Artesãos de Resende Costa são protagonistas em artigo acadêmico


Cultura

André Eustáquio0

fotoTaís Duarte é autora de artigo acadêmico que aborda as condições de trabalho dos artesãos de Resende Costa (Foto arquivo pessoal Taís Duarte)

O artesanato produzido em Resende Costa, na região do Campo das Vertentes, conquistou o Brasil e outros países. As colchas, cortinas, tapetes e caminhos de mesa tecidos com linhas e tiras de retalhos impulsionaram a economia do município com população estimada de 11.569 habitantes. O setor é hoje o principal gerador de emprego e renda e atrai turistas durante o ano inteiro à cidade. No entanto, ainda se dá pouco destaque àqueles que trabalham diariamente na produção do artesanato: os artesãos.

A resende-costense Taís Aline Duarte, 25, graduada em Engenharia Ambiental e pós-graduada em Engenharia de Segurança do Trabalho, ambos os cursos realizados na UNIBH, escreveu seu artigo de conclusão da pós-graduação sobre o impacto que o trabalho realizado nos teares manuais exerce na saúde dos artesãos de Resende Costa. “A intenção do artigo é chamar a atenção para as necessidades do artesão, colocá-lo como protagonista da cena e garantir informação sobre os riscos da atividade exercida por ele. Por isso esse tema foi escolhido e retratado com carinho e empatia”, disse Taís ao JL.

O tear manual faz parte da rotina de trabalho de muitos resende-costenses, estando presente nas varandas e garagens de inúmeras residências de Resende Costa. Em algumas delas, onde a produção e o número de artesãos trabalhando são maiores, há locais construídos especialmente para abrigar os teares. Porém o que mais se vê, tanto na cidade quanto nos povoados da zona rural do município, são pessoas enrolando novelos, amarrando tapetes e cortando tiras de retalhos nas calçadas ou nas salas de suas casas. “O posto de trabalho geralmente é em pequenos espaços em suas próprias casas, sem preocupação com uma ventilação cabível, iluminação devida e sem a menor atenção com o conforto”, observou Taís em seu artigo.

 

Riscos à saúde

O tear manual, introduzido em Minas Gerais pelos colonizadores portugueses, faz parte do cotidiano e da cultura dos resende-costenses. Taís Duarte descreve em seu artigo o funcionamento do tear e, ao mesmo tempo, identifica alguns problemas que dificultam ao artesão ter ciência dos riscos que a atividade pode causar à sua saúde. “O tear manual não apresenta nenhuma identificação ou guia capaz de orientar (o artesão) a respeito dos riscos de acidentes ou quedas decorrentes do material do qual ele é feito, isto é, a madeira”.

A autora teve contato com artesãos e estudou inúmeros casos, o que lhe permitiu obter amplas informações sobre o assunto. “Com base em estudos de caso, descrevi as principais doenças ocupacionais que o tear manual causa aos trabalhadores. Sugeri medidas mitigadoras e também apresentei um modelo de tear ergonomicamente mais confortável sem, no entanto, perder as características culturais do mesmo”, explica Taís. De acordo com ela, “ainda faltam informações acerca do assunto, por isso muitos artesãos de Resende Costa sofrem com doenças, como varizes, cervicalgia, L.E.R. (lesão por esforço repetitivo), dores, alergias, entre outras, por não saberem como se prevenir”.

Taís abordou também as doenças psicológicas que podem atingir os trabalhadores da atividade artesanal. O seu estudo confirma que o estresse e a depressão são as doenças mais comuns que acometem os artesãos. “Elas são causadas pela desvalorização do produto e do profissional, bem como pela incerteza que o trabalho informal proporciona aos trabalhadores”, diz a autora.

 

Preocupação com o trabalhador

O objetivo de Taís Duarte em seu artigo é demonstrar os impactos da atividade artesanal na qualidade de vida do artesão. “Optei por esse tema, primeiro, pela minha ligação emocional com o artesanato de Resende Costa: minha família fez e ainda faz renda através do artesanato. Aliás, creio que todos que moram ou já moraram na cidade são afetados direta ou indiretamente pelo artesanato local, que é a principal fonte de economia do município. Segundo, por acreditar que falta um olhar mais atento em relação à qualidade de vida dos artesãos e a seus postos de trabalho”.

A preocupação com o trabalhador também foi decisiva quando Taís escolheu a pós-graduação. “Escolhi essa pós-graduação porque uma das obrigações do engenheiro de segurança do trabalho é elaborar, administrar e fiscalizar planos de prevenção de acidentes, o que está diretamente ligado à minha graduação. Outra, e a mais importante de suas atribuições, é a responsabilidade em zelar pela saúde e pela integridade física do trabalhador, fazendo o possível para reduzir ou eliminar o risco de acidentes no ambiente de trabalho. Fiz essa escolha acima de tudo porque me estimula enquanto pessoa e profissionalmente”.

A conclusão da pós-graduação, em dezembro de 2017, em Belo Horizonte, foi apenas mais uma etapa vencida na carreira profissional da resende-costense Taís Aline Duarte. Como a grande maioria dos recém-formados no Brasil, ela pretende entrar logo no concorrido mercado de trabalho. “Obviamente, quero ingressar no mercado de trabalho e buscar ainda mais conhecimento através de um mestrado, por exemplo, relacionado à segurança do trabalho”.

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