Bilinguismo e Línguas de Herança serão discutidos durante Congressos em Brasília

Coordenadora do evento internacional, professora Maria Luisa Ortiz Alvarez (UnB), fala dos seus objetivos. Professor José Antônio Oliveira (UFSJ) comenta sobre a importância da iniciativa.


Cultura

José Venâncio de Resende0

fotoProfessora Maria Luisa Ortiz, coordenadora dos congressos.

A capital do Brasil será sede, entre 15 e 17 de agosto, do I Congresso Mundial de Bilinguismo e Línguas de Herança e do I Congresso Brasileiro de Português Língua de Herança, realizados pelo Instituto de Letras e Departamento de Línguas Estrangeiras e Tradução da Universidade de Brasília (UnB). Os eventos terão como tema “Construindo pontes e diálogos entre línguas-culturas no Universo Multicultural e Multilinguístico de hoje”.

Estão previstos mesas-redondas, minicursos e comunicações livres e coordenadas (tópicos do evento), com a presença de professores de universidades brasileiras, norte-americanas e européias. Os eventos serão destinados a professores, pesquisadores e profissionais da área, tradutores e intérpretes, educadores, profissionais e comunidade surda, alunos de graduação e pós-graduação, bem como outros interessados.

O objetivo principal dos dois congressos é mostrar a importância da manutenção das línguas de herança nas diásporas e compartilhar saberes com relação à práxis dos professores que trabalham nessa área, bem como a compreensão e conscientização por parte dos pais sobre seus filhos terem a oportunidade de serem bilíngües, resume a professora Maria Luisa Ortiz Alvarez, coordenadora do evento.

Expectativas

A ideia é promover um amplo debate sobre temas relacionados às práticas sociais entre línguas, à educação Bilíngue e à manutenção das Línguas- Culturas de Herança nas diásporas, explica a comissão organizadora da qual Maria Luisa é presidente. “Discutiremos os principais desafios nesses cenários, a concepção e implementação de currículos de língua de herança e de ensino bilíngue, a seleção e/ou elaboração de materiais (recursos didáticos) e a formação de profissionais na área, assim como as políticas linguísticas e públicas que deverão impactar a práxis educacional nos diferentes ambientes onde se pratica o bilinguismo e as línguas de herança.”

“Nessa perspectiva, serão consideradas as experiências de falantes bilíngues e de falantes de herança que estejam inseridos nos diferentes contextos migratórios ou de convivência com as línguas-culturas de comunidades majoritárias ou minoritárias, as competências adquiridas nas línguas-culturas em contato, adaptando-se ou não aos novos espaços sociolinguísticos e socioculturais adotados. Pretende-se também dar visibilidade aos estudos voltados para o fenômeno de línguas em contato dentro e fora do território brasileiro.”

Os organizadores esperam que as discussões sobre políticas, experiências de práticas de bilinguismo e línguas de heranças nos diversos contextos concorrentes de línguas-culturas promovam, valorizem e internacionalizem o trabalho que as associações, instituições e comunidades realizam na divulgação e manutenção das línguas de herança no mundo. Apesar das dificuldades, esperam, ainda, incentivar e promover projetos conjuntos e outras ações concretas que ajudem aprimorar as didáticas, estratégias, recursos e práxis com relação ao ensino e aprendizagem de línguas-culturas em contato, de acordo com as realidades onde elas se manifestam e das demandas e desafios dos processos globalocais.

Socialização

É de extrema importância promover estas discussões em um congresso internacional, afirma José Antônio Oliveira de Resende, professor do Departamento de Letras, Artes e Cultura da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) e cronista do Jornal das Lajes. "É característica dos congressos a troca de ideias, o debate saudável que apara as arestas dos conceitos, as propostas de ação... Enfim, congresso é encontro. Mas congresso também é, segundo a sua etimologia latina, caminhar junto (com + gradi – proveniente de ´gradus´, que significa ´passo´). Portanto, levar a questão do bilinguismo e das línguas de herança para um congresso é iniciativa de se delinear melhor os conceitos e de se propor ações conjuntas que façam a diferença."

José Antônio destaca a necessidade de se pensar "a natureza social da língua, não somente para promover a comunicação dos falantes de uma mesma comunidade, mas também num sentido mais amplo de comunicação: o conhecimento e o diálogo entre as diferentes línguas promovendo uma socialização mais rica e mais comprometida com os seus possíveis desdobramentos."

O professor da UFSJ lembra que "Cada cultura é um recorte idiossincrático da realidade. A interação entre tais recortes pode se traduzir numa visão de mundo mais plena e pródiga de criações cada vez mais significativas. Por outro lado, a abordagem das línguas de herança aponta para um comprometimento reflexivo e crítico com as raízes culturais de cada povo e em que as diferentes culturas podem contribuir umas com as outras. Manutenção e interação... história e discurso... tudo isso construindo uma tessitura firme para o conhecimento linguístico e cultural."

José Antônio trabalha no universo do bilinguismo, ao participar do Programa Flagship (parceria entre a Universidade da Geórgia/EUA e UFSJ/Brasil). "No entanto, há algumas especificidades. Preparo esses alunos para uma prova. Logo, meu foco de trabalho é mais voltado para duas dimensões: a estrutural e a pragmática."

"O Programa Flagship, ao preparar tais alunos, não se concentra apenas no ensino da gramática da língua portuguesa. Também há um rico trabalho de inserção dos alunos em situações nas quais eles interagem com a cultura brasileira, tanto em situações empíricas como em aulas específicas sobre a cultura brasileira, discutindo, lendo e escrevendo. Tudo isso no intuito de fazer com que eles sejam sujeitos de suas experiências. Língua e cultura andam juntas nesse programa."

Eixos temáticos

Os eixos temáticos dos dois eventos são os seguintes: Globalização e Bilinguismo; Bilinguismo e Língua de Herança; Bilinguismo em Zonas Fronteiriças; Bilinguismo e línguas em contato; Educação intercultural e Bilinguismo; Bilinguismo e Tradução; Bilinguismo e Surdez; Bilinguismo e Cognição; Bilinguismo e Multimodalidade; Bilinguismo, Língua de herança e questões identitárias; Questões interculturais na Educação Bilíngue e no Ensino de Língua de Herança; Língua de herança: Políticas Linguísticas e Políticas Públicas; A Língua de Herança em contextos multilíngües; Práticas em ambientes de manutenção de Língua de Herança; Escolas Comunitárias de Língua de Herança nas Diásporas; Perspectivas e desafios no ensino-aprendizagem de Língua de Herança; O Português como Língua de Herança no mundo; Materiais e recursos didáticos para o ensino de Língua de Herança; e Políticas Linguísticas e Políticas públicas para a manutenção das línguas de herança nas diásporas.

Já confirmaram presença os professores Olga Kagan (Universidade da Califórnia), Marta Faircoulgh (Universidade de Houston), John Lipski (Universidade do Estado da Pensilvânia), Glaucia Silva (Universidade de Massachusetts Dartmonth), Luís Gonçalves (Universidade de Princenton), Ana Souza (Oxford Brookes University), Heloísa  Augusta de Mello (Universidade de Goiás), Maria Ceres Pereira (Universidade de Integração Latino Americana), Gilvan Müller de Oliveira (Universidade de Santa Catarina), Enilde Faulstich (UnB), Kátia de Abreu Chulata (Università degli Studi "G. d´Annunzio"), Miriam Müller Vizentini (ABEC-Associação Brasileira de Educação e Cultura de Zurique. Suíça) e Ana Lúcia Lico (Associação Brasileira de Cultura e Educação-ABRACE).  

Mais informações podem ser encontradas em: https://cmbelh2017.wordpress.com/

 

 

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