Altar de capela da igreja do Carmo foi adquirido em 1940, em Resende Costa


Religião

José Venâncio de Resende0

Altar de capela da igreja Nossa Senhora do Carmo em SJdR pertenceu à igreja matriz de Resende Costa.

Desde 1940, um altar barroco de Resende Costa contribui para enriquecer o acervo histórico-religioso da igreja do Carmo, em São João del-Rei. “Graças, muitas graças a Deus por termos a nossa Capela do S. S. Sacramento.” Assim escreveu Luiz de Melo Alvarenga, secretário da mesa administrativa da Ordem Terceira de N. S. do Carmo, em reunião no dia 12 de Junho de 1940.

“Embora com tropeços, (a capela) foi erguida, de acordo com a suntuosidade que exige o nosso tempo”, relatou Alvarenga. “Ela ficou muito em conta, menos do que o orçado graças ao nosso querido Comissário Monsenhor José Maria Fernandez, que descobriu em Resende Costa um altar completo, em estilo barroco, e por preço aquicessível”.

O espanhol e ex-missionário José Maria Fernandez foi pároco de Resende Costa, entre Março de 1921 e março de 1925, no tempo da antiga igreja matriz, construída em 1749. Deixou a Paróquia para assumir a Freguesia de Nossa Senhora do Pilar de São João del-Rei e o lugar de vigário forâneo da Comarca Eclesiástica do Rio das Mortes.

 

Altar. Em reunião da mesa administrativa da Ordem, em 20 de Julho de 1938, o monsenhor José Maria Fernandez falou da necessidade de construção de uma capela para o Santíssimo. A igreja - disse o então comissário da Ordem - “dispõe de um cômodo que com facilidade poderá ser adaptado em uma modesta capela”. Então, o monsenhor pediu autorização à mesa administrativa para fazer as obras, o que foi aprovado na ocasião.

O assunto voltou à pauta da reunião da mesa administrativa da Ordem, em 14 de Outubro de 1939. Ficou decidida a aquisição ou a construção do altar para a Capela do Santíssimo Sacramento, conforme a autorização do “Termo de 20 de Julho de 1938”.

A ata da reunião da mesa, em 12 de Junho de 1940, apresenta um relato detalhado da montagem do altar, que ficou a cargo de José Tomaz Filho e de José Batista Ramos. “Para colocá-lo no lugar, foi preciso estudos devido ao não caber na altura do forro, mas finalmente conseguimos, juntamente com o Irmão Secretário e o sr. Rosini Baccarini, desenhista da Prefeitura”, disse o Prior da Ordem.

Para esta montagem, foi necessário abrir um buraco no forro, prosseguiu o Prior conforme a descrição da ata da reunião. “Recorremos ao sr. Baccarini por não ter o Assistente Técnico do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional mandado um projeto e planta como prometeu”.

O altar foi pintado todo de branco e a óleo – “pois a pintura primitiva era a óleo” - por não ter sido possível fazê-lo em gesso, continua a ata. “Cobrimos a parte dourada porque, como bem disse o Assistente Técnico, estava a talha ´muito prejudicada pela purpurina em todos os seus ornatos e motivos e que fora esta degradação muito bem ficará na sala`”.

 

Inauguração. A reunião da mesa administrativa de 26 de Março de 1947 discutiu a inauguração da Capela do Santíssimo Sacramento. Com a transferência do “Definitório” (espaço de reuniões) para novo local, a sua sala foi transformada na Capela do Santíssimo, “por ser o único cômodo mais amplo e que fica em local interior e livre de trânsito pela Igreja”, descreve a ata.

O comissário procedeu à bênção da Capela do Santíssimo Sacramento, acompanhado da mesa administrativa e de grande número de irmãos.

Em 2015, a Capela do Santíssimo passou cinco meses fechada para restauração, “sob a tutela do são-joanense Carlos Magno de Araújo e sua equipe”, de acordo com a ata da reunião da mesa administrativa de 7 de julho. A Capela foi toda pintada de tinta branca, tal como quando foi trazida em 1940 da cidade vizinha de Resende Costa, segundo o Prior da Ordem, Carlos Eduardo Valim Rodrigues.

“Após algumas tentativas de remoção da tinta de maneira equivocada por administrações anteriores, o altar se encontrava em estado muito ruim, causando desconforto para os atuais mesários que tiveram a iniciativa de proceder com a restauração por pessoas que de fato entendessem do assunto. Com recursos próprios da Ordem, a obra então foi iniciada em Fevereiro do mesmo ano”.

Logo depois da reunião, foi realizada, “com toda a pompa do ritual”, a transladação do Santíssimo Sacramento pelos padres Ramiro Gregório e André Buchmann de Andrade, este último de Paranaguá, para a Capela, “com a participação de muitos irmãos terceiros e demais devotos, que acompanharam o primeiro dia da novena em honra de N. Senhora do Carmo. A orquestra Ribeiro Bastos executava peças próprias para o ato”.

Quando a procissão chegou em frente à Capela - prossegue a ata redigida pela secretária Raquel Andrade -, as portas foram abertas e as luzes acesas. “O Santíssimo Sacramento foi levado ao altar e colocado no sacrário, podendo enfim os presentes contemplarem a beleza e riqueza das pinturas que foram descobertas após a restauração.”

 

Altar pertenceu a antiga matriz, derrubada em 1939

O altar adquirido pela Ordem Terceira de N. S. do Carmo pertenceu à antiga igreja matriz de Resende Costa, erguida em 1749 e reformada, pela primeira vez, no período de 1893-1896 pelo vigário José Duque de Siqueira, segundo o livro Memórias do Antigo Arraial de Nossa Senhora da Penha de França da Lage, atual Cidade de Resende Costa (Coleção Lajeana, 2014), de autoria de José Maria da Conceição Chaves, o Juca Chaves. Nesta ocasião, foi reconstruída uma das sacristias (do lado esquerdo), que se transformaria na capelinha do S. S. Sacramento, “com a ereção de um altar e nicho”.

O primeiro aumento da matriz ocorreu entre 1901 e 1909 por iniciativa do então vigário padre Alfredo Rodrigues de Macedo, relata Juca Chaves. “Em 1910, o templo recebeu dois novos sinos e, em 1915, o relógio. A construção permaneceu de pé até 1939.

O começo da segunda reforma, 30 anos depois da primeira, deu-se em 10 de Maio de 1939, “em nova e total construção de estilo colonial, levantada sobre as suas antigas bases pelo dinâmico e pranteado vigário padre Heitor de Assis, tão cedo roubado à vida em plena atividade de um intenso apostolado”.

Mas a nota 1, no capítulo “Igreja Matriz”, traz uma importante revelação de Antônio de Lara Resende, ao comentar os elogios de Juca Chaves ao padre Heitor e sua obra inacabada: “Parece que a delicadeza de espírito do autor procura justificar o grave erro do padre Heitor, a cujo zelo sacerdotal não correspondiam conhecimentos da História e da Arquitetura que condenariam a iniciativa de demolir o velho bem pelo que deveria ser conservado com carinho. Afirmou-me dom Helvécio que lhe fora pedido por padre Heitor apenas licença para reformar o engradamento e a cobertura da igreja. Nunca permitiria se fizesse o que se fez. (…) Era contristador o espetáculo oferecido por inúmeras pedras e peças de alvernaria lavradas que arrancadas a marrão do velho templo jaziam espalhadas pelos arredores. Até a pia batismal foi arrancada e abandonada por muito tempo”.

 

A construção da nova matriz foi concluída pelo padre Nélson Rodrigues Ferreira, novo pároco de Resende Costa empossado em Março de 1944.         

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