A pandemia e seus ensinamentos


Editorial

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O avanço da campanha de vacinação no Brasil, neste segundo semestre de 2021, acendeu um sinal claro de esperança de que a pandemia de Covid-19 enfim será controlada. As estatísticas vêm apresentando números animadores. Queda na taxa de contágio, no número de óbitos e de internações. Casos graves da doença e que demandam atendimentos em UTIs também começam a diminuir. Esse avanço confirma o papel preponderante da ciência frente a uma crise sanitária sem precedentes na história recente da humanidade.

As vacinas trouxeram não só o antídoto de proteção contra o coronavírus, como também uma nova sensação de liberdade. O fantasma do medo e da insegurança começa a ser exorcizado. As pessoas estão voltando gradualmente ao trabalho, viagens sendo retomadas, escolas sendo reabertas, espaços culturais e de entretenimento voltam às suas atividades seguindo, obviamente, protocolos sanitários. A sensação de obscuridade e de incerteza aos poucos vai ficando para trás. Medalha de ouro para a ciência, que, além de vencer o inimigo principal, o novo coronavírus, teve de travar uma feroz batalha contra o negacionismo crônico.

Sem cantar vitória antes da hora, uma vez que a pandemia não foi totalmente controlada e as variantes do vírus ainda amedrontam, o momento atual é de fortalecer os cuidados, porém já nos permite fazer planos para o futuro pós-pandêmico. Colher ensinamentos deixados pela crise é o primeiro passo para decolarmos rumo a uma nova sociedade.

A humanidade, ao longo desses quase dois anos de pandemia, experimentou a fragilidade da vida. Uma experiência existencial ao mesmo tempo angustiante e pedagógica. Observar a vida de pessoas que amamos ser sorvida abruptamente nos mostra quão somos impotentes diante da morte. A brevidade da existência nos impele a valorizar a vida como se fosse a última gota d’água encontrada num deserto árido.

Outro ensinamento precioso legado pela pandemia é o sentimento de coletividade. Com o isolamento social, aprendemos que somos seres sociais, ou seja, precisamos uns dos outros, da sociabilidade, do olho no olho, do aperto de mão e do abraço. Não nascemos para a solidão. Estar sozinho nos lança na experiência angustiante do vazio e do conflito interior. Gera medo, causa ansiedade, nos adoece. Foi necessário o surgimento de um vírus perigoso, do qual precisamos nos proteger e nos esconder, para confirmarmos nossa identidade de seres sociais vocacionados para a liberdade.

Saber esperar, ter paciência. A crise da Covid-19 nos mostrou também a necessidade de estabelecermos uma nova e profícua relação com o tempo. No mundo inteiro, metrópoles que ousavam afirmar que nunca paravam tornaram-se desertas. Ruas vazias, portas fechadas, comércio paralisado. O coronavírus também se assenhoreou do tempo, esse senhor apressado que controla nossos passos e mede o compasso das nossas ações. Quando tentávamos driblar o vírus invisível, lotando praias, bares e ruas, ele se mostrava mais forte e visível do que nunca, ordenando que voltássemos ao confinamento de nossos lares. O coronavírus sequestrou também o tempo e nos ensinou que é inútil lutarmos contra aquele que determina quando saímos, voltamos e agimos. O tempo precisa ser nosso aliado.

A arrogância e o negacionismo foram derrotados nesta pandemia. A sensatez e a razão, formuladas em ciência, produziram a vacina que nos trouxe de volta o sonho essencial de liberdade. Que a experiência da dor causada pela perda de tantas pessoas queridas não nos deixe retroceder ao indiferentismo e ao individualismo de antes. O aprendizado maior deixado por este longo e trágico momento que o mundo ainda vivencia com a crise da Covid-19 é o de que somos um só povo que sofre e chora junto, mas que sonha e aspira à liberdade de mãos dadas.

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