Coleta seletiva: questão de prioridade


Editorial

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Esta edição do Jornal das Lajes já estava sendo concluída quando a população de Resende Costa foi surpreendida, na manhã do dia 12 de agosto, com a triste notícia do acidente que vitimou o jovem Michael Mateus Gouveia, de 21 anos, integrante do programa Coleta Seletiva. Michael morreu enquanto trabalhava no caminhão que recolhia o material que iria para a reciclagem.

Uma reportagem especial sobre o programa Coleta Seletiva, no qual Michael trabalhava há aproximadamente um mês, tinha sido escolhida para ser um dos temas de destaque desta edição. Mas, o trágico e lamentável acidente despertou a incerteza quanto ao futuro do projeto. E para fechar a edição, era necessário decidir se manteríamos o projeto como destaque no jornal, uma vez que ele pode ser interrompido ou até mesmo extinto, conforme informações que obtivemos de fontes não oficiais. A decisão do JL foi manter a reportagem e, mais ainda, destacar a importância do programa Coleta Seletiva de Resende Costa, que tem beneficiado inúmeras famílias em situação de vulnerabilidade social, além de contribuir com o meio ambiente.

Criado em 2010 sob a coordenação da Assistência Social do município, o projeto conta com a participação de seis pessoas, sendo que três são presidiários da comarca local escolhidos pelo juiz de Direito, Donizetti Nogueira Ramos, para prestarem serviços. Todavia, manter a coleta seletiva não tem sido uma tarefa fácil para os coordenadores. Dois dias antes do fatídico acidente que levou à morte o jovem Michael, o JL obteve informações de que algumas sucatas haviam sido furtadas do galpão do Parque de Exposições - local disponibilizado pela Prefeitura Municipal para os trabalhos da coleta seletiva.

O furto relatado por uma pessoa ligada ao projeto chama a atenção para um problema: o Parque de Exposições não é local adequado para sediar a coleta seletiva. Os galpões utilizados são abertos, não há banheiro para os funcionários e quando há evento de grande porte no local é necessário transferir todo o material e o trabalho para o antigo matadouro desativado, localizado no bairro Tijuco. Um transtorno que se amplia quando pensamos nas condições de trabalho dos integrantes do projeto.

Outra dificuldade tem sido a ainda tímida colaboração da população. Nem todas as residências da cidade separam o lixo que será descartado dos resíduos que poderão ser reciclados. Por outro lado, falta mais divulgação e orientação. Pessoas ouvidas pelo JL reclamam que não sabem quando o caminhão da coleta seletiva irá passar para recolher o lixo separado. A coordenação do programa obteve a promessa da prefeitura de que o caminhão da coleta sairá todos os dias, juntamente com o caminhão do lixo.

O objetivo da coleta seletiva é garantir benefícios sociais e ambientais para Resende Costa, tanto que o juiz da comarca, Donizetti Ramos, um incentivador do programa, pretende colocar mais detentos para trabalhar. Em entrevista ao JL, ele destacou os benefícios do projeto e acredita que “se a comunidade aderir e colaborar, Resende Costa poderá ser referência na coleta seletiva”. Mas, para que isso de fato aconteça, o poder público precisa investir no aprimoramento do projeto, oferecendo mais segurança e melhores condições de trabalho aos integrantes.

A morte do jovem Michael, que encontrou no programa Coleta Seletiva uma oportunidade digna de trabalho, jamais será esquecida. Ele será exemplo de luta e perseverança por uma vida melhor. Porém, o lamentável acidente não pode colocar fim a um projeto que tem trazido tantos benefícios a Resende Costa. Se bem gerenciado e contando com o efetivo apoio do poder público, a coleta seletiva poderá trazer ainda mais benefícios sociais e ambientais ao município.

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