As queimadas que nos assustam todos os anos


Editorial

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Neste ano, o Brasil ultrapassou o número de 100 mil focos de queimadas. Isso não ocorria desde 2012. No Pantanal, de acordo com dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), de 1º de janeiro a 11 de setembro de 2019, o número de incêndios cresceu 334% em relação ao mesmo período de 2018. Diante do aumento no número de queimadas, da vegetação seca, da baixa umidade do ar e da escassez de chuva, os estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul decretaram situação de emergência durante o auge do período da seca.

Queimadas são comuns no Brasil durante o inverno. Todos os anos registram-se focos de incêndio em diversas regiões do país, especialmente na Amazônia, no Cerrado e no Pantanal, considerados os maiores biomas brasileiros. No entanto, isso não pode servir de argumento de que “não há muito o que se fazer, pois as queimadas são comuns nesta época do ano”, conforme disseram meses atrás algumas autoridades enquanto o fogo consumia quilômetros de matas, florestas e parques na Amazônia e no Pantanal, apavorando o mundo inteiro.

A maioria das queimadas que destroem, todos os anos, extensas áreas de nossas florestas são provocadas intencionalmente. Tratam-se de ações criminosas perpetradas por pessoas inconsequentes e gananciosas que, em busca de formar grandes áreas de pastagens, ignoram os riscos e o gravíssimo impacto ambiental.

Não precisamos, contudo, ir à Amazônia e ao Pantanal para refletirmos sobre o problema das queimadas. Durante o período da seca, especificamente entre os meses de agosto e setembro, focos de incêndios são vistos todos os anos em diversos pontos da região do Campo das Vertentes. Nem mesmo a Serra de São José – área de proteção ambiental (APA) localizada entre os municípios de São João del-Rei, Tiradentes, Santa Cruz de Minas, Coronel Xavier Chaves e Prados – costuma escapar ilesa das queimadas no inverno.

Em muitos casos é necessária a intervenção do Corpo de Bombeiros para controlar as chamas, como aconteceu em Resende Costa no início de setembro último. Moradores do bairro Pôr do Sol, próximo à antiga estrada de terra que liga Resende Costa a Coronel Xavier Chaves, ficaram assustados com um incêndio que em pouco tempo consumiu a vegetação seca de um terreno situado em área residencial. Conforme mostra uma reportagem desta edição do Jornal das Lajes, o incêndio teve início a partir de uma “brincadeira” de dois jovens, sendo um deles menor de idade, que atearam fogo na vegetação e não conseguiram controlar as chamas que se espalharam rapidamente. Foram consumidos pelo fogo cerca de 4.000km².

Antigamente era comum, durante os meses do inverno, avistarmos de longe focos de queimadas nos pastos. Muitas vezes de forma inadvertida, os proprietários de terrenos queimavam o capim seco para, assim que as chuvas chegassem, pudesse brotar nova vegetação verde para alimentar o gado. Alguns utilizavam técnicas rudimentares a fim de impedir que o fogo se espalhasse descontroladamente.

Antes vistas somente na zona rural, as queimadas passaram a acontecer com frequência nos bairros e áreas residenciais dos centros urbanos, como mostra a reportagem sobre o incêndio no bairro Pôr do Sol, em Resende Costa. Ainda há muitas pessoas que desprezam os riscos, desrespeitam os vizinhos e a legislação e ateiam fogo em lotes com o objetivo de queimar a vegetação seca e os entulhos acumulados.

As chuvas chegaram novamente e as queimadas – na Amazônia, no Pantanal, no Cerrado, em Resende Costa, nas serras que nos rodeiam – deixaram, pelo menos até o próximo ano, de nos assustar. Porém, não podemos deixar de falar sobre elas. É preciso, o ano inteiro, intensificar as campanhas de conscientização, identificar e punir criminosos que provocam intencionalmente queimadas em parques, matas e na vegetação nas margens das estradas.

Não podemos falar sobre queimadas somente quando vemos o fogo consumir nossas florestas. A preocupação com o meio ambiente dever ser cotidiana. Façamos, pois, a nossa parte e cobremos dos governantes as responsabilidades deles.

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