Aumento de casos de depressão e de tentativas de suicídio entre adolescentes preocupa educadores de Resende Costa


André Eustáquio / Vitória Cristina


Roda de conversa com alunos da Escola Municipal Paula Assis, no povoado do Ribeirão, em Resende Costa (Foto Tatiane Silva)

Desde 2003, o dia 10 de setembro é o “Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio”. Por isso, em 2015, o Centro de Valorização da Vida (CVV), o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) criaram o “Setembro Amarelo”. A cor amarela faz referência a um episódio ocorrido em 1994, no Estados Unidos, em que um jovem americano de apenas 17 anos, chamado Mike Emme, tirou a própria vida dirigindo seu Mustang 68 amarelo. Amigos e familiares de Emme distribuíram no funeral cartões com fitas amarelas e mensagens de apoio para pessoas que, porventura, estivessem enfrentando o mesmo desespero de Mike.

Desde então, a mensagem dos amigos e familiares de Mike Emme difundiu-se no mundo inteiro e o tema de prevenção ao suicídio ganhou força, deixando de ser tabu e passando a ser mais debatido nos meios de comunicação, nas instituições educacionais, religiosas e de saúde.

Como evitar que os adolescentes cheguem à atitude extrema de tirar a própria vida? Os dados são alarmantes. Uma pesquisa da OMS (Organização Mundial de Saúde), divulgada em 2014, apresenta o Brasil em oitavo lugar entre os países com maior índice de suicídio. Índia, China e Estados Unidos lideram essa triste estatística.

No Brasil, de acordo com informações publicadas na Wikipédia, “o suicídio é considerado um problema de saúde pública e sua ocorrência tem aumentado muito entre jovens. De acordo com números oficiais, 32 brasileiros se matam por dia em média, sendo essa uma taxa maior do que a de vítimas de AIDS e da maioria dos tipos de câncer”.  Ainda segundo dados da OMS, “no mundo, o suicídio é a terceira causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos e a sétima causa de morte de crianças entre 10 e 14 anos de idade.”

 

Casos em Resende Costa

Inúmeras pessoas levantam, frequentemente, a hipótesede que em Resende Costa o índice de casos de suicídio está acima da média de outras cidades da região. Tal suspeita, porém, não encontra sustentação em nenhum estudo científico, sociológico ou antropológico. Quando surge um caso, sobretudo fatal, de tentativa de suicídio, imediatamente ouve-se de pessoas na cidade que “em Resende Costa é alarmante a quantidade de suicídio”.

Em 2016, o JL entrevistou no Jogo Aberto o clínico geral Paulo Cézar Fortuna Dias, que trabalha e reside em Resende Costa desde 1977. Na entrevista (leia no site do JL a íntegra da entrevista com doutor Paulo), o médico falou, entre outros temas, sobre suicídio, a importância de se abordar o assunto e medidas de prevenção. Questionado sobre casos de suicídio em Resende Costa, sobretudo se a nossa estatística é alta quando comparada a de outros municípios, doutor Paulo afirmou que não. “A gente convive muito com pacientes de outras cidades que frequentam Resende Costa, principalmente a parte hospitalar. E por isso temos notícias de que se trata de um problema geral. Por exemplo, em Lagoa Dourada há um alto índice. A forma que a pessoa utiliza para praticar o suicídio varia muito. Muitos tomam remédio, outros usam arma de fogo, enforcamento, afogamento. Essa média não é exclusiva de Resende Costa. O que faz com que a média pareça ser alta para nós é porque a cidade é pequena. Quando acontece um caso, todo mundo fica sabendo. Em São Paulo, quando um cara suicida, ninguém fica sabendo. É a facilidade de difusão da notícia que faz parecer que o índice de suicídio seja alto aqui.”

Em relação a possíveis causas que levam a casos extremos de suicídio em Resende Costa, doutor Paulo destacou algumas doenças que podem colaborar. “Resende Costa tem muitos hipertensos, muitas pessoas que têm problemas psiquiátricos e que estão fazendo tratamento específico. É lógico que numa cidade menor o casamento entre consanguíneos acontece com certa frequência. Isso leva a uma maior possibilidade de manifestação dos genes recessivos, ou seja, aqueles genes causadores de doenças. Então, devido a essa situação, podemos dizer que o índice de problemas psicológicos, de hipertensão, de diabetes na cidade, é alto e tem relação com a consanguinidade.”

 

Preocupação nas escolas

Neste ano, dois casos de suicídio de alunos da Escola Municipal Paula Assis, localizada no povoado do Ribeirão, zona rural de Resende Costa, deixaram diretores, professores, pedagogos e pais de alunos em alerta. Observa-se que há um aumento considerável no número de casos de depressão entre adolescentes que frequentam as escolas do município. E a depressão, quando grave, pode, sim, levar o indivíduo a cometer suicídio.

O JL conversou com a diretora da Escola Municipal Paula Assis, Virgínia Daher, que falou sobre como a escola tem lidado com a situação e quais iniciativas têm sido tomadas para acompanhar e orientar os alunos que sofrem de depressão. De acordo com a diretora, os próprios alunos tomam iniciativa de tocar no assunto referente à depressão e à ansiedade. “Eles conversam com professores e funcionários da escola e todos ajudam como podem, dando conselhos, ouvindo”, disse Virgínia. No entanto, para a diretora, não se trata de uma situação fácil de ser trabalhada, uma vez que a escola não possui em seu quadro efetivo de funcionários profissionais preparados para ajudar formalmente os alunos acometidos por depressão e ansiedade. “Sabemos que a depressão e a ansiedade não são temas atuais. Há tempos são causas de sofrimento. Mas, por várias causas, essas síndromes estão se intensificando, principalmente entre crianças e jovens. E esse é o nosso público na escola. E todos que convivem com os alunos têm observado, mais do que nunca, a necessidade de abordar esses assuntos.”

O aumento no número de casos de depressão e de tentativas de suicídio entre adolescentes levou a direção da escola Paula Assis a promover ações que visam a amparar os alunos que manifestam indícios de depressão, bem como promover debates que evidenciam o problema. De acordo com Virgínia Daher, a escola tem contado com a ajuda de profissionais, psicólogos voluntários que dedicam trabalho e tempo para ajudar os alunos, conversando e orientando-os (leia na seção Jogo Aberto entrevista com a psicóloga da criança e do adolescente, Tatiane Maria da Silva, que realiza trabalho voluntário na Escola Paula Assis). “São rodas de conversas, atendimentos individuais na escola ou no consultório, momentos de interação com os pais, entre outros. A escola é muitíssimo grata a eles por esse trabalho que está sendo realizado”, diz Virgínia Daher.

A Escola Paula Assis criou o Grêmio Estudantil, que promove rodas de conversas, possibilitando aos alunos ter oportunidade de conversarem entre eles sobre os mais diversos assuntos. Nas paredes da escola são fixadas frases motivacionais. Foi criado também o Instagram@razoesparaseguir, com o objetivo de abordar o tema da depressão, porém tentando motivar os adolescentes alunos a enfrentar e superar o problema.  “Além de falar sobre o assunto e de ouvir os alunos, é necessário apresentar caminhos, alternativas, perspectivas. São gestos mínimos que podem ajudar”, afirma Virgínia Daher. “É Preciso mostrar a eles que problemas existem, são muitos, são pesados, fazem sofrer, mas eles não podem só sentir. Precisam aprender a resolver. E temos tentado ajudá-los, da maneira menos intromissiva possível, mas algumas vezes precisamos conversar com a família”, diz a diretora da Paula Assis.

 

Atendimento psicológico nas escolas

Para maximizar o acompanhamento e o atendimento dos alunos, os educadores da rede municipal solicitaram ao prefeito Aurélio Suenes que o município contrate psicólogo com a finalidade de trabalhar especificamente nas escolas. “É necessário não só para atender aos alunos, mas também aos professores e funcionários das escolas”, esclarece Virgínia Daher. A discussão sobre a urgente demanda chegou à Câmara Municipal. Tanto o prefeito municipal quanto os vereadores disseram estar ao lado dos educadores e prometeram empenho para ajudá-los a enfrentar esse desafio. “É uma solicitação justa, uma vez que o problema é bastante grave. Estamos empenhados a encontrar uma solução para podermos contar com a presença de psicólogo nas escolas, acompanhando os alunos e toda a comunidade escolar”, disse o prefeito Aurélio Suenes durante audiência pública na Câmara Municipal, no dia 23 de setembro.

Em agosto último, aconteceu na Prefeitura Municipal de Resende Costa uma reunião que contou com a presença do prefeito Aurélio Suenes, vereadores, professores e pedagogos da rede municipal de ensino. O tema da reunião foi a necessidade urgente de contratar um profissional de saúde psíquica para trabalhar nas escolas do município. O vereador Francisco Abel vem acompanhando, desde o início, essa discussão e participou da reunião na prefeitura. “Fomos abordados por um profissional da educação a respeito do que poderia ser feito acerca dos acontecimentos nas escolas, em relação à saúde mental dos alunos. Trata-se de um assunto que é de conhecimento de todos. Estamos diante de perdas de jovens e adolescentes, ou seja, vidas que se perderam. Em reunião com profissionais da área de educação, com o prefeito e três vereadores, ficou entendido que é mais do que urgente a contratação de um profissional de saúde mental para ajudar as escolas a enfrentarem esse problema sério que afeta os nossos jovens, adolescentes e crianças. O poder público tem o dever de agir rápido em situações de urgência em nosso município. Por isso, enquanto vereador, sou totalmente a favor de termos em todas as escolas municipais um profissional de saúde mental para acompanhar os alunos que enfrentam o grave problema da depressão. Quero afirmar o meu apreço a todos os profissionais da educação e parabenizá-los por estarem sempre cuidando com carinho dos nossos alunos”, declarou o vereador Abel.

 

Setembro Amarelo

A discussão sobre os temas da depressão e do suicídio foi intensificada na Escola Paula Assis durante o mês de setembro, em virtude da campanha “Setembro Amarelo”. No dia 7 de setembro, Dia da Independência, aconteceu em Resende Costa o tradicional Desfile da Independência, com a participação de autoridades municipais, militares e das escolas. Cada escola, municipais e estadual, apresentou um tema no desfile, que aconteceu na rua Gonçalves Pinto, centro da cidade. A E. M. Paula Assis trabalhou o tema “Valorização da vida”. “É muito válido o mês de setembro para trabalhar com os alunos, mas esse assunto deve ser abordado, trabalhado e discutido durante todo o ano, não só em setembro. Pessoas sofrem de depressão e ansiedade durante o ano inteiro”, conclui a diretora Virgínia Daher.

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    Um problema mundial da juventude! Prof. Lamartine Bião Oberg www.biao brésil.com facebook: Gramática Ativa 1 - versão brasileira


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