A Semana Santa de Resende Costa


Editorial

0

Quem na vida adulta não preserva nas lembranças um, ainda que seja pálido, acontecimento ocorrido no passado pueril? Um jogo de futebol no campinho de terra, um domingo festivo de Carnaval, um baile com a turma, uma procissão na Semana Santa descendo as ruas sinuosas da cidade... Todos nós carregamos na memória recordações marcantes que o tempo teima em não apagar.

O leitor e assinante do Jornal das Lajes, Cristino Resende, morador da cidade de Montes Claros, no Norte de Minas, enviou uma carta à redação descrevendo uma Semana Santa que marcou a sua infância: “Falo da Semana Santa quando criança, um tempo que já vai longe e que deixa saudade”, escreveu Cristino, que viveu em Resende Costa durante alguns anos, lecionou na cidade e cultivou sólida amizade com o saudoso ex-pároco monsenhor Nélson Rodrigues Ferreira.

Cristino Resende não informa qual cidade ele vivenciou a experiência da Semana Santa descrita em sua carta. Porém, o seu relato nos faz reviver e lembrar as solenidades da paixão, morte e ressurreição de Jesus celebradas em Resende Costa e que são destaques nesta edição do Jornal das Lajes.

“A Semana Santa já estava para chegar e os preparativos começavam pelo recolhimento e muita meditação, seguindo os passos da via-sacra. Parecia que todos os dias dessa semana das Dores se resumiam num único dia: a Sexta-Feira Santa. Em casa, a recomendação era pouca conversa, jejum, abstinência e silêncio, compreendido até pelos pássaros, que emitiam sons menos barulhentos. As buzinas dos carros eram silenciadas e o apito do trem era menos longo”, escreveu Cristino no início de sua carta recheada de lembranças.

A Semana Santa de Resende Costa não mais mantém o mesmo silêncio do passado. As ruas, hoje, são barulhentas e os carros disputam com os fiéis e com os andores do Senhor dos Passos e da Senhora das Dores os espaços por onde passam as procissões. Apesar disso, ainda podemos nos vangloriar por ser a nossa Semana Santa uma das mais belas da região do Campo das Vertentes e, por que não dizer de Minas Gerais. As solenidades – conforme destacado na reportagem publicada na página 6 – preservam, através da música, dos textos litúrgicos em latim, das procissões e sermões, o que há de mais belo das piedosas tradições religiosas da cultura mineira.

Além da religiosidade, a Semana Santa traz também importantes legados para o município, através do aumento no número de turistas que visitam a cidade durante os dias da festa e investem no comércio local, apesar da sua precária divulgação tanto em material impresso quanto nas redes sociais.

Falta aos organizadores da Semana Santa e ao poder público municipal investir mais e melhor na estrutura da festa com o objetivo de prepará-la para ser um dos grandes atrativos religiosos e turísticos de Resende Costa. Infelizmente ainda se vê, todos os anos, a mesma triste cena: grande quantidade de veículos estacionados nas ruas por onde passam as procissões, o que não ocorre em outras cidades da região, como Tiradentes, Prados e São João del-Rei, onde o trânsito é bem organizado nas ruas que são utilizadas como trajetos de procissão.

Neste ano, havia carros estacionados em frente aos passinhos durante o horário de procissão. O andor de Nossa Senhora das Dores, na Quarta-Feira Santa, teve que se desviar dos veículos (uma van e uma caminhonete estavam estacionadas próximas ao passinho ao lado da igreja matriz)! Falta organização e planejamento. A Polícia Militar não poderia planejar melhor o trânsito nos horários e locais onde tradicionalmente passam as procissões?

O turista que procura as cidades históricas de Minas Gerais (e Resende Costa está nesse roteiro) deseja vir ao encontro da beleza arquitetônica e do artesanato, da religiosidade mineira descrita no relato do Cristino Resende e da tranquilidade interiorana. Temos esses atrativos a oferecer e a Semana Santa é um dos nossos principais cartões de visita. Precisamos preservá-la e divulgá-la melhor.

Deixe um comentário

Faça o login e deixe seu comentário