estiagem prolongada em boa parte dos estados e a ausência de fiscalização.

De acordo com reportagem publicada no G1 (Globo.com) no dia 22 de setembro, o homem continua sendo o principal vilão: “Quase todas as queimadas hoje são causadas pelo homem, seja de forma proposital ou acidental. As razões variam desde limpeza de pastos, preparo de plantios, desmatamentos e colheita manual de cana-de-açúcar até disputas por terras e protestos sociais”. Não se pode culpar as autoridades por falta de campanhas educativas. Os meios de comunicação, o Corpo de Bombeiros e as agências de água e energia elétrica dos estados promovem exaustivas campanhas de conscientização. No entanto, o resultado não tem sido satisfatório. As queimadas estão aumentando a cada ano colocando em risco a fauna, a flora e a saúde humana. Neste ano, elas coincidiram ainda com o grave e longo período de estiagem.

Uma reportagem desta edição do Jornal das Lajes mostra que em Resende Costa o período de estiagem colaborou para o aumento no número de queimadas em matas na zona rural e em lotes na área urbana. Foram registradas diversas ocorrências policiais, segundo a reportagem, especialmente de vizinhos de lotes onde havia focos de queimadas.

Nos meses mais secos do ano, como agosto e setembro, a triste cena do fogo consumindo campos, serras e plantações já se tornou comum. Apesar dos inúmeros movimentos de conscientização, muitas pessoas, sobretudo proprietários de terra, ainda insistem na atitude criminosa e ignorante de promover queimadas com objetivo de preparar o terreno para a chegada das chuvas. Esse argumento já foi superado há muito tempo. Especialistas mostram que a medida não é eficaz, pelo contrário, as queimadas prejudicam o solo.

De acordo com a revista eletrônica Agropecuária, “sob o ponto de vista agronômico, essa prática elimina nutrientes fundamentais a qualquer cultura vegetativa, como o potássio, fósforo e nitrogênio, matando também microrganismos que auxiliam no desenvolvimento de certas plantas. Além disso, a queimada reduz a umidade do solo e acarreta a sua compactação, o que resulta no desencadeamento do processo erosivo e outras formas de degradação da área”. Ainda segundo a revista, as queimadas geram prejuízos “na produtividade das culturas e aumenta os custos de produção” e contribuem “para a degradação e redução da capacidade produtiva do solo, pois provoca a alteração de características químicas, biológicas e físicas da terra”.

As chuvas chegaram dando trégua ao período da seca que castigou severamente algumas regiões do país. A expectativa é de que o período chuvoso 2017-2018 deve ficar mais próximo da normalidade na região Sudeste, segundo a previsão meteorológica da Cemig. Se isso ocorrer, o volume dos reservatórios das hidrelétricas e das empresas de abastecimento de água poderá aumentar. Porém, não nos esqueçamos de que a estiagem voltará no próximo ano, trazendo sofrimentos, queimadas e escassez de água. Portanto, saibamos utilizar a água de forma consciente, sobretudo valorizando-a.

Aproveitemos que o fogo e a fumaça desapareceram das nossas matas e serras e reflitamos sobre a prática criminosa das queimadas, sejam elas nos pastos na zona rural ou nos lotes nos centros urbanos. Queimada é crime previsto nos Códigos Florestal e Penal Brasileiro e a atitude humana em realiza-la traduz-se em ignorância e desrespeito à vida e ao meio ambiente.

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