Boa dose de “amor”, o segredo de dr. Frederico na oncologia da Santa Casa de Misericórdia de São João del-Rei


José Venâncio de Resende


Dr. Frederico é responsável pela Oncologia da Santa Casa de Misericórdia de São João del-Rei (Foto José Venâncio de Resende)

É frequente ouvir referências elogiosas sobre uma palavra amável e animadora ou um gesto carinhoso e afável do doutor Frederico para com os seus pacientes no centro de tratamento oncológico “Dom Célio de Oliveira Goulart” da Santa Casa de Misericórdia de São João del-Rei. A resposta pode ser resumida numa expressão-chave: amor ao próximo. Ou mais precisamente nas palavras do próprio médico: “Eu me definiria como uma pessoa que consegue trabalhar por amor no auxílio a outras pessoas”.

Frederico de Castro Escaleira, 41 anos incompletos, é fluminense de Teresópolis. Cursou medicina no período 1996-2001 na Faculdade de Medicina da Fundação Educacional Serra dos Órgãos (FESO), da mesma cidade. Sua primeira residência foi em clínica médica, entre 2002 e 2004, no Hospital Universitário Pedro Ernesto, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).

Uma segunda residência, desta vez em cardiologia, foi iniciada em 2004 no Instituto Nacional de Cardiologia de Laranjeiras (RJ), mas doutor Frederico não terminou o curso. “Não me encontrei nesta especialidade e na metade da residência abandonei e comecei minha residência em oncologia clínica, no Instituto Nacional do Câncer do Rio de Janeiro.” Esta residência teve início em 2005 e foi concluída em janeiro de 2008.

 

São João del-Rei. Doutor Frederico casou-se em 2004, durante a segunda residência, com a são-joanense Thais Emanuelle, que desejou voltar para São João del-Rei. “Vim pela mão dela”.

Em 2007 (último ano de residência), doutor Frederico começou a viajar toda segunda-feira para São João del-Rei onde atendia pacientes de câncer na Santa Casa de Misericórdia. Ele atuava junto com a médica responsável pelo centro de tratamento oncológico à época, a doutora Tatyana Brugger. “Este foi um ano de transição entre o término da minha residência e o início da atividade como responsável técnico definitivo, o que se deu em primeiro de fevereiro de 2008”. Portanto, há 10 anos.

Durante 6 anos e meio, doutor Frederico prestou serviços para o Instituto Oncológico de Juiz de Fora, a empresa terceirizada que respondia pelo serviço de oncologia da Santa Casa. Em 15 de agosto de 2014, a convite da mesa diretora e do provedor, Altamir Zanetti, o médico assumiu a função de diretor técnico da Santa Casa de São João del-Rei.

Na nova função, doutor Frederico iria trabalhar pela melhoria da qualidade do atendimento aos pacientes, especialmente àqueles submetidos ao tratamento do câncer. Neste caso, os objetivos seriam a humanização e acolhimento ao paciente, o aumento do número de cirurgias oncológicas pelo SUS e, principalmente, a realização da licitação para a compra do aparelho de radioterapia.

 

Aquisição do aparelho. Em julho de 2014, o Ministério da Saúde repassou o montante de R$ 3,8 milhões à Santa Casa, para a aquisição do aparelho de radioterapia, relata o doutor Frederico. “A licitação, extremamente complexa (edital de 150 páginas), só foi executada em março de 2015”.

O aparelho foi adquirido de uma das duas únicas fábricas de aparelhos de radioterapia do mundo, que fica em Palo Alto, Califórnia, nos Estados Unidos, por 1,379 milhão de dólares (com o dólar valendo R$ 2,82). “Aí solicitamos ao Ministério da Saúde autorização para realizar o pagamento em dólar e pagar já uma pequena diferença na época porque o valor repassado era fixo em reais”, lembra doutor Frederico.    

“Enquanto aguardávamos a resposta do Ministério para efetuar a compra, sobreveio a crise econômica com o dólar subindo rapidamente para o patamar de R$ 4,00”, relata o médico. “Negociamos extenuamente junto ao Ministério da Saúde e à empresa... Então, pagamos com o dólar a R$ 3,74 o equivalente a 1,163 milhão de dólares”.

O mês de julho de 2016 era o prazo final para a utilização do recurso. O dilema era que, se não fosse utilizado até a data prevista, o recurso teria de ser devolvido ao Ministério da Saúde, assinala doutor Frederico. “E não poderíamos mais contar com a radioterapia na região das Vertentes”.

Nesse meio tempo, mais precisamente em maio de 2016, aconteceu um fato importante, que foi o retorno do serviço de oncologia ao controle da Santa Casa, depois de muita negociação. “Participei de extensas negociações com a empresa terceirizada do serviço”, conta o médico.

 

A campanha. A compra do aparelho de radioterapia pelo dólar mais valorizado deixou uma dívida de 216 mil dólares, que coincidiu com uma situação de crise financeira da própria Santa Casa. Em outras palavras, “não possuíamos esse recurso”, admite doutor Frederico. Era preciso fazer alguma coisa, como por exemplo “realizar uma grande campanha popular nos 15 municípios das Vertentes”, complementa doutor Frederico.

Foi então que entrou em cena um grande aliado, o diretor administrativo Adriano Teixeira, com experiência em administração hospitalar no Hospital Carmelita de Conchal e na Santa Casa de Limeira, ambos no Estado de São Paulo. “Ele propôs a criação de uma campanha de arrecadação popular e, devido ao meu trabalho como oncologista do SUS em toda a região, me convidou para representar a Santa Casa na divulgação e nos eventos da campanha”.

A campanha, entre agosto de 2016 e maio de 2017, arrecadou o valor de cerca de R$ 720 mil reais, quantia esta que completou o pagamento do aparelho. “Foram milhares de pessoas que contribuíram para o sucesso da campanha”, comemora o incansável médico.

O aparelho chegou a São João del-Rei em 31 de agosto do ano passado, conta doutor Frederico. “Para nossa grande felicidade, conseguimos realizar as obras de adequação da sala e instalar o aparelho”.

 

Duas batalhas. O serviço montado, deixando o aparelho em pleno funcionamento, ficou pronto no dia 12 de janeiro deste ano, mas ainda falta vencer duas batalhas: conseguir a fiscalização e a liberação do uso do aparelho pela Comissão Nacional de Energia Nuclear e o credenciamento do serviço pelo SUS.

“Logo após esta liberação, passaremos a atender os pacientes de forma gratuita, enquanto aguardamos a vitória final”, anuncia doutor Frederico. “O credenciamento garantirá o pleno atendimento da radioterapia, de forma permanente em toda a região”.         

Doutor Frederico acredita que sem a colaboração ou o empenho de milhares de pessoas “esse grande sonho” de melhorar o tratamento do câncer na nossa região não se estaria concretizando. “Podem estar certos que vocês ajudaram a curar ou aliviar o sofrimento com mais conforto e dignidade a milhares de pessoas”.

 

O centro. O aparelho chega no momento em que o doutor Frederico lidera uma equipe no centro de tratamento oncológico de 11 profissionais (3 médicos, uma enfermeira de nível superior, uma farmacêutica, duas técnicas de enfermagem, três funcionários administrativos e uma funcionária de apoio).

A equipe do doutor Frederico atende em média 400 pacientes por mês. O centro de tratamento oncológico da Santa Casa tem um cadastro de 3.500 pacientes (inclui aqueles que terminaram o tratamento ou que faleceram).

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