Agentes Comunitários de Saúde de Resende Costa bem avaliados por usuários do PSF


Cidades

José Venâncio de Resende0

Local onde funciona a sede o PSF 3, no Posto de Saúde, centro de Resende Costa (Foto André Eustáquio)

As visitas realizadas aos domicílios e o desempenho dos agentes comunitários de saúde (ACS) receberam avaliação positiva de mais de 90% dos usuários do Programa Saúde da Família (PSF) ou Estratégia Saúde da Família (ESF) na nova denominação, entrevistados pelo Instituto Data Minas em “pesquisa de satisfação dos usuários do SUS (Sistema Único de Saúde)” contratada pela Prefeitura Municipal de Resende Costa.

Outro resultado é a “boa avaliação” do desempenho de enfermeiros, médicos e auxiliares, porém com índices inferiores (entre 65% e 84%, a depender dos quesitos avaliados). “Sobre os médicos do PSF, é comum a reclamação do baixo acesso ao profissional (pouca presença nas residências) e, de modo mais geral, observa-se relatos da escassez do profissional de medicina no município.”

Se o atendimento, sobretudo domiciliar, e o desempenho das equipes de atenção básica foram aprovados, com pequenas ressalvas, o mesmo não se pode dizer da infraestrutura que recebeu mais críticas por parte dos cidadãos atendidos, conforme constatou a pesquisa.

O objetivo do estudo foi verificar a eficiência das equipes e dos profissionais de saúde de Resende Costa e medir o nível de satisfação dos usuários do SUS com o popularmente conhecido PSF. Também contribui para conhecer melhor o perfil social e de saúde dos domicílios que utilizam os serviços do PSF.

Através de cálculo amostral, foi definida uma amostra de 346 entrevistas (na realidade, foram realizadas 351) num universo de 3.448 famílias cadastradas nos três PSFs do município. Isto representa 72,6% do total de 4.751 domicílios de Resende Costa (censo do IBGE).

O método utilizado foi o survey, que consiste na coletas de dados em estudos de opinião pública. O survey é uma pesquisa social por inquérito, que agrega opiniões por meio de questionários estruturados, os quais são aplicados em uma amostra para aferir características da população, ou através de entrevistas.

As entrevistas foram realizadas nos dias 20 e 21 de outubro nas áreas do PSF 1 (“Urdindo cuidado tecendo saúde”). Nos dias 22 e 27 do mesmo mês, foi a vez do PSF 2 (“Elo saudável”) e, nos dias 03 e 04 de novembro, as entrevistas ocorreram no PSF 3 (“Saúde em foco”). De acordo com o número de famílias, pessoas e domicílios em cada uma das oito microáreas de abrangência de cada PSF, as entrevistas foram assim distribuídas: 137 no PSF 1; 110 no PSF 2 e 104 no PSF 3.

Perfil

Estima-se que o número médio de residentes cadastrados no PSF seja igual a três pessoas por domicílio. Assim, 70% dos domicílios vinculados aos PSFs da cidade possuem entre dois e quatro moradores.

Verificou-se que 87,7% das famílias que utilizam os serviços de saúde do município possuem renda máxima de três salários mínimos - 39% dessas famílias possuem renda menor que um salário. Observa-se que 25,9% das famílias que utilizam os serviços dos PSFs recebem algum benefício do governo como fonte de renda familiar fixa.

A pesquisa mostrou ainda que 58,4% das famílias atendidas pelos PSFs utilizam os serviços de saúde há mais de 10 anos continuamente.

Aline Valéria Caldeira Santos, secretária da Saúde à época da pesquisa, chama a atenção para impacto gerado pelas doenças crônicas (como diabetes e hipertensão) e para usuários domiciliados (que não saem de casa) por alguma outra enfermidade. A pesquisa mostra que em 54,1% das famílias do município há algum membro com doença crônica, acamado ou domiciliado.

Nesse sentido, vale ressaltar a importância da criação em 2018 do PSF 3 (“Saúde em Foco”), que apresentou o maior percentual (56,7%) de usuários acamados ou domiciliados ou com hipertensão/diabetes. Já os PSFs 1 e 2 contêm, respectivamente, 40,1% e 41,8% de famílias com algum membro caracterizado por doença crônica.

“Tal predominância (no PSF 3) pode ser explicada pelo fato de a região atendida por esse PSF ser composta por indivíduos com maior faixa etária”. Assim, a pesquisa mostra a importância do PSF 03 ao “facilitar o acesso dos moradores da zona rural à saúde e, principalmente, oferecer atenção especial ao grupo de pessoas com doenças e agravos correntes dessa localização”.

Avanço

O PSF 3 foi implantado no município em abril de 2018 e Cadastrada no SCNES (Sistema de Cadastro Nacional de Estabelecimento de Saúde) no dia 14 do mesmo mês. “Após a implantação da ESF Saúde em Foco, no município de Resende Costa, obteve-se grandes avanços em relação ao mapeamento de saúde da área, que ainda estava descoberta, totalizando assim 100% da cobertura da cidade”, diz Aline Santos.

A partir das visitas realizadas pelos agentes comunitários de saúde, evidenciou-se a hipertensão, o diabetes e a obesidade como principais fatores de risco nesta população, observa Aline Santos. Isto vai ao encontro da pesquisa em relação à satisfação dos usuários do Programa Saúde da Família de Resende Costa. Ocorre que “o PSF Saúde em Foco contém o maior percentual (56,7%) de domicílios com indivíduos que possuem alguma doença e dentre estas doenças 48,08% remete a diabetes e hipertensão”.

Além disso, a área de abrangência do PSF 3 apresentou a concentração de indivíduos com maior faixa etária, reforça Aline Santos. “Este dado (da pesquisa) confirma-se pelo mapeamento realizado, em que totalizam 632 idosos de 60 a 100 anos, dentre os 3.153 habitantes da população total pertencente à ESF.”

Infraestrutura

A pesquisa avaliou se os PSFs do município dispunham de material e equipamentos necessários para realizar o atendimento da população, de acordo com a percepção dos usuários. A maioria dos entrevistados (81,2%) afirmou “positivamente” sobre a disponibilidade de instrumentos e insumos básicos.

No PSF 3, 14,6% dos entrevistados não foram atendidos ou presenciaram o não-atendimento devido à falta de material e equipamentos. Este percentual foi bem menor nos PSFs 1 e 2, com respectivamente 5,80% e 7,30%. No caso do PSF 3, por exemplo, “moradores alegaram ocorrências de falta de medicamentos, materiais para curativos, vacina contra a gripe para idosos, e o mais importante e recorrente: a baixa presença ou dificuldade de acesso ao profissional médico”.

Segundo Aline Santos, no caso do profissional, isto ocorreu devido “a várias intercorrências no ano de 2018 para contratação do médico de PSF. Foram feitos vários Processos Seletivos Simplificados, porém sem êxito. No momento conseguimos um profissional que já trabalha na equipe”.

De qualquer forma, a maior insatisfação dos usuários apontada pela pesquisa relaciona-se com as questões de infraestrutura. “Foi muito expressiva a porcentagem de usuários que indicaram a avaliação regular para os variados itens: sala de vacinas, instalação sanitária, estrutura para deficientes, farmácia, consultórios, sala de curativos, sala de espera.”

A farmácia, segundo a pesquisa, foi a repartição mais criticada, seja com relação à falta de medicamento ou à propria localização. A falta de materiais e instrumentos de saúde (fitas e glicosímetro para diabéticos, material para curativo, vacina contra gripe para idosos, eletrocardiograma etc.) foi relatada de forma esparsa.

Assim, “no âmbito geral, os residentes de Resende Costa acreditam na necessidade de aprimoramento da infraestrutura das UBS, tendo em vista que há um baixo percentual de usuários que consideram os itens de infraestrutura como bons e que nenhum desses itens foi avaliado como ótimo no ponto de vista dos usuários”.

Segundo Aline Santos, a Secretaria Municipal de Saúde já tem previsto, tanto no Plano Municipal de Saúde quanto no Plano Plurianual, a reforma da UBS em que funciona o ESF Saúde em Foco, assim como reforma dos postos de saúde rural. Para 2019, “já está programado a reforma do Posto de Saúde do Ribeirão, mas infelizmente, devido à crise financeira do Estado de Minas Gerais, não conseguiremos realizar o restante das reformas”. Na medida do possível, acrescenta, serão planejadas ações para manutenção das UBS, com o objetivo de buscar maior conforto e acessibilidade aos munícipes.

Atendimento

Os resultados da pesquisa mostram que a qualidade dos serviços do PSF da cidade recebeu uma “avaliação intermediária” por parte dos usuários. O item com maior avaliação negativa foi o tempo de espera nas UBS/Centro de Saúde. Predominaram as avaliações “regulares”, houve 22,5% de avaliações “ruins” e 1,4% de avaliação “muito ruim”.

Em relação ao atendimento geral nas UBS/Centro de Saúde, 79,2% dos entrevistados disseram-se “satisfeitos” enquanto 14,5% “muito satisfeitos”.

Segundo Aline Santos, a Secretaria Municipal de Saúde vem alterando alguns processos internos para melhorar o atendimento à população. São exemplos: o funcionamento ininterrupto das ESFs (de 7 às 16 horas) e da sala de vacina (de 8 às 15 horas); a confecção de protocolos com o objetivo de padronizar os atendimentos das ESFs; e o serviço de apoio, ou seja, a regulação de exames e consultas especializadas feita pela área administrativa da Secretaria.

Equipe

A atuação da equipe do PSF foi avaliada na parte técnica realizada tanto pelo enfermeiro quanto pelo médico. Nesta avaliação, houve o predomínio de respostas positivas nos três PSFs. “Segundo a percepção dos entrevistados, os médicos e enfermeiros das UBS são claros nas explicações que são passadas aos seus pacientes”, aponta a pesquisa.

O médico recebeu avaliação de 77,3% (PSF 1), 82,7% (PSF 2) e 85,6% (PSF 3), enquanto o enfermeiro foi avaliado, respectivamente, em 78,1%, 78,2% e 67,3%. Aline Santos destaca a presença no PSF 3 do Internato Rural da UFMG, “pois nos momentos em que não tínhamos o médico na equipe eles continuaram a executar o trabalho já conhecido pela população rural com apoio dos outros médicos, em especial da Drª Leilane, integrante da ESF Urdindo Cuidado Tecendo Saúde (ESF 1)”.

Com relação à visita domiciliar de médicos e enfermeiros, respectivamente, 84,7% e 75,9% dos entrevistados do PSF 1; 80,0% e 40,9% do PSF 2; e 64,4% e 64,4% do PSF 3 afirmaram não ter recebido atendimento em caso de doença e impossibilidade de se deslocar até o posto de saúde. Aline Santos reconhece que, “sob o ponto de vista da prestação de serviços oferecido pela equipe”, precisa ser melhorada a visita domiciliar após algum tipo de ocorrência relacionada à família assistida, em situações que impossibilitem o usuário de ir até a UBS. Ela acrescenta “que a equipe tem que se envolver como um todo”, “a partir da detecção pelo agente comunitário de saúde (ACS) sobre as intercorrências de cada família de sua microárea”.

Verificou-se, de forma geral, a “baixa presença do médico, enfermeiro, auxiliar de enfermagem nas residências”, quando relacionado à visita domiciliar que faz parte do trabalho do PSF, dentro da orientação prioritária das linhas-guias do Ministério da Saúde e do Estado de Minas Gerais. A pesquisa mostra que 7,12% dos entrevistados afirmaram que receberam a visita do médico em casa; 6,3% receberam a visita do enfermeiro em casa e somente 4,3% disseram ter recebido a visita do auxiliar de enfermagem em sua residência. Por sua vez, 97,4% dos entrevistados disseram ter recebido visitas dos agentes comunitários, dos quais 75,5% receberam visita mensal.

Agente

A pesquisa apurou que 72,9% dos usuários acham importante a visita do agente comunitário de saúde, 9,1% acham razoavelmente importante e 16,5% avaliam como extremamente importante. Apenas 1,1% deram pouca importância à visita dos agentes comunitários às residências.

No PSF 1, há relatos de visita a domicílio de dois em dois meses por parte do agente comunitário, ou até mesmo apenas quando solicitado. Em alguns casos, o agente visita o domicílio mais vezes quando é necessário. No PSF 2, houve mais críticas quanto à frequência das visitas, havendo domicílio em que o agente comunitário nunca apareceu. No PSF 3, os agentes receberam mais elogios por parte dos entrevistados, quanto a educação, competência e disposição.

Em resumo, 65,5% dos entrevistados disseram-se satisfeitos com a frequência das visitas do agente comunitário; 20,2% demonstraram muito satisfeitos; 11,1%, insatisfeitos; e apenas 2,3% totalmente insatisfeitos. Aline Santos considera que é possível melhorar “pois a função primordial do ACS é visitar todas as casas de sua microárea uma vez ao mês no mínimo”. Em caso de “alguma intercorrência” ou de famílias em situação mais vulnerável, recomenda “aumentar o número de visitas e envolver toda a equipe no cuidado daquele grupo familiar”.

Quanto à solicitação de serviço por parte de algum membro da família, 81,8% dos entrevistados do PSF 1 disseram ter recebido retorno dos agentes comunitários; 74,5%, do PSF 2; e 75,0%, do PSF 3. A pesquisa constata, assim, que “os agentes comunitários atendem às necessidades dos usuários do PSF de Resende Costa. Estes profissionais prestam assistência de forma contínua em relação à demanda de serviços requisitados pelos entrevistados”.

Gentileza

De modo geral, os usuários dos PSFs de Resende Costa disseram sentir “satisfeitos” com o atendimento dos profissionais de saúde, em relação aos itens “educação, gentileza e respeito”. O destaque foi o atendimento por parte dos agentes comunitários, presente nos elevados índices de satisfação. Ou seja, no caso dos agentes, 96,9% dos entrevistados consideraram “satisfatório” o atendimento nos itens educação, gentileza e respeito. A capacidade de escutar e entender os problemas do paciente também foi avaliada como “satisfatória” por 96,9%. Já a boa vontade e o interesse receberam “satisfatório” de 96,0%.

Por fim, não se verificou, como “seria desejável do ponto de vista da eficiência”, “diferença significativa na freqüência das visitas do ACS às residências com ou sem ocorrência das doenças crônicas. Essa é uma ressalva que pode ser feita à aprovação dos ACS’s. O dado indica uma demanda de usuários do PSF e um aspecto do atendimento que pode ser aprimorado”, constata a pesquisa.

Prevenção

O PSF 03 foi o último a ser implantado, fato que ocorreu em maio de 2018. Esta é a equipe mais importante na opinião do prefeito Aurélio Suenes, por “ser predominantemente rural”.

Para Aurélio, o resultado da pesquisa reflete não apenas a ampliação da cobertura do PSF – a segunda equipe foi criada em março de 2014 – como também o envolvimento do agente comunitário de saúde, reconhecido pelos entrevistados. “O PSF é de extrema importância para prevenir. A pesquisa mostrou que saúde é prioridade, e prevenção mais ainda.”

Mas o prefeito lembra que a prevenção começa na educação. “Eu não tinha clareza como hoje o quanto a educação pode mudar a vidas pessoas também na saúde.”

Nesse sentido, a Secretaria Municipal de Saúde já planeja melhorar o atendimento da população, sobretudo no processo de trabalho das Equipes de Saúde da Família, com base nos resultados da pesquisa, de acordo com Aline Santos. Para isso, será instituída no município a ferramenta da “Educação Permanente em Saúde”.

Trata-se de um modelo de educação destinado a trabalhadores de saúde, recomendado pela COREME – Comissão de Residência Médica, de São João del-Rei, “que, através de diversas metodologias ativas, envolvendo atividades individuais e em grupo, que partem de demandas do cotidiano laboral, incluem e valorizam o processo de ensino-aprendizado no dia-a-dia do trabalhador, levando os profissionais a entenderem e melhorarem seu processo de trabalho individual e coletivo, de forma a otimizar o funcionamento da rede de saúde. A Política Municipal de Educação Permanente em Saúde (EPS) tem como finalidade promover ações de EPS aos trabalhadores do município para que, ao longo do tempo, se construa um melhor atendimento nos serviços de saúde para os usuários da rede”.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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