Coro e Orquestra Mater Dei realiza concerto de fim de ano em Resende Costa

Uma experiência vivida. Tributo e oração ao Deus cantor


Cultura

André Eustáquio - Fotos: Valéria e Pedro0

Coro e Orquestra Mater Dei realizou concerto de Natal na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Penha, de Resende Costa.

O Coro e Orquestra Mater Dei realizou nesta sexta-feira 23, um concerto especial de fim de ano, na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Penha de França, em Resende

O Coro e Orquestra Mater Dei realizou no dia 23 de dezembro último um concerto especial de fim de ano na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Penha de França, em Resende Costa. O concerto, regido pelo maestro titular da orquestra, Wagner Barbosa, integrou a programação dos “Concertos de Fim de Ano”, uma realização da Prefeitura Municipal com apoio da Paróquia de Nossa Senhora da Penha de França.

O repórter que escreve esta matéria é também integrante do Coro e Orquestra Mater Dei, portanto, achou-se numa situação (e localização) privilegiada para ao mesmo tempo participar e observar o concerto. Será que é possível separar as duas coisas?

Na sacristia da igreja a espera pela hora exata do início do concerto causava em nós uma mistura de tensão, alegria e ansiedade. Afinal, não se tratava de mais uma participação rotineira em uma celebração litúrgica – missão que o Mater Dei vem desempenhando em Resende Costa desde meados do final do século XIX e início do XX, mantendo as riquíssimas tradições musicais resende-costenses  – mas uma apresentação em forma de concerto. As coisas mudam. A expectativa é outra.

As 20:30h chegou enfim o tão esperado momento. A orquestra - formada por músicos de Resende Costa e convidados de outras cidades da região, como São João del-Rei, Prados e Coronel Xavier Chaves - já ocupava boa parte do presbitério da igreja quando o coro se posicionou para o início do concerto. Fiquei junto com meus companheiros do naipe de baixos, de onde tinha uma visão privilegiada do maestro Wagner, da orquestra, dos solistas e do público.

Um olho na partitura e outro nos gestos do maestro. Foi seguindo essa fórmula que permite-nos entender cada passo e intenção da música descrita nas partituras, que surgiu num lapso do meu pensamento, naquele momento exclusivamente ocupado pela música, a seguinte inquietação: afinal, quem é o homenageado daquela noite musical? Ou numa elaboração mais direta: quem é o Deus Menino, razão de todas as nossas homenagens?

Pergunta difícil de ser respondida se usarmos como única fonte de argumento o artifício humano da razão. Porém, tal entendimento pode ser simplificado quando procuramos auxílio nas notas musicais. A música, através de sua linguagem subjetiva e universal, tem o poder de nos levar e elevar aonde a razão encontra seu limite. Limite demasiadamente humano. Mas naquela noite não estávamos falando sobre o homem e sua limitada razão. Falávamos de Deus e do infinito através de nossas vozes e instrumentos musicais.

No vasto simbolismo da linguagem musical o maestro é como um sacerdote que conduz os fieis a experienciar o sagrado mistério que se revela nas notas musicais. Contudo, na experiência sensível do ouvinte, a música fala por si mesma, já não mais necessita de mediadores, nem tampouco de compreensão. Basta apenas a fruição tal como em um momento íntimo de oração.

Enquanto apresentávamos o repertório escolhido especialmente para o concerto, fui vivenciando o mistério de Deus oculto nas pautas musicais. Lá estava Ele, o Deus Escondido (Isaías 45, 15) que aos poucos foi se revelando em sua majestade e glória nos acordes da flauta de Ana Alves executando o solo do belíssimo Tota Pulchra, hino de louvor a Maria; nos vibratos dos violinos e nas belas vozes dos cantores solistas Glória Lara, Fernanda Sousa e Lucas Lara. Percebi quanto Deus é simples e pode conversar conosco por intermédio da singeleza do belo que toca a alma e eleva nossos espíritos.

Este Deus vem encantando há 75 anos a soprano Filomena Resende que, aos 86 não perde um ensaio e encontra na música uma de suas grandes e verdadeiras paixões. O concerto de Natal do Mater Dei foi dedicado também à “Filó”, como carinhosamente todos nós a chamamos, em comemoração às suas bodas de diamante na orquestra. Filó é exemplo e incentivo para todos nós.

A segunda e última parte do concerto, dedicada às músicas natalinas, nos convidou a um profundo momento de intimidade com Deus. Ao som de Noite Feliz, os olhos inquietos quiseram se voltar ao presépio montado no fundo da igreja para contemplar com os sentidos – onde age a música - a festa que os anjos fizeram na noite gloriosa e encantada de Belém.

Foi assim, cantando e encantando, que o Coro e Orquestra Mater Dei celebrou o Natal em Resende Costa. E foi assim que encontrei respostas para a minha inquietação do início do concerto e do início deste texto, concordando com o grande padre Zezinho em uma de suas maravilhosas composições, Canção ao Deus Cantor: “Se Deus existe Ele é amor. Se Deus existe Ele é cantor”.

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