Biblioteca Municipal de SJDR comemora seus 190 anos

A programação de eventos ocorre entre 22 e 25 de agosto


Cultura

José Venâncio de Resende1

Sede da Biblioteca Municipal de S. João del-Rei.

Vários eventos marcam, esta semana, a comemoração dos 190 anos da Biblioteca Municipal de São João del-Rei, fundada em 15 de agosto de 1827 por Baptista Caetano de Almeida, comerciante e político, nascido em Camanducaia, no Sul de Minas Gerais. Foi considerada a primeira Biblioteca Pública da Província de Minas Gerais e denominada Livraria Pública de São João del-Rei.

A princípio, a Biblioteca funcionou no prédio da Santa Casa da Misericórdia e, anos depois, foi transferida para o andar térreo do prédio da Casa de Câmara (andar superior) e da Cadeia (que fora transferida para o Largo do Carmo). Com a instituição da “prefeitura” na década de 1930, que passou a exercer as funções executivas do município, a Biblioteca dividia o espaço com o novo poder municipal. A sede atual é nos fundos da casa que pertenceu a Bárbara Heliodora, na praça Frei Orlando, 90, ao lado da Igreja de São Francisco.

O acervo foi constituído inicialmente por doações do próprio fundador, que escreveu ao presidente da Província de Minas Gerais, cedendo diversos livros de sua biblioteca particular. Ele dizia oferecer os livros com a intenção de proporcionar o aumento da instrução dos jovens e, assim, houve a contribuição de outras pessoas que também realizaram doações.

O acervo atual é de 28 mil volumes, distribuídos entre livros didáticos, literários, jornais com publicações a partir de 1829 e obras raras como o jornal “Le Moniteur Universel”, que traz toda a história da Revolução Francesa. Há livros publicados nos séculos 16 e 18 que só foram catalogados em 1980.

Entre os serviços prestados pela Biblioteca, estão o empréstimo de livros e a Contação de Histórias para os alunos das redes pública e privada de ensino. Também está presente nas mídias sociais, com informações sobre publicações, inclusive recém-adquiridas, e artigos informativos, bem como eventos, dicas de leitura e obras literárias disponíveis gratuitamente para download.

Bibliotecário

José Orozimbo de Resende - pai do professor do curso de Letras da UFSJ e cronista José Antônio Oliveira de Resende - foi bibliotecário durante o período em que a Biblioteca Municipal funcionou no prédio da Prefeitura. “Ele trabalhava à tarde e à noite (até as 21 h). O meu pai era uma espécie de Google da época.”

A demanda era grande, principalmente à tarde quando era maior a frequência dos consulentes (pesquisa). À noite era marcada pela presença de leitores. José Antônio recorda as noites em que passava com a mãe pela Avenida Rui Barbosa (atual Tancredo Neves) e via o andar inferior todo iluminado, com a silhueta do seu pai e de algumas pessoas lendo.

Uma vez, nos anos 1960, a Biblioteca recebeu uma equipe de carnavalescos do Grêmio Recreativo Escola de Samba Portela do Rio de Janeiro. Eles vieram a São João del-Rei para pesquisar um tema para o samba enredo da escola. “Foram tão bem atendidos que deram uma flâmula da escola de presente para o meu pai”, conta José Antônio. “A partir desse dia, a família toda passou a torcer para a Portela.”

José Orozimbo participou da transferência da Biblioteca Pública para os fundos da casa que pertenceu a Bárbara Heliodora, próximo à igreja de São Francisco. Foi funcionário da Biblioteca Municipal durante décadas e chegou a ser o seu diretor antes de se aposentar.

Revolução francesa

A coleção do jornal francês Le Moniteur Universel - uma das raridades guardadas na Biblioteca Municipal - atraiu a visita do ex-presidente francês François Mitterrand. O fundador da Biblioteca Pública comprou os periódicos em um sebo no Rio de Janeiro e acabou levando para São João del-Rei um registro completo da Revolução Francesa. O jornal foi fundado em 1789 em Paris, França, por Charles Joseph Panckoucke.

Apesar de ter noção da importância histórica que aqueles diários possuíam, não teve noção da raridade dos mesmos. Segundo José Antônio, a coleção de São João del-Rei é uma das mais completas do mundo, sendo comparada somente às coletâneas da Bélgica e dos Estados Unidos.

O bibliotecário José Orozimbo teve contato direto com a coleção dos jornais franceses e suas histórias. Ele recebeu o ex-presidente e a ex-primeira dama Danielle Mitterrand quando buscavam pela coleção de jornais: “François ficou emocionado quando a viu, uma coisa que nem lá na França eles têm. Então, a ex-primeira dama, Danielle, pediu para levar pra França e restaurar, encadernar e depois mandar de volta para o Brasil. Não concordaram e a coleção permaneceu aqui.”

Comemorações

As comemorações, abertas ao público, acontecem no próprio casarão da Biblioteca Pública entre os dias 22 e 25 de Agosto. Haverá apresentações do Conservatório Estadual de Música e da Banda Municipal, exposição de obras raras e de trabalhos de alunos das escolas da rede municipal, além da amostra ‘Mulheres em traços: uma seleta da exposição Batom, Lápis & TPM’.

No dia 23, quarta-feira, de 8 às 12h, o curso ‘Contação de Histórias’, por Álvaro Otoni, para pedagogos e professores da rede municipal. No dia 24, quinta-feira, 9h, apresentação do Conservatório Estadual de Música, depois da ‘Contação de Histórias’, na praça, por Cláudia Isabel, também abertas ao público. Às 20h, Noite de Caldos, com apresentação do coral ‘Da Boca pra fora’, e seresta na área externa da Biblioteca.

E no dia 25 de agosto, sexta-feira, o encerramento às 20h, com coquetel de lançamento do livro da escritora são-joanense Camila Luíza Lélis ‘Mulheres em traços’ e amostra ‘Mulheres em traços: uma seleta da exposição Batom, Lápis & TPM’.

(Fontes: Orlando de Paiva Barros, superintendente de Imprensa da Prefeitura Municipal e reportagens do Jornal das Lajes)

LINKS RELACIONADOS:

Biblioteca Pública Municipal - http://www.bibliotecamunicipalsjdr.com.br/bca/index.php

Facebook - https://www.facebook.com/bibliotecasjdr

A Revolução Francesa guardada em São João del-Rei - https://www.jornaldaslajes.com.br/integra/a-revolucao-francesa-guardada-em-sao-joao-del-rei/1612

 

 

 

Comentários

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    Mais do que as efêmeras comemorações programadas, ação mais concreta em benefício da comunidade pesquisadora seria a abertura oficial e pública de debates em favor da destinação do acervo das obras raras da Biblioteca Batista Caetano de Almeida que estão em comodato com a UFSJ há quase duas décadas. Durante todo este tempo, tenho notícias? de que o formidável conjunto está apenas "depositado" na Universidade; não tenho informações de que houveram ações efetivas em favor da higienização, restauração, catalogação, organização e disponibilização do formidável conjunto de raridades. A transferência sob o título de comodato parece que resolveu apenas a questão do espaço físico para depósito das obras; infelizmente, nada mais foi feito tecnicamente em favor delas. Trata-se d'um acervo formidável, rico, valioso, que o Batista Caetano "garimpou" durante anos e que é de propriedade do povo de São João del-Rei, que mereceria estar sendo muito bem cuidado e, sobretudo, disponível para os pesquisadores. Ou não?


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