Chega ao mercado o último volume da trilogia "Escravidão", de Laurentino Gomes

O livro que abrange o período entre a Independência e a promulgação da Lei Áurea foi publicado pela Editora Globo Livros.


Cultura

José Venâncio de Resende0

fotoFoto extraída do facebook do autor.

Já está à venda o último volume da trilogia “Escravidão” do jornalista e escritor Laurentino Gomes, que compreende o período entre a Independência do Brasil e a promulgação da Lei Áurea. Foi uma década de trabalho sobre o tema “mais importante do país” e que acabou definindo o futuro da sociedade brasileira, disse o autor em entrevista à jornalista Mariana Peixoto (O Estado de Minas, 27/06/2022)*.  

As três obras, lançadas a partir de 2019, abrangem três séculos e meio da história do Brasil, o maior território escravista do hemisfério ocidental e o último a abolir a escravidão – de forma precária e improvisada, em 1888, como o novo livro mostra. Neste período, 4,9 milhões de pessoas vieram da África para o Brasil, número que corresponde a 46% dos 10,7 milhões de africanos desembarcados em cerca de 37 mil viagens de navios negreiros para o continente americano. “Desigualdade social no Brasil é sinônimo da herança da escravidão”, afirmou o autor.

Segundo Laurentino, o grande desafio para a pesquisa do terceiro volume não foi tanto o acesso à informação, mas sim ter discernimento para editar a massa enorme de informação que existe sobre o século 19. É que há “muita fonte primária, pesquisa de historiador. Mas tem pouca fonte a partir da própria população escravizada porque a maioria imensa era analfabeta. Existe um único caso de um escravo que publicou sua autobiografia, Mahommah Gardo Baquaqua, a quem dedico um capítulo (‘A testemunha’)”. 

Às vésperas das comemorações do bicentenário da Independência, é oportuno ressaltar a passagem em que autor fala da grande contradição que a abolição representou para o império brasileiro. “Na Independência, em 1822, se estabelece um pacto entre a monarquia e a aristocracia rural escravista. Uma apoia a outra e uma não mexe nos interesses da outra. Esse pacto explica porque D. Pedro I dissolveu a constituinte convocada em 1822, 1823, e outorgou uma constituição nova, por conta própria, num gesto autoritário (em 1824).”

José Bonifácio, o homem forte de D. Pedro I, “iria apresentar um projeto para constituinte acabando com o tráfico e, gradualmente, com a própria escravidão. E houve uma reação violenta da aristocracia rural escravista. Esse império recebeu apoio político e financeiro dos senhores de engenho, dos barões de café, dos fazendeiros, e em troca deu títulos de nobreza”.

O terceiro e último volume da série é uma profusão imperdível de informações, de análises e de bom texto para quem quer entender o Brasil como ele é hoje, observa o jornalista Celso Ming (O Estado de S. Paulo, 29/06/2022)**. “Apesar da crescente campanha abolicionista, transparece no livro o grave defeito da administração pública que vai se perpetuando no Brasil: o da improvisação. Nada se prepara, as coisas vão acontecendo, por mais sérias consequências que acarretem. A Lei Áurea caiu da árvore como fruta apodrecida. Nem o imperador nem as elites dominantes se prepararam para o que veio depois.” Para ele, “tem muito mais nesse texto que, além do conhecimento, desperta emoções”. 

“Hoje, não consigo olhar o Brasil sem colocar a questão racial e a desigualdade social no primeiro plano das minhas análises”, resumiu Laurentino que. A partir da Bienal do Livro de São Paulo (2 a 10 de julho), o autor inicia uma turnê de lançamento que vai percorrer, durante dois meses, nove estados.

* Laurentino Gomes lança epílogo de sua trilogia sobre a escravidão no Brasil  

** Escravidão: durante e depois 

 

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