As várias fases da política de Madre de Deus de Minas


Política

José Venâncio de Resende3

A história política de Madre de Deus de Minas passou por várias fases distintas desde a emancipação do município em 1953. O predomínio do velho PSD (Partido Social Democrático) no período anterior à ditadura militar; a troca de posições na fase política de ARENA (Aliança Renovadora Nacional) e MDB (Movimento Democrático Brasileiro); o retorno ao ninho dos antigos pessedistas e a confusão partidária mais recente. 

As atividades políticas em Madre de Deus de Minas, antiga Cianita, tiveram início no período entre 1859 (ano em que foi elevado à categoria de distrito) e 1953 (ano em que ocorreu sua emancipação de Andrelândia), conta Prudente José Portela, neto do coronel Leopoldo Portela que foi vereador em São João del-Rei.

Em Cianita, destacavam-se, nesse período, os coronéis (caçadores de votos, astutos, às vezes violentos ou cheios de artimanha) José Venâncio, José Carvalho da Fonseca e Joaquim Pedro Araújo, Antonio Bernardino Araújo e José Hilário Ribeiro. “Durante a vigência do coronelismo, o então distrito de Cianita era representado por edis na Câmara Municipal do Turvo (Andrelândia), entre eles os cidadãos José Bernardino Carvalho Araújo e Sebastião Hipólito Pio; este, o decano dos vereadores e patrono da sala de reuniões da Câmara Municipal de Madre de Deus de Minas”, relata Prudente. O coronel José de Carvalho da Fonseca, avô materno de Prudente, pertencia ao grupo político que integrou o PSD.

O Partido Republicano do Turvo (PRT) reunia, em Cianita, nomes como Valério Teixeira de Rezende e Severino Augusto dos Reis Meireles, proprietários das grandes fazendas Vargem e Cachoeira, conta Álvaro de Azevedo (Andrelândia – Fatos de sua vida político-social, Livraria Clássica Brasileira, Rio de Janeiro, 1954). Entre as figuras de projeção do antigo distrito, o fazendeiro “estouvado” José Venâncio Teixeira e seu filho Zéquinha Venâncio. “Quem manda em Madre de Deus, dizia ele, é o compadre Joaquim e quem manda no compadre Joaquim sou eu.”
Joaquim era membro do diretório do PRT, como explica Azevedo. “Se, pois, nos bastidores, como insinuava (Zéquinha Venâncio) com espírito, seria ele, em última análise, o chefe de Madre de Deus, quem, entretanto, representava o papel no palco era o seu cunhado, Joaquim Pedro de Araújo, proprietário da Fazenda dos Campos, situada a meio caminho de Turvo e São João del Rei.”

Azevedo conta que o mandatário do PRT, Francisco Bressane, impôs ao partido a divisão do queijo, “que era todo seu”, com o Visconde de Arantes. E assim se fez, entre os partidos locais, a “malfadada conciliação de triste memória”. Caberia a presidência da Câmara ao PRT e a maioria de vereadores ao “Partido do Visconde”.

Ocorre que o Visconde aproveitou deste acordo e “fraudou logo o compromisso conciliatório, chegando mesmo a pedir ou, pelo menos, a facilitar a mutilação do município, com a passagem de Carrancas para o município de Lavras. É que o eleitorado daquele distrito pertencia, na sua totalidade, ao partido contrário ao seu. Essa arma política deixou o PRT desfalcado de valioso contingente eleitoral”.

O ex-presidente da Câmara, José Bonifácio de Azevedo, a quem se dirigira o Visconde, preferiu, de acordo com o consenso unânime do partido, bater a eleição. E assim não assinara o acordo, por não confiar na lealdade do Visconde. “Mandou que outros o fizessem.” Houve o pleito e o PRT foi derrotado, permanecendo no ostracismo até 1915, quando voltou de novo às urnas.

Prudente conta que, na década de 1930, existiu na então Vila de Cianita um núcleo da Ação Integralista Brasileira, chefiado pelo fazendeiro Joaquim de Cerqueira Portela que, durante algum tempo, foi auxiliado pelo paulista Teótimo Pires Camargo. Este núcleo foi fechado pelo delegado de polícia local que inclusive mandou queimar o seu arquivo em praça pública.

Durante o Estado Novo (1937-1945), surgiram a UDN, o PSD e o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). As correntes políticas de UDN e PSD em Andrelândia (antigo Turvo) eram conhecidas popularmente como caranguejos e viados, de acordo com o padre José Paulo Guimarães Menezes, de Piedade do Rio Grande.

Emancipação

Antonio Araújo, o Toniquinho, era empregado da Secretaria dos Municípios na capital mineira quando pediu a emancipação de Cianita. Ele integrava o grupo que liderava a campanha, composto por políticos do PSD como José Bernardino (Zeca do Afonso), José Hilário Ribeiro, Helio Teixeira de Souza e Geraldo Soares Campos (ambos genros de Zeca do Afonso), Antonio Dirceu de Araújo Carvalho (filho de Zeca do Afonso), José Crispim Guimarães e José Amintas de Araújo. Mas durante a votação, na Câmara Municipal de Andrelândia, a UDN – que era contrária por razões eleitorais - acabou por apoiar a emancipação, inclusive o renitente vereador Sebastião Hipólito.

Cianita mudou o nome para Madre de Deus de Minas e, com a instalação do Poder Executivo em 12 de dezembro de 1953, José Justino de Souza foi nomeado intendente do novo município. O primeiro prefeito eleito foi Toniquinho Araújo (1955-59), com José Hilário de vice. Fazendeiro e dono de laticínio – “fazia o melhor queijo prata e a melhor manteiga da região -, José Hilário era o chefe local do PSD que mandava em Madre de Deus, lembra Hélio Teixeira (delegado do município por mais de 20 anos, nomeado pelo governador udenista Magalhões Pinto, embora fosse de partido diferente).

No período 1959-63, José Hilário foi novamente eleito, desta vez como vice de Miguel Brasilino do Nascimento, o Dedé, que renunciou ao cargo no meio do mandato em benefício do chefe do PSD. Uma novidade da gestão de Dedé foi a criação de dinheiro próprio (notas de papel) para circular no município, excentricidade que teve vida curta, como conta José Carvalho. “Isso foi muito importante na época dele.”
Um desentendimento de padre Henrique com José Hilário por causa de terras levou o vigário a liderar um movimento, que resultou na criação do PDC (Partido Democrata Cristão) com o apoio de líderes políticos locais. O acordo desembocou na eleição de José Tarcizio de Araújo Lima, com Balduíno Ribeiro (Belinho) de vice, para o período 1963-67.

Troca de siglas

Com o fim do quadro partidário pré-ditadura militar, Antonio Dirceu, Hélio Teixeira e Joaquim Silvano foram a Belo Horizonte registrar o MDB (Movimento Democrático Brasileiro) de Madre de Deus de Minas. Mas logo descobriram que José Hilário passara na frente deles e havia entrado com os papeis. Sem opção, os três registraram a ARENA (Aliança Renovadora Nacional) no município.

José Hilário então fez um acordo com Antonio Dirceu para dividir o mandato meio a meio. Venceram a eleição (período 1967-71), ao derrotar a chapa de Sebastião Hipólito Pio e Severino Meirelles (vice) do MDB. Mas os dois se desentenderam na compra de um prédio para a escola estadual José de Souza Leite, e Antonio Dirceu não passou o cargo para o vice, conforme o combinado.

O mandato-tampão de 1971-73 resultou em outro acordo político entre a ARENA e o MDB, desta vez para eleger chapa única à prefeitura liderada por Antonio Guilherme Araújo Lima (irmão de José Tarcizio), com Antidio Pereira Mendes de candidato a vice. Mas o prefeito eleito acabaria debandando para o lado de José Hilário, de acordo com Hélio Teixeira.

Já o período de 1973-77 marcou a chegada ao poder municipal do MDB de José Hilário, ao eleger seu filho Sebastião Fabiano Ribeiro (Tãozinho) e o vice José da Páscoa Nascimento (Zé Caixeiro). Pelo mesmo partido, Zé Caixeiro foi eleito prefeito para o período seguinte (1977-82).
Tãozinho voltaria à prefeitura em 1983, desta vez pelo PDS (Partido Democrático Social), partido que substituiu a ARENA no início dos anos 1980. Com o fim do bipartidarismo e o surgimento do PMDB, o grupo político liderado por Antonio Dirceu voltaria ao antigo ninho, o velho MDB. Assim, Zé Caixeiro optaria por ingressar no PTB para retornar à prefeitura em 1988, mas faleceu durante o mandato e foi substituído no cargo pelo vice José Crispim Guimarães.

Na eleição de 1982, Tancredo Neves fazia campanha para governador do Estado quando apareceu em Madre de Deus de Minas para pedir apoio político a Antonio Dirceu. Hélio Teixeira conta que, na conversa entre os dois, Antonio Dirceu prometeu apoio desde que Tancredo assumisse o compromisso de construir a rodovia entre Madre de Deus e São João del-Rei. Na ocasião, Tancredo perguntou: “é só o asfalto que vocês querem?” Ao que Antonio Dirceu respondeu: “atrás do asfalto vem muita coisa”.

Já no exercício do cargo de governador, Tancredo convidou para um almoço, no Solar dos Neves em São João del-Rei, lideranças políticas de Madre de Deus de Minas, tendo comparecido Antonio Dirceu , Hélio Teixeira, Joaquim Silvano, Elias Carvalho (presidente do PMDB) e Wilson Teixeira de Souza. Neste almoço, Tancredo assinou o contrato com a empresa CEESA (Construtora de Estradas e Estruturas) para construir a estrada. A obra começou em 1995 e a nova rodovia seria inaugurada no início de 1987.

Até a década de 1980, ocuparam mais vezes a presidência da Câmara Municipal os vereadores José de Araújo Carvalho (sete vezes), Sebastião Hipólito Pio (seis), Prudente José Portela, José Maria de Paiva Oliveira e José dos Prazeres de Sá (três vezes cada).

Novas gerações

Em 1993, apareceu em cena João Bosco Nepomuceno, que venceu Tãozinho por uma “diferença histórica” (mais de 500 votos numa cidade do porte de Madre de Deus de Minas), conta José Carvalho. O vice-prefeito eleito era João Eustásio (Tasinho), filho de Joaquim Carvalho de Araújo e irmão do próprio José Carvalho (que foi vereador por quatro mandatos).

No período 1997-2004, Madre de Deus de Minas foi administrada por José do Carmo Nascimento, irmão de Zé Caixeiro, eleito pelo Partido Liberal (PL). A família Araújo retomou o poder em 2005, com Tasinho (PMDB), que dirigiu o município por dois mandatos.

O atual prefeito Antonio Reis de Andrade, eleito em 2012 pela coligação PSDB/PT/DEM/PTB/PV/PPS, é produtor rural e empresário do setor de laticínios. Ele derrotou, respectivamente, sobrinho e tio que fazem parte de duas famílias tradicionais na política municipal: Marcelino Nascimento (coligação PMDB/PDT), com o apoio dos Araújo, e José do Carmo Nascimento (PMN).

Em Madre de Deus de Minas, não se deve pedir coerência político-partidária, resume José Carvalho. “Aqui, nós olhamos o candidato, não o partido.”

Economia

Madre de Deus de Minas tem uma população estimada em cerca de 4.900 habitantes, de acordo com dados de 2010 (últimos disponíveis) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O produto interno bruto (PIB), soma de toda a produção municipal (agropecuária, industrial e de serviços), foi avaliado em R$ 54,6 milhões (IBGE, 2010).

A principal atividade municipal é a agropecuária. Segundo números de 2011 do IBGE, o rebanho reúne 13,998 mil cabeças de bovinos; 2,755 mil cabeças de suínos e 7,481 mil cabeças de aves. A quantidade de vacas ordenhadas atinge 5,299 mil cabeças que produzem 9,114 milhões de litros de leite.

Na produção agrícola, destacam-se o milho (24 mil toneladas); a cana-de-açúcar (8,5 mil toneladas); o feijão (5,55 mil toneladas); o trigo (4,55 mil toneladas); e a soja (3 mil toneladas).

A maior parte da produção de grãos é “exportada”, retornando na forma de ração e farelo para a alimentação do gado, de acordo com a engenheira agrônoma Maria Alice Monteiro do Nascimento, da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (EMATER-MG). O trigo, um dos destaques da produção local, é vendido para a agroindústria moageira, também fora do município. A destinação da cana-de-açúcar é dividida entre a suplementação animal e a produção de cachaça.

A agroindústria resume-se à empresa Laticínios Madre de Deus de Minas, que recebe parte do leite local e também o produto de municípios vizinhos.

 

 

Comentários

  • Author

    Gostei das informações sobre a emancipação de cianita, hoje Madre de deus de minas!


  • Author

    Gostaria de fazer apenas simples correções nas narrações acima:
    1) nas eleições municipais de 1966 quando houve acordo político e foram eleitos Antônio Dirceu de Araújo Carvalho e José Hilário Ribeiro não houve chapa concorrentes.
    2)Impossível as obras da rodovia São João DelRei/Madre de Deus de Minas terem início em 1995 e ser inaugurada em 1987. Não teria sido o contrário?


  • Author

    olá, ouvi dizer q na década de 70 Madre de Deus distribuiu terras para aposentados do estado do RJ


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