A noite em que o samba foi vaiado


Editorial

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O Carnaval mais uma vez é destaque no Jornal das Lajes. O periódico, desde a sua fundação em 2003, elegeu como uma de suas prioridades divulgar e incentivar as manifestações culturais de Resende Costa por entender que elas movimentam e proporcionam identidade e cidadania ao município e à sua gente. A regionalização do JL ampliou esse nosso compromisso editorial. O Carnaval, a Semana Santa e o Inverno Cultural de São João del-Rei, o Festival de Música de Prados, a Festa do Café com Biscoito de São Tiago, a Mostra de Cinema de Tiradentes e a Festa do Rocambole de Lagoa Dourada já foram destaques nas páginas regionais do jornal.

Este editorial foi redigido no domingo de Carnaval enquanto a folia arrastava multidões pelas ruas das cidades do Brasil. Em Resende Costa, no sábado à noite, um triste episódio chamou a atenção de quem estava na rua Gonçalves Pinto, centro da cidade, onde tradicionalmente se realiza o Carnaval. Na programação constava um show, às 23h, com o grupo de samba de São João del-Rei, “Boêmios de Isis”. A vocalista, Isis Ferreira, antes de iniciar o show, falou sobre o repertório que o grupo iria apresentar – uma releitura de clássicos do samba de, entre outros, Cartola, João Bosco, Noel Rosa e Beth Carvalho, além de composições próprias.

No entanto, após o grupo apresentar as primeiras músicas, um clima de impaciência e reprovação tomou conta da maioria dos foliões que estavam na avenida. Começaram a surgir vaias ao grupo, ao som e à música, obrigando integrantes da Comissão Organizadora do Carnaval a intervirem, de forma sensata, e pedirem aos cantores que cancelassem o show. O que foi feito.

Concomitante às vaias na avenida, surgiu um clima de total constrangimento e perplexidade. Afinal, em Resende Costa, o samba, raiz e identidade do Carnaval brasileiro, foi vaiado sonoramente. As vaias aumentaram enquanto Isis Ferreira cantava um clássico de João Bosco!

É até razoável que se aceite o argumento proferido por muitas pessoas – especialmente por alguns dos que vaiaram – de que o gênero musical do grupo “Boêmios de Isis” não é adequado para agitar uma noite de carnaval de rua. Porém, vaiar artistas contratados para uma apresentação não foi uma atitude digna dos foliões que estavam na avenida.

O triste episódio das vaias no sábado de Carnaval em Resende Costa revela o quanto a programação musical nos dias oficiais da festa precisa ser reavaliada e melhorada pela Comissão Organizadora do evento. Curioso observar que, se no sábado à noite, na Gonçalves Pinto, houve vaias ao “Boêmios de Isis”, no dia seguinte, à tarde, o grupo foi calorosamente aplaudido no Mandacá Açaí. Trata-se, portanto, de uma simples e importante questão de critério no momento da escolha de qual artista, grupo e banda possam melhor se adequar às apresentações para um grande e diversificado público num carnaval de rua.

Nos últimos anos, encontrar uma fórmula que resgate a animação nos dias oficiais de Carnaval em Resende Costa tornou-se um enorme e exaustivo desafio para os organizadores. Neste ano houve avanços significativos, especialmente em segurança e participação da iniciativa popular, criando novos blocos e liderando o Grito de Carnaval.

Apesar do descontentamento do público na noite de sábado, pode-se avaliar que o Carnaval 2019 de Resende Costa foi muito bom. Os foliões puderam se divertir de forma segura; as opções de shows e mais diversidade de blocos e entretenimento para as crianças agitaram o público que optou por curtir a folia na cidade.

Que nos próximos carnavais haja ainda mais participação e iniciativa do povo. E que a animação, a tolerância e o respeito superem a hostilidade. Afinal, o samba não pode jamais ser vaiado, mas reverenciado.

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